Capítulo 17

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— Estou muito preocupada com Nunew.
Ele estava terminando de retirar a neve acumulada na frente da casa.
— Por quê?
— Faz quase uma hora que liguei para o apartamento dele. Ninguém atendeu, e ele não chegou até agora... Será que ele teve problemas com o carro?
— Acho difícil porque a neve já foi removida das ruas principais. Talvez ele e Hunter tenham parado em algum lugar antes de virem para cá.

Naquele momento, o carro de Hunter virou a esquina. Apple apontou para a rua.
— Oh, veja, eles chegaram. Graças a Deus!

Hunter estacionou o veículo. Pa e sua esposa correram para cumprimentá-los.
— Onde está Nunew? — Pa perguntou ao ver Hunter sozinho.
— Ele não está aqui?
— Não — disse Apple. — Vocês não vinham juntos?
— Bem, eu passei pelo apartamento dele e como o Mercedes não estava no
estacionamento, imaginei que ele já tivesse vindo. Desde ontem estou tentando telefonar,
mas ele não atendeu nem em casa nem no carro.
— Ele ainda não chegou — Pa repetiu. — Você subiu até o apartamento dele?
— Não. O carro não estava no estacionamento, então, decidi vir direto para cá.
Pa e Apple entreolharam-se.
— Estamos preocupados — Apple murmurou.
— Não precisam ficar tão preocupados — Hunter tentou tranqüilizá-los. — Nunew sabe cuidar-se muito bem. Quem sabe não resolveu passar na imobiliária antes de vir?

Pa olhou enviesado para Hunter, mas preferiu não responder. Entraram em casa e Pa ligou o computador para enviar uma mensagem a Nunew.
Nunew, se você estiver aí, por favor, responda. Se estiver doente, avise-nos. Se o problema for com o carro, mande-nos uma mensagem.

Apple serviu café e muffins quentinhos com geléia feita em casa. Impaciente, Pa  não esperou Hunter terminar seu café e pegou as chaves do carro.
—Vamos procurá-lo, Hunter. —E acariciando o rosto da esposa, assegurou: — Não
se preocupe querida, nós vamos encontrá-lo.

Parada na calçada, Apple esperou o carro do marido virar a esquina antes de entrar em casa e ligar novamente para o filho.

Pa seguiu direto para o apartamento de Nunew Ao constatar que o carro realmente
não estava no estacionamento, ele subiu e bateu na porta. Esperou alguns segundos e não obteve resposta.
Sem hesitar, procurou o zelador e insistiu para que ele abrisse a porta do apartamento de Nunew. A princípio, o homem recusou-se, mas Pa sabia ser convincente quando queria. Por fim, ainda que relutante, o zelador acabou usando sua chave-mestra.

Hunter discordou e tentou impedi-lo.
— Não acho certo... Você está invadindo a privacidade de Nunew.
— Bobagem! — Pa exclamou secamente. — Trata-se de uma emergência.
Pa percorreu todos os aposentos do apartamento e encontrou tudo absolutamente em ordem. Nem a bolsa e a inseparável pasta de executiva estavam à vista.

— Ele não está mesmo — Pa falou em voz baixa.
— Por que não liga para sua casa? Aposto como Nunew já está lá, tomando café com Apple!

De novo, Pa preferiu não responder. Às vezes, Hunter conseguia ser insuportavelmente irritante.
Depois de se certificar de que a porta do apartamento estava bem fechada, Pa agradeceu ao porteiro e voltou ao carro. Sem comentar nada com Hunter, seguiu em direção à imobiliária. Nunew era responsável demais e colocava o trabalho em primeiro lugar. Não estranharia se encontrasse o filho trabalhando em pleno dia de Natal!

No estacionamento da imobiliária, havia um único carro totalmente encoberto pela neve. Ansioso, Pa estacionou e desceu. Passou a mão no capo para tirar a neve acumulada e bastaram alguns centímetros para certificar-se de que era o Mercedes prateado do filho.
Agora, estava preocupado de verdade. Até mesmo Hunter começava a ficar apreensivo, mas ainda assim, tentou contornar a tensão.

— Deve haver uma explicação lógica para tudo isto — disse ele.
Pa ignorou-o. Voltaram em silêncio e, assim que chegaram em casa, Pa telefonou para Max Robin.
— Max, aqui é o pai do Nunew. Ele não voltou para casa e vi que o carro dele está no estacionamento da imobiliária. Você sabe onde ele está? Você tem falado com ele?
— Não, Pa. A última vez que a vi foi anteontem. Nunew levou um cliente para ver uma casa à beira do lago Berdwoo... A casa que a amiga dela colocou à venda... Judy... sim, é esse o nome da amiga. Espere... Agora estou me lembrando... eles foram no carro do cliente.

— Droga! Eles devem ter ficado retidos por conta da neve. A nevasca foi pior ao
norte — Pa declarou. — Quem é o cliente? Você o conhece?
— Sim, eu o conheço pessoalmente. O nome dele é Zee Pruk, instrutor de
mergulho e capitão do Corpo de Bombeiros. Em uma situação de emergência, Nunew não poderia estar em melhores mãos.
-  Graças a Deus por isso. Onde fica essa propriedade, Max?
— Eu não sei exatamente, mas tenho todas as informações nos arquivos da imobiliária. Eu o encontrarei lá em dez minutos. Está bem assim? Vou tentar falar com Judy primeiro. Se eu não conseguir, ligarei novamente para você. Provavelmente, seus filhos ainda nem abriram os presentes!
— Você está brincando! Eles estão acordados desde as seis da manhã! — Uma breve pausa. — Ouça Pa, se precisar de mim, telefone a qualquer hora.
— Obrigado, Max. Feliz Natal.
Ao ouvir o nome de Judy, Apple apressou-se em procurar o número de seu telefone. Pa então telefonou para Detroit. Enquanto ele ouvia as indicações de Judy para chegar à casa do lago, Apple rezava silenciosamente para que seu filho estivesse a salvo. Assim que desligou o telefone, Pa anunciou:

— Estou indo para Ludington.
Hunter fez um gesto negativo com a cabeça.
— Desculpe Pa, mas não acho uma boa ideia. —ele ponderou.

— Seria melhor avisarmos à polícia.
— A polícia só registra queixa depois de setenta e duas horas do desaparecimento da pessoa.
— A Polícia Rodoviária, então. Eles têm registro dos acidentes nas rodovias e podem verificar nos hospitais.
— A sugestão é válida, mas, mesmo assim, vou até Ludington.
— Pa insistiu. — Vou encontrar essa casa.
— Deixe que os policiais especializados façam isso, Pa — Hunter ainda
argumentou. — É arriscado demais sair nessas condições. Você pode sofrer um acidente
ou perder-se no caminho, e isso só agravaria o problema.

Apple lançou a Hunter um olhar de reprovação, mesmo reconhecendo que ele
estava certo. Se ele conhecesse bem o futuro sogro, teria poupado o fôlego e as palavras.

Nada deteria Pa, porque ele não era homem de esperar as coisas acontecerem.
Se Nunew precisava ser resgatado, as primeiras providências seriam tomadas pelo pai dele!

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