6 - Sutura na alma

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Os olhos azuis estavam perdidos no vai e vem da agulha de sutura, o corte tinha cerca de dez centímetros, variando de profundidade de uma ponta a outra, limpo e estancado tinha um aspecto de inflamação leve, era difícil não olhar quando sentia a pele repuxando a cada passada de linha.

Baji estava sentado na moto de Mickey quando o loiro chegou acompanhado por Draken e Mitsuya, o rosto tinha alguns hematomas leves e os punhos estavam feridos, nada que precisasse de ajuda médica — tinha mais sangue alheio em si do que próprio. O coração ainda acelerado o obrigava a imaginar as possibilidades de tudo aquilo dar errado, compreender o quão disposta a salvá-lo Rukia estava.

Quando eram mais novos a Toman fora fundada para ser uma gangue onde amigos pudessem lutar uns pelos outros, ela lutou por ele, mesmo ferida, mesmo com dor, mesmo sabendo que era mais fraca. Ela tinha o espírito que a Toman buscava, relatar isso aos amigos o fazia acreditar ainda mais nisso.

— Me desculpe... — Draken quebrou o silêncio. — Eu não...

— Quando ela sair você pede desculpas, — Baji o interrompeu se afastando, os cabelos agora soltos balançavam com o vento. — entendo sua preocupação, mas a fez se machucar...

— E isso deveria ser motivo suficiente para não mantê-la aqui! — o loiro colocou os braços para trás para evidenciar que não queria brigar. — Ela pode ser forte, inteligente e esperta, mas é apenas uma garota. Uma garota que pode ter um futuro brilhante pela frente e estamos correndo o risco de estragar isso colocando-a numa gangue.

Baji ainda estava de costas para os amigos, olhando para a entrada do hospital.

— Todos os membros têm familiares, pergunte ao Mickey ou ao Mitsuya o quanto iria doer se algo acontecesse com as irmãs deles por causa da Toman. — a expressão no rosto dos citados foi de horror.

Rukia pisou no último degrau com cuidado, o braço machucada estava exposto, exibindo os pontos que acabara de fazer, o short e a camisa do pijama estava sujos de terra e sangue, mas seu rosto e seus olhos estavam limpos o suficiente para enxergá-los mais a frente, podia ouvir exatamente o que Draken dizia e compreender perfeitamente o sentimento de Mickey e Mitsuya diante a afirmação do loiro mais alto.

— Lute comigo, Draken, — a voz da garota ela baixa, como um sussurro. Kaisuke teve um sobressalto ao ouvir o pedido. — lute comigo até que me ache digna, ou me bata até que eu não me ache digna.

As mãos de Ken tremeram, não era raiva, era medo. Ela estava disposta a apanhar até que ele a julgasse boa para a Toman?

— Ficou maluca? — Baji perguntou mostrando os caninos.

— Quero que lutem comigo, todos vocês, — ela desafiou. — mas tenham certeza que eu nunca desistirei, enquanto estiver viva eu vou continuar levantando e tentando. Precisarão me matar.

Seus olhos voltaram a se encher de lágrimas, mas diferente de mais cedo, não eram de alegria. A garganta parecia queimar como uma chama infernal e a sensação de traição era tão profunda quanto um corte letal. Ela já havia entendido que tudo não passara de uma tentativa de fazê-la provar valor, confiança, e isso era como uma faca afiada sobre o tecido mais puro, cortando cada parte de sua alma sem piedade e compaixão.

— Vocês me enganaram... — o rosto se molhava lentamente enquanto as lágrimas escorriam. — me enganaram quando fui o mais sincera que pude.

Baji tentou se aproximar, mas foi empurrado contra os amigos, a mão leve e delicada se tornou tão pesada em seu peito que fora quase impossível conter o impulso, Rukia era mais forte do que pensara.

Rosa Negra - Tokyo Revengers (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora