Dominação [Vocaloid - Fukase x Oliver]

37 - Um Único Reflexo

Os olhos azuis da mulher se encheram de lágrimas de felicidade quando a mesma recebera a notícia do médico ao seu lado: "Parabéns, são gêmeos!". Embora a jovem moça não tivesse uma situação financeira boa o suficiente para cuidar de duas crianças, seu amor por seus filhos – que ela ainda não conhecia – era incondicional, podendo ser maior que qualquer dificuldade que teria em seus próximos dias.

Seus problemas financeiros certamente piorariam depois de tudo, não só pelo fato de ser uma mãe solteira, mas também pela forma cruel que a sociedade daquele país a veria. Se uma mulher sozinha cuidando de uma criança já era um problema, ter duas crianças certamente pesaria muito em seu perfil profissional. Mas sem pensar sobre isso, a senhora Kagamine deu um caloroso sorriso para o doutor que, enquanto olhava a imagem do ultrassom no monitor, mexia na barriga da mulher, examinando os pequenos bebês que estavam ali dentro.

Porém, aquela notícia se tornou preocupante quando a expressão no rosto do homem mudou. "Há dois bebês, mas... eles estão juntos" disse ele, fazendo o belo par de olhos azuis da mulher encarar aqueles monitores com ansiedade, por mais que ela não entendesse nada.

"São gêmeos siameses".

Era um caso raríssimo de acontecer. Apenas um entre cento e cinquenta casos de gêmeos idênticos em gestações, possuía aquela anomalia, causada por não conseguirem separar seus corpos antes de estarem prontos para nascer. E embora a ciência estivesse tão evoluída nos dias de hoje, as chances de ambos sobreviverem eram pequenas demais. Ainda mais vindo de uma mulher pobre que mal conseguia se sustentar, e sozinha.

Porém, havia uma esperança. Como ainda estava nos primeiros meses de gestação, o médico dissera que poderia ter a chance dos dois se separarem ainda dentro de seu útero, por mais que aquilo fosse algo tão difícil de acontecer.

Sempre que a mulher visitava o hospital para fazer os exames de rotina, seus olhos encaravam as imagens na tela enquanto aguardava aquela tão esperada notícia vinda da voz masculina do doutor. Mas as palavras que soavam aos seus ouvidos nunca eram as que ela almejava escutar. A única coisa que aquietava seu coração era poder ouvir os sons das batidas dos dois pequenos corações que estavam ali dentro. E também, durante sua rotina diária, quando ela pudera começar a sentir os movimentos daqueles dois. Eles sempre pareciam inquietos, como se soubessem o imenso risco que corriam.

Ao passar dos meses, o dia tão esperado chegou: o nascimento dos gêmeos. A mulher tentava se alegrar ao máximo, mas embora seu amor por seus dois pequeninos aquecesse seu peito, a ansiedade de vê-los daquela forma fazia seus olhos marejarem. Pois ela sabia que, embora os dois nascessem saudáveis, eles ainda teriam um risco de morte altíssimo depois. Afinal, seria impossível para ela criar gêmeos siameses uma vez que os cuidados de longa data acabariam por custar caro.

Se ela quisesse que as chances de ao menos um sobreviver fossem plausíveis, teria de aguardar até o quarto aniversário dos gêmeos, quando seus órgãos estivessem evoluídos o suficiente e seus corpos não fossem tão frágeis para aguentar a anestesia e todo o procedimento tão delicado da cirurgia de separação.

Depois das horas percorridas durante a cesárea – que ela teve de pagar com o pouco de dinheiro que tinha –, quando finalmente ela pôde ouvir o som do choro simultâneo, fora como se um fio de esperança cobrisse todo o medo que tivera até aquele dia. Com seus pequenos corpos tão frágeis, os dois possuíam os mesmos traços que sua mãe, com cabelos dourados e olhos azuis, porém, suas bochechas eram muito mais rechonchudas, e principalmente: os dois compartilhavam um mesmo torso.

Mesmo que fossem um só, seus braços se mexiam de formas diferentes, e seus choros soavam em tons diferentes. Eram duas pequenas crianças que dividiam um só torso, e um só pulmão.