2 - A gangue Manji de Tóquio

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Já ouvira que era possível esquecer a dor quando se perde em devaneios e sonhos, mas isso nunca fora tão real. Seus olhos absorviam os traços de cada um dos meninos, reconhecendo aquela cena como um livro, um sonho, um pesadelo. Seus dedos se moveram lentamente, o braço adormecido na tipoia voltou a reclamar de dor quando se dera conta da presença deles.

"É como sonhar com a realidade" pensou.

— Algum problema? — o mais alto, com o dragão na cabeça, quebrou o silêncio sem muita cordialidade. — Achamos que você tinha se machucado, Kei...

— Ah. — Baji sorriu, como se aquele gesto fosse suficiente para amenizar a indignação que o loiro parecia sentir. — Eu a encontrei num beco tentando lutar contra nove garotos sozinha. Não podia deixar ninguém bater numa mulher.

Os meninos pareciam ter tirado um peso dos ombros, pois voltaram a se mexer e respirar de forma descontraída.

— Eles saíram tão rápido que até me esqueceram por lá. — foi a vez do atrasado falar, Rukia podia não saber o nome dele, mas tinha certeza que o conhecia de algum lugar. — O que houve com o braço? — sua curiosidade e olhar lhe eram comum, assim como aquela cena.

— Ela cortou. — Baji adiantou. — Rukia, bem, você fez uma pergunta...

— Não se apresentou a ela? — novamente o mais alto voltava a falar.

De alguma forma ele parecia temer a presença dela ali, ela mesma podia sentir isso. No entanto, sua mente não conseguia deixar de achar aquele lugar e aqueles garotos completamente familiar.

— Somos uma gangue. — o loiro mais baixo completou. — A gangue Manji de Tokyo. Nunca ouviu falar?

Nunca ouvira falar e muito menos se interessava por esse tipo de assunto há dois meses, todavia, as circunstâncias tinham mudado — drasticamente — e talvez agora fosse interessante saber como uma gangue funcionava. Ela apenas negou com a cabeça e buscando não encarar nenhum deles de forma esquisita virou seu corpo em outra direção.

— Esse é o Mikey, — Baji passou o braço pelo pescoço do loiro com cuidado. — aqueles são Draken e Mitsuya — o loiro mais alto e o de cabelos platinados respectivamente acenaram em cumprimento. — e esses dois são Chifuyu e Tamekichi. — esses dois últimos parecia muito cordiais, apesar de um evidente olhar assustado.

— Vocês não são muito jovens para isso? — os meninos não conseguiram mostrar nada além de sorrisos. Ela estava preocupada com a idade deles mesmo depois de tentar lutar contra outros garotos mais velhos num beco?

Rukia havia crescido em Yokohama e desde sempre sua vida era considerada muito boa, — financeiramente e afetivamente — seus pais, apesar de adotivos, não tinha motivos para demonstrar antipatia por ela. Era boa filha, boa aluna e uma garota muito responsável, no entanto, as coisas começaram a mudar quando sua mãe descobriu a gravidez — a adoção havia sido uma opção justamente porque consideravam isso ser impossível. Desde a chegada do bebê as coisas pareciam piorar apenas para Rukia, não havia mais o mesmo amor e a mesma admiração, seus pais a consideravam estranha demais para se manter em sua família.

Há dois meses, quando chegara em casa, sua chave não girou na maçaneta e quando tentou chamar por seus pais uma mulher mais velha atendeu, explicou que comprara a casa e as coisas dela estavam dentro de uma mochila perto da caixa de correio e tudo que ela podia fazer era esquecer e viver a própria vida longe dos pais adotivos. Fora adotada com três anos, ela não tinha ideia de como viveria sozinha com apenas quinze, ser abandonada daquela maneira doeu como mil facas em seu coração.

Fazia parte do clube de enfermagem em sua antiga escola e sempre ouvira que suas mãos eram leves, macias, quase imperceptíveis, começou usar isso para roubar o necessário para sobreviver. Viajou até Tóquio para que ninguém a pudesse reconhecer e começou a morar na rua, os primeiros dias foram medonhos, não conseguia dormir e mal comia, no entanto, superara isso ao lado de um fiel companheiro que também havia sido abandonado, seu gatinho de estimação. Encontrou semanas depois um prédio abandonado na qual podia ficar e dormir em segurança, roubava apenas o necessário e procurava fazer apenas uma refeição por dia. Horas antes de se ver encurralada naquele beco ela tinha saído em busca de um pouco de ração para seu animalzinho.

Rosa Negra - Tokyo Revengers (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora