Capítulo 14

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Zee teve a precaução de levar o machado para o lago. A temperatura caíra ainda mais, e a camada de gelo estava mais espessa. Ainda nevava, e a paisagem estava toda pintada de branco. 

Já eram quase dez horas da manhã, e ele duvidava de que teriam condições para voltarem à cidade naquele dia. Parecia que a neve nunca mais derreteria.

Seguiu o barbante a partir da árvore, atento para não pisar no lago congelado.

Abriu o buraco e sentiu-se gratificado ao ver dois peixes presos nos anzóis. Retirou-os, jogou novas iscas no lago e voltou para casa.

Nunew ainda estava sentada na frente da lareira.Segurando os peixes pela boca, Zee ergueu-os no ar como troféus.
— Olhe o que eu trouxe para o nosso almoço! — Nunew se levantou.
— Você é mágico mesmo, Zee Pruk! — ele exclamou, cada vez mais encantado com as habilidades dele.

Zee caminhou para a cozinha, e Nunew seguiu-o. Sem hesitação, ele escolheu uma faca apropriada, lavou os peixes, colocou-os sobre a tábua de cortar carnes e começou a limpá-los e cortá-los em filés.

Nunew o observava fascinado. Realmente, Zee Pruk estava preparado para sobreviver em qualquer circunstância e em qualquer lugar do mundo. Nada parecia abalá-lo, ele pensava em tudo e resolvia tudo com presteza. O homem que se casasse com ele...

Nunew balançou a cabeça para afastar os pensamentos tolos e inconvenientes. A voz dele ajudou a espantá-los.

— Agora vou seguir seu conselho. —disse ele, lavando as mãos.
— Vou subir e deliciar-me com aquele banho gelado.
— Se você não se importar, eu gostaria de temperar o peixe.
— Fique à vontade! Tempero é o que não nos falta! — ele brincou, saindo da cozinha.

Assim que ele se afastou, Nunew ocupou-se com os potes de ervas. Realmente, era um luxo muito grande contarem com tantos condimentos naquelas condições.

Zee também demorou apenas alguns minutos no banho. Assim que ele entrou na cozinha, Nunew notou que seus cabelos ficavam encaracolados quando úmidos caindo diante seus olhos.
Ele não se barbeara, e a sombra azulada da barba despontando no queixo acentuava ainda mais sua latente masculinidade. Com esforço, Nunew desviou o olhar.
— Eu ainda não temperei os filés, mas separei algumas ervas — comentou ele, concentrando-se nos potes de condimentos. — Você aprova minha escolha?

Ele leu os rótulos dos potes: manjericão, chimichurri e páprica picante.

— Perfeito! — ele declarou. — Quer que eu tempere?
— Não, deixe comigo!

Depois de temperados, Zee embrulhou-os em papel alumínio e levou-os ao fogo da lareira.

Enquanto esperavam sentados no sofá, conversaram amistosamente sobre amenidades. Sutilmente, ambos evitavam entrar no campo pessoal. O aroma das ervas começou a pairar no ar, e só então, ambos se deram por conta de como estavam famintos.
— Você está sentindo o cheirinho? — Nunew revirou os olhos.
— Uau, estou babando!
Os olhos de Zee detiveram-se nos lábios dele.
— Eu também! — admitiu ele com um sorriso malicioso.

O olhar eloquente de Nunew revelava que ele entendera perfeitamente o significado oculto das palavras dele. Zee sorriu, e eles continuaram esperando o peixe ficar pronto, só que agora em silêncio. De repente, um leve cheiro de queimado, e ambos correram para a lareira ao mesmo tempo.

Nunew apressou-se em puxar o papel alumínio do fogo, mas queimou os dedos. Com um grito, jogou-o nas mãos calejadas de Zee. Zee colocou-o no chão e segurou as mãos de Nunew. O rosto dele revelava preocupação e muita ternura.
— Eu não me queimei — ele o tranquilizou. — Foi apenas o susto. — Pelo menos ainda não me queimei acrescentou silenciosamente, sentindo o calor que emanava dele, penetrando em sua pele e subindo pelos braços.
Zee soltou-lhe as mãos, mas não o coração.

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