31 - A Ordem

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[01/02/2020]

Embora ninguém soubesse exatamente o que havia acontecido, toda a equipe médica daquele grande hospital, assim como as autoridades de Tóquio estavam comovidas: um garotinho de apenas sete anos fora deixado naquele lugar em estado grave; sem consciência e com todo seu corpo coberto por hematomas e machucados, as manchas vermelhas já pareciam até mesmo fazer parte de sua pele e roupas.

Seu estado era deplorável; não apenas físico, mas também mental. Embora fizessem perguntas, ele não respondia. Parecia que algo havia comido suas cordas vocais embora as mesmas estivessem intactas. E mesmo que a polícia que cuidava de casos de menores de idade tivesse sido alarmada, ninguém encontrara a identidade daquele menino, muito menos sua família ou amigos. Não havia nada sobre ele, nem mesmo suas digitais eram encontradas no sistema de pessoas físicas do Japão.

Contando com o fato de que a criança não parecia ser estrangeira, tanto as autoridades quanto a assistência social entraram em um acordo: o menino fora escondido da vida real e maltratado por todo esse tempo, não sendo registrado nem mesmo em uma certidão de nascimento. Ele oficialmente não tinha uma família, nem mesmo uma identidade. Com isso, as autoridades buscaram famílias nas proximidades que tivessem traços semelhantes aos do menino.

Após tanta busca, um rapaz da Assistência Social que estava junto do caso, foi mandado para o hospital onde o menino havia sido internado.

– Com licença – disse, enquanto abria a porta do quarto do garotinho – Meu nome é Kye. Posso entrar? – Sorriu carinhosamente.

O estado do menino fora de cortar o coração. Embora estivesse agora com roupas hospitalares limpas e seus ferimentos cuidados e com curativos, fora visível o estado mental que o menino ruivo se encontrava. Seus olhos vermelhos que deveriam carregar toda a alegria e esperança que normalmente encontramos em olhos de crianças, estavam agora nublados com uma nuvem espessa, tomados por uma escuridão que Kye nem mesmo conhecia até aquele momento. Ambos estavam fundos, acompanhados de fortes olheiras, seu rosto pálido não emitia emoção e nem mesmo carregava expressão alguma.

O menino não respondeu, e o rapaz entrou no cômodo ignorando o silêncio, logo puxando uma cadeira que estava próxima e se sentando ao lado da maca do menino.

– Gosta de doces? Trouxe um pirulito – não houve resposta – o deixarei aqui na mesa decanto, ok? – sorriu mais uma vez, tentando parecer simpático.

O rapaz aguardou alguma resposta ou qualquer reação que fosse, mas continuou com o frio silêncio importuno enquanto o garoto mantinha seu par de olhos vermelhos vidrados em seu próprio reflexo no vidro daquela janela.

Seu quarto era no décimo andar do hospital, tal altura que o permitia ter uma bela vista daquela cidade. Ele não estava mais em um porão, e nem mesmo naquela cidade pequena que vivia, mas sim em Tóquio, uma das cidades mais movimentadas e ricas do Japão. Mas seus olhos tomados por um vácuo cruel, continuavam a encarar a si mesmo como quem visse um fantasma.

– Sou da Assistência Social. Vim falar com você, pois precisamos conversar sobre o seu futuro – começou ele, decidindo ser direto e claro – Este é seu pai?

O rapaz ergueu uma foto de um homem de cabelos negros.

Vendo a imagem através do reflexo da janela, os olhos do menino quase saltaram. Ele finalmente se virou como uma onça viraria para sua presa, pregando um olhar forte sobre aquele pequeno papel fotográfico. Havia um profundo ódio ardente em seus olhos vermelhos, tal que provocou um arrepio na coluna de Kye. Aquele certamente não era um olhar de uma criança. Não, um menino de sete anos jamais teria um olhar tão penetrante, frio e insaciável.

Dominação [Vocaloid - Fukase x Oliver]Onde histórias criam vida. Descubra agora