14 - Vislumbre do mal

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Era ano novo, ou pelo menos, a manhã do último dia do ano, ela encarava o espelho entre as respirações, o olhar fundo, as olheiras denunciavam que não conseguia dormir há dias, envolvida toda noite por um sonho terrível com Emma. Não falara disso com ninguém, nem mesmo com Baji ou Mikey, notara que nunca mais sonhara com Baji desde a batalha contra a Valhalla, quando impedira que ele fosse ferido por Kazutora, convencia-se de que faria o mesmo com Emma, a salvaria quando chegasse a hora.

Seus olhos fecharam lentamente, as mãos agarradas a pia mantinham seu corpo em pé, mas fechar os olhos era como adormecer, o sangue da loira escorrendo pela boca a fez arfar, seu corpo foi tomado por uma onda de medo que fez seu corpo tremer. Havia emergido na visão, quando voltara a abrir os olhos o mundo pareceu girar mais rápido, sua barriga bateu contra a pia e numa tentativa de esquecer o que vira a menina socou o espelho a sua frente. Seu reflexo se partiu, os cacos começaram a cair assim que sua mão recuara, a dor era como uma corrente que a prenderia longe daquele sonho cruel.

— Rtin! — a voz de Mikey a sobressaltou, olhando o espelho pôde notar que seu sangue estava ali. — Está vestida? Posso entrar? Draken está aqui comigo.

Uma gota manchou o chão, espalhando-se entre o rejunte do piso e sua superfície, tão vermelho quanto seus olhos refletidos no resto de espelho.

— Rukia... — a voz de Draken era mais pesada, a porta se abriu logo em seguida, dando passagem para os dois loiros entrar.

Ela ainda vestia o pijama, sequer havia começado a higiene matinal, o loiro mais velho a rodeou empurrando-a para fora com certa cautela, o sangue pingava uniforme conforme os passos que dava para a parte mais quente do quarto.

— Podemos treinar se estiver com raiva. — Draken segurou seu pulso com certa rispidez, ela não conseguia levantar os olhos para encará-lo naquele momento. — Há alguns cacos, vamos te levar ao hospital.

— Posso resolver isso sozinha.

— Você mal dormiu, está irritada por isso? — a pergunta do loiro mais baixo a fez suspirar, queria ignorá-lo o quanto pudesse, mas sabia que ele não demoraria muito a começar uma briga por isso. — Isso é o que chamam de menstruação?

— Para de provocar a menina. — Draken advertiu, com a perna trouxe a caixa de primeiros socorros para perto, Rtin retirou alguns objetos e frascos de dentro e se sentou na cama. — Que péssimo namorado você é.

Mikey expressou desgosto com o comentário do amigo e começou a observar o que ela fazia. Com um algodão ela quebrou uma ampola e despejou o líquido sobre o machucado, pela expressão que fazia não devia doer, e em seguida, mergulhou uma pinça de sutura no álcool e começou a tirar os cacos de espelho que sobrara no ferimento. Ela limpou e estancou o sangue, os cortes não eram tão profundos para dar ponto, então apenas fez um curativo envolto pelos dedos e a mão.

Emma encarava a amiga trocando de roupa com certa ousadia, Rukia era um pouco mais alta que ela, as pernas começavam a mostrar o esforço nos treinos, assim como os braços, mas os seios pequenos e redondos deixavam a loira um pouco pensativa, eram completamente diferente dos que ela tinha. Isso a fazia lembrar da vez que tentou perder a virgindade com Takemichi, a garota não conseguiu conter a risada ao pensar nisso.

— Eu sei que meios seios são pequenos, não precisa rir disso. — Rtin mostrou uma expressão de choro.

— Ah? Não! Eu estava pensando em outra coisa. — as mãos de Emma abanaram de forma negativa. — Seus seios são lindos, como faz para deixá-los tão redondos?

Rukia olhou o próprio reflexo no espelho do quarto, seus lábios se comprimiram tentando evitar dizer algum palavrão.

— Não sei... como fez para os seus crescerem? — foi a fez de Emma fazer cara de decepção.

A morena voltou a se vestir depois que Emma explicou do que ria, ela nunca tinha pensado em algo tão extremo como a amiga, perder a virgindade com um amigo do cara que ela gostava para provar que era mais madura? Problemático.

— Se o Mikey não te achasse madura o suficiente para ser namorada dele teria feito o mesmo... — Emma cruzou os braços um pouco chateada.

— Eu acho que não transaria com outro por causa disso, talvez chamasse ele de babaca. — a morena se olhou no espelho uma última vez, mais contente do que estava quando acordou.

Ela usava roupas combinando com Emma e fariam isso mais tarde durante o festival. Talvez aconselhar a loira sobre o que Draken poderia pensar a ajudasse a chegar a algo com o loiro, afinal, embora quisesse negar, ele era apaixonado pela irmã do melhor amigo, era visível na forma como olhava e protegia ela. No entanto, Rukia sabia que o que o loiro queria era proteger Emma, assim como tentara fazer com ela, mesmo que os métodos não fosse dos melhores.

[...]

As mãos de Hanagaki tremeram, os olhos já transbordavam quando sentira o corpo de Mikey descansar em seu colo, pesado, sem vida. Seu grito ecoou pelo galpão, tão alto que Naoto pôde sentir a dor que o amigo transparecia com ele. Tudo tinha dado errado outra vez.

Suas lembranças ainda eram confusas, havia deixado todos no passado, depois daquele maravilhoso final de ano, salvara a vida de Taiju e com isso impedira que Hakkai tivesse se tornado o líder da Black Drago, descartando qualquer chantagem que Kisaki pudesse fazer com o amigo de cabelos azuis. No entanto, algo havia dado errado novamente, Baji e Rtin ainda assim haviam sido assassinados, os fundadores da Toman tinham sido executados pelo próprio Mikey, como se o comandante nunca tivesse se importado com o que seus amigos sentiam. E só estava vivo até tal momento por um pedido de Draken e Mitsuya.

[...]

Os dias do novo ano começaram a ser remotos, Rukia pediu transferência para a escola que Emma estudava na tentativa de ficar mais próxima da amiga, não só por gostar muito da loira, mas também porque precisava garantir que ela estivesse sempre em sua visão. Iam e vinham da escola, a tarde a morena treinava no dojô com os meninos e dias ou outros tinham reuniões que ela precisava comparecer.

Era domingo de manhã quando seu celular começou a piscar, ainda não tinha saído de casa naquele dia, mas pela mensagem que recebera membros de outras gangues estavam atacando o pessoal da Toman. Ela se levantou da cama com cuidado e abriu a porta do quarto, Draken e Mikey estavam lá fora, vestidos com o uniforme da gangue.

— Onde vão? — a mais nova questionou, sendo interrompida pelos roncos da moto de Baji. — Estão planejando atacá-los? E não me avisaram?

Baji entrou na casa em passos rápidos, também uniformizado.

— Vamos fazer uma reunião com os capitães. — Mikey explicou, o olhar estava sério e vago. — Não te chamei porque você ainda não dorme direito, achei que merecesse descansar.

— E você não é uma capitã. — Draken lembrou. — Depois o Baji te passa todos os detalhes, não precisa se preocupar.

Apesar de saber que ele falava a verdade, alguma coisa a incomodava, se a Toman havia sido atacada por uma outra gangue, essa gangue não era de Tóquio, além do mais, Mikey não deixaria os membros desamparados em relação a isso. Talvez a reunião dos capitães fosse o estopim para uma nova disputa, uma nova guerra. 

Rosa Negra - Tokyo Revengers (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora