Ken pilotou ao lado dos amigos de forma impaciente, a chuva o fazia fechar os olhos algumas vezes, retornando mentalmente ao motivo do capitão da terceira divisão estar preso, a agressão que a garota internada no hospital sofrera, a forma como afastava Emma, irmã de Mickey, de toda aquela realidade. Ele não tinha nada contra mulheres e admirava a força de Rukia tinha para ainda estar em pé, mas não conseguia concordar em tê-la na gangue. Ela era pequena, frágil, imaginar que ela poderia apanhar como eles apanhavam era perturbador.
Diante a chuva eles se separaram, Baji e Chifuyu foram para o prédio onde moravam com Rukia, a fariam tomar banho e comprariam os remédios que ela precisava numa farmácia ali perto. Mitsuya retornou para o prédio onde ela costumava ficar para pegar os possíveis pertences da garota e seu gatinho de estimação; já Mickey e Draken foram com Takemichi encontrar roupas para que ela pudesse vestir.
No banheiro do apartamento que Baji morava com a mãe, Rukia tentava tirar a própria roupa sem sentir muita dor, os meninos haviam envolto seu braço machucado com plástico filme para que não molhasse ou ficasse úmido, suas únicas dificuldades agora eram seus músculos, pois doíam muito. Quando finalmente pôde sentir a água quente cair sobre seu corpo o mundo lá fora pareceu deixar de existir, nem mesmo a dor era suficiente para sobrepor a felicidade que estava sentindo.
Seus dedos tocavam a pele com cuidado, em sua barriga um hematoma roxeado havia se formado, exatamente onde fora chutada, o sangue em suas roupas também havia manchado suas mãos e barriga de forma assustadora. Aos poucos o cheiro de lixo e sangue começaram a sumir, o xampu limpava qualquer resquício de sujeira de seus cabelos e o sabonete deixava sua pele com um cheiro adorável. Ela costumava tomar banho todos os dias, todavia, aquele dia em específico havia sido longo demais. Já passava das sete da noite e ela ainda não havia voltado para casa, era como se por um ato errado seu, tivesse mudado completamente sua rotina, como os adultos costumavam fazer e viver.
— Será que ela está bem? — Chifuyu perguntou um tanto apreensivo. Ele havia comprado remédios e comida para ela.
— Ela deve estar com dor, isso dificulta o banho. — Baji se lembrava bem de como era estar machucado e ter que tomar banho com o corpo frio. — Ainda bem que a água não é gelada.
A porta da sala se abriu vagarosamente e por ela Mitsuya entrou segurando uma mochila e um gatinho cinza azulado, pela cara dos amigos ele sabia que ela ainda não tinha terminado o banho. Sobre a mesa de centro da sala o colar que ela carregava mais cedo repousava exibindo seu brilho, eram dezesseis pedras, brilhando em sintonia, diamantes puros e valiosos. Aquela visão deixou Mitsuya preocupado, o garoto se sentou ao lado dos amigos e esperou a mais nova com o seu animalzinho sobre o colo.
Ao acabar, Rukia vestiu o roupão como Keisuke havia instruído e saiu do banho passando a toalha pelos cabelos molhados, sua pupila dilatou ao ver seu gato nos braços do garoto de cabelos platinados, seu braço saudável se moveu rápido para reivindicá-lo e com o máximo de cuidado ela abraçou o felino.
— Senti sua falta... — a menina sussurrou. Mesmo que fizesse tão pouco tempo que havia o deixado, enquanto estava naquele beco, diante todos aqueles garotos, seu maior pensamento era sobre como seu gato sobreviveria sem ela.
— Um banho melhora tudo, não é mesmo? — Mitsuya comentou, principalmente porque agora ela parecia outra pessoa.
Os olhos azuis brilhavam em constaste com a pele pálida e o cabelo extremamente preto, os dentes perfeitamente alinhados também eram visíveis diante o sorriso que ela dava para o animal, sem todo o sangue e o lixo, ela era uma garota linda.
— Os outros logo virão com a roupa, tome os remédios e coma alguma coisa. — Baji instruiu, ele estava feliz em saber que ela gostava de gatos também, mas ainda tinha preocupação.
— Eu já comi hoje, — Rukia pegou os comprimidos com Chifuyu e os engoliu sem a ajuda de água. — eu só como uma vez por dia, para evitar gastar muito.
Os três garotos se olharam assustados.
— A partir de agora você comerá pelo menos quatro vezes ao dia. — o moreno adiantou — E pode começar agora.
Ao lado do colar havia um prato com um sanduíche e um copo de suco, embora tivesse tentando convencê-los de que não estava com fome, os meninos não abriram mão da decisão. Baji foi tomar banho também, afinal, estava sujo de sangue e ela havia vomitado em seu pé mais cedo. O moreno não quis demorar muito, sabia que seus amigos não tinham muitas habilidades de conversação com o sexo oposto.
Quando retornara a sala, Chifuyu e Mitsuya estavam refazendo o curativo sobre os pontos com as instruções de Rukia e o gatinho dormia tranquilamente sobre uma almofada no sofá. Pelo ronco lá fora, Draken, Mickey e Takemichi haviam acabado de chegar.
De curativo trocado, tomada banho e com roupas limpas Rukia estava muito bonita, os cinco garotos admitiam isso mentalmente e educadamente. No entanto, ainda havia duas coisas para se resolver: onde ela ficaria e o que faria com o colar sobre a mesa da sala.
— Poderíamos vender, assim ela teria dinheiro para sobreviver até arrumar um emprego e ser adulta. — Chifuyu sugeriu.
— O valor desse colar deve ser suficiente para ela viver sem trabalhar pelo resto da vida. — Mitsuya constatou, apertava os dedos uns contra os outros emitindo estalos baixo.
— Conte pra gente, como conseguiu roubar uma coisa dessas sem ser pega pela polícia? — Ken estava apreensivo, precisava escutar a história toda.
Rukia sentou-se no tapete a frente deles e imediatamente tomou seu gato para si. — vou tentar explicar, mesmo que pareça loucura.
Os seis meninos se concentraram como se estivessem ouvindo uma história épica. Ela explicou como vivia até então, roubando comida ou dinheiro para se alimentar e alimentar seu gato; naquele dia em questão ela havia presenciado aquele roubo e decidiu roubar o colar de volta e devolver a senhora, mas quando voltou até a velha, viu que ela havia sido ferida e estava prestes a morrer, a mulher então sussurrou aquelas palavras — que agora pareciam impregnadas em sua mente — e a pediu para correr, mas não fugir de seu destino, quando se dera conta, os garotos estavam atrás dela, ela sabia que se tivesse espaço conseguiria correr e desaparecer pelas ruas, mas escolheu mal ao entrar naquele beco, e se não fosse pela chegada de Baji, ela não estaria ali.
Draken ficou em silêncio por alguns segundos, parecia tentar pensar sozinho numa solução.
— Você não pode vender um colar desse valor sozinha. — finalmente disse algo, seu corpo se levantou e andou para a janela, queria respirar ar puro. — Seria presa, além de que devem estar procurando o responsável pela morte dessa senhora e o colar também.
— Eu sei o que fazer, — Mickey se levantou do sofá, parecia ter uma ideia de como vender o colar sem precisar arriscar a liberdade da garota. — deixe o colar comigo, irei vendê-lo e te trago o dinheiro.
— E como é que você vai fazer isso? — Baji questionou. Ele tinha os próprios motivos para desconfiar das decisões de Mickey. — Não se meta em confusão por causa disso, podemos resolver de outra forma.
— Apenas confiem em mim, certo? — o loiro mais baixo mostrou um sorriso puro, ele conhecia alguém que poderia cuidar disso sem cobrar muito.
— Podemos resolver isso outra hora. — Mitsuya alertou. — Agora é melhor falarmos de onde ela vai ficar, daqui a pouco a mãe do Kei chega e mata ele por ter trazido uma garota para casa.
Baji tentou demonstrar um semblante calmo, mas, no fundo, sabia que o amigo estava certo.
— Eu moro num bordel... — Draken lembrou.
— Na minha casa não tem muito espaço, além do mais, minha mãe arrancaria minha cabeça. — Mitsuya completou. — Baji apanharia da mãe e o Chifuyu teria que se casar com ela para levá-la para casa.
— Bem, minha mãe me mataria também. — Takemichi se encolheu um pouco ao pensar na possibilidade.
Os olhares agora estavam sobre o comandante da Toman. Ele morava com o avô e tinha um quarto independente da casa, não seria problema acolhê-la.
— Já entendi. — Mickey acenou com a cabeça. — Vai ser legal, a Emma vai gostar dela.
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Rosa Negra - Tokyo Revengers (CONCLUÍDA)
Fanfiction"A morte e o abandono, dois inimigos que ela ainda não sabia enfrentar, diante de seus olhos, ferindo seu corpo sem ao menos lhe tocar, como um rasgo na alma que se tornou impossível de curar, um pesadelo, um sonho. O futuro. Rukia sobressaltou, s...