20 - Chore

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Rukia juntou as mãos nas de Baji, as suas mal conseguiam esconder as do irmão, no entanto, o ato era mais um carinho do que uma necessidade de se mostrar maior, Takemichi descansava na cama do hospital, o braço engessado, quebrado, o rosto machucado, roxo, inchado, dormia há dias desde que tinha sido espancado por Mikey. Ele havia sido corajoso, diferente de Manjiro, diferente dos membros de qualquer uma das três gangues, havia suportado demais.

Conforme as horas passavam, algo parecia morrer dentro de todo mundo, a morte de Draken havia deixado cada coração cheio de dor — principalmente Emma e Takashi — e mesmo que tentassem entender, falhavam. Hanagaki havia lutado sozinho por todo esse tempo para evitar o pior, ajudando todos seus amigos para que pudesse ter um futuro feliz, mas a verdade era que seu corpo não aguentava mais, estava exausto, precisava descansar.

Baji deslizou o dedo por cima da tatuagem da irmã, o infinito que transpassava pela cicatriz que havia ganhado há dois anos, quando se conheceram, naquele beco cheio de lixo, um símbolo que devia demonstrar a união que a Toman deveria ter, cravado em sua pele, pendurado em seus pescoços. Aquele natal devia ser o decreto desse sentimento, por que ele não parecia existir mais?

— Que bom que acordou... — a voz de Rukia foi como um puxão de esperança para Takemichi. — Sente-se melhor?

— Hm... — o loiro ainda usava a máscara de oxigênio. — O que aconteceu? — as lembranças estavam bagunçadas em sua cabeça.

— Você foi espancado pelo Mikey... — a morena se aproximou, ajudando-o a retirar a máscara do rosto. — Hajime te levou até o Inui e ele te trouxe para o hospital.

Hanagaki deixou uma lágrima solitária despencar, virando o rosto para o lado oposto dos irmãos.

— Tudo bem, Takemichi, todo mundo andou chorando nos últimos dias...

Ele podia notar a linha d'água da garota carregada de lágrimas, e só ela sabia o quanto queria chorar, mas tinha prometido a Emma que não faria isso até que ela estivesse bem, e como tinha sido doloroso ver a melhor amiga se desmanchando pela morte do namorado. No entanto, ela teria tempo para isso, teria tempo para chorar, para pensar em como as coisas se resolveriam, agora era a hora de estender a mão para um amigo que precisava de sua ajuda.

— O Mikey... — o loiro ainda duvidava do que havia acontecido. A guerra entre as três divindades havia sido um massacre, Mikey matara South na sua frente, tão frio quanto uma rocha sem sentimentos e conforme as lembranças voltavam Hanagaki tinha certeza que aquele não era mais o Manjiro que conhecia.

— Ele não é mais o mesmo... — Baji admitiu, o rosto cheio de decepção. — Vamos esquecer isso e seguir em frente, certo?

[...]

1 mês mais tarde

O semestre da faculdade havia acabado e aquele seria seu primeiro dia de férias depois de longos meses de estudo, a morena dirigia para casa tranquilamente, Emma havia pedido para ficar em seu apartamento por um tempo, não estava conseguindo ir ao trabalho e achava que a companhia da melhor amiga ajudaria a superar a situação. Rukia concordara que aquilo ajudaria a loira a melhorar e até mesmo a aconselhava a procurar ajuda psicológica, como havia sugerido a Kazutora anos atrás — que tinha aceitado e fazia um tratamento intenso há quase dois anos.

Ela subiu as escadas carregando duas sacolas de supermercado, comprara coisas para preparar um jantar para a amiga, as chaves na mão direita abriram a porta com cuidado, anunciando verbalmente que havia chegado, mas não obtivera resposta, apenas um silêncio ensurdecedor. Depois de deixar as coisas na pequena cozinha, seus passos foram na direção do quarto que dividia com Baji, onde Emma estava dormindo durante aqueles dias, o cômodo estava vazio, apenas as coisas de ambas espalhadas por ali. Uma das gavetas estava aberta, exibindo alguns utensílios que Rukia costumava usar para fazer sutura de treinamento, a gaveta que guardava alguns de seus materiais da faculdade.

Aquela visão acelerou o coração da morena, que estremecida enfiou a mão no bolso agarrando seu celular e digitou o número do irmão mais velho, Hanma não atendia. Em passos lentos a morena andou para a porta do banheiro, girando a maçaneta com cuidado, ao pisar para dentro do cômodo sentiu algo gelado molhar seus pés, o cheiro ferroso encheu seu coração de cor.

O corpo de Emma estava ali, estirado, pálido, frio. Rukia a agarrou tentando sentir seus pontos vitais, implorando para si mesma que a salvasse. Era tarde, a loira estava gelada, uma pequena tesoura perfurava a parte inferior de seu peito, sobre a direção do coração, o chão cheio de sangue denunciava uma possível hemorragia. A morena começou a tremer, derramando lágrimas de desespero sobre o rosto sem vida da amiga, abraçando-a como se aquele ato pudesse salvá-la.

— Por favor... — implorou. — Por favor...

Aquilo doía como uma espada atravessando seu coração, maldita vida que tentava tirar tudo que amava dela, condenando-a nessa dor eterna de estar sozinha. Seus dedos de sangue digitaram o número de Baji, sujando o celular, como a escuridão que sujava sua alma de dor. Keisuke atendeu a chamada segundos depois de discada.

— A Emma... — sua garganta parecia se fechar aos poucos. — Baji... por favor...

— Estou indo!

[...]

Os punhos latejavam de dor, ela socava a rocha com tanta força que suas mãos sangravam rasgadas pelo atrito, a chuva despencava, molhando seu corpo no meio daquele templo. Mikey não fora ao enterro da irmã, nem respondia qualquer recado que ela tentasse dar a ele. Ela queria apenas passar suas férias cuidando da melhor amiga, ajudando-a superar a morte de Draken, mas ela se fora com ele, e mesmo que tentasse muito, não conseguia se perdoar por isso, por tê-la deixado partir, por não estar presente para salvá-la mesmo tendo jurado isso todas as vezes que dizia amá-la.

Uma mão segurou seu punho direito, seus olhos embaçados de lágrimas se forçaram a encarar o dono daquela força, Takashi tinha os cabelos mais longos que o comum, a barba também havia crescido um pouco e suas bochechas estavam mais magras do que ela se lembrava.

— Se machucar não vai trazê-la de volta... — a voz de Mitsuya foi como uma fisgada para a realidade.

— Eu preciso... — ela balbuciou, exausta. — Não fui capaz de salvá-la...

O platinado acenou negativamente, puxando-a para longe daquela pedra. Começaram a andar na direção contrária ao templo, sem rumo, como o coração de ambos estava agora. Takashi havia prometido a Ken que seria um estilista, que mudaria o mundo com seus desenhos, assim como Rukia havia prometido a todos da Toman que seria uma médica, que cuidaria de todos eles.

— Eu fiz uma promessa ao Draken quando a Toman foi desfeita. — o menino admitiu, sua mão desceu lentamente pelo braço da mais nova, segurando sua mão na altura do próprio peito. — Prometi que seria um bom estilista, e quero cumprir isso, amanhã, no desfile da competição.

Rukia queria dizer alguma coisa, mas sua garganta estava seca, mesmo com tanta chuva e com tantas lágrimas ela sentia falta da umidade de saber o que dizer naquele momento.

— Quero que seja minha modelo. — as orbes azuis da morena pareceram falhar, Mistuya a encarava tão profundamente que era impossível desviar o olhar. — Vamos honrar nossa amizade com Draken e Emma, me ajude a honrar minha promessa?

— Eu? Por quê?

— Se eu pudesse escolher um olhar para representar a Toman, escolheria o seu. — ele admitiu, apertando lentamente a mão da amiga. — Por que mesmo sabendo de tudo que passou, mesmo chorando, mesmo perdendo o que mais ama, seus olhos permaneceram puros e lindos...

"Você tem os olhos da nossa mãe" a fala de Hanma lhe trouxe conforto naquele momento. Ainda havia esperança em seu olhar, então? Mesmo com toda a dor que seu peito suportara, mesmo que seu corpo e mente estivessem em pedaços, como vidro estilhaçado, seus olhos ainda conseguiam trazer paz há algumas pessoas.

Rukia acenou positivamente, concordando com a ideia do mais velho. Se houvesse qualquer chance de ajudar seus amigos, ela não exitaria em agarrá-la. 

Rosa Negra - Tokyo Revengers (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora