4 - Sonhos e pesadelos

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Segurava uma faca com a mão direita, os dedos sujos de sangue — ainda quente — tentavam segurar uma força que se colocava sobre ela. As costas contra o chão frio e sujo, o rosto cheio de lágrimas, sobre seu corpo havia um garoto mais velho, cabelos pretos com mechas loiras e uma jaqueta branca. Não batia nela, apenas a segurava, com tanta força que seus ossos queriam rachar a qualquer momento. Sobre uma pilha de carros, Keisuke cuspia sangue, os olhos perdidos, como se ainda estivesse tentando terminar alguma coisa, no entanto, quando seus olhos encontraram-na, ele sorriu, como um sussurro de adeus.

A morte e o abandono, dois inimigos que ela ainda não sabia enfrentar, diante de seus olhos, ferindo seu corpo sem ao menos lhe tocar, como um rasgo na alma que se tornou impossível de curar, um pesadelo, um sonho.

O futuro.

Rukia sobressaltou, seus olhos choravam enquanto ainda dormia e abri-los lhe trouxe uma visão embaçada do quarto onde estava. Vestia um pijama que Emma lhe emprestara e dormia numa cama oposta à de Mickey, — que por sinal ainda babava com a cara enfiada em seu cobertor favorito — o relógio na mesinha marcava quase seis da manhã, mas a sensação em seu coração era de dormir há dias. Naquela altura o efeito dos remédios para dor já haviam passado e seu braço pulsava, a pele costurada parecia repuxar enquanto se movia e com todas aquelas lembranças seu estômago se embrulhava com o jantar da noite passada.

Conhecera a irmã de Mickey, ela era doce e amorosa, e também o avô do garoto, um senhor simpático que a acolheu sem fazer muitas perguntas. Mickey a deixou dormir em seu quarto e até teve ajuda para arrumar a cama, no entanto, ela ainda sentia que alguma coisa estava errada. Encontrá-los em frente aquele hospital também era parte de um sonho que tivera, e se tudo continuasse a acontecer como quando dorme, Baji estaria ferido em breve.

Com poucos movimentos abriu a mochila que Mitsuya trouxera, seu gatinho dormir sobre a barriga de Mickey tranquilamente, — mesmo que o próprio não soubesse disso — entre seus documentos havia uma pasta cheia de desenhos e algumas folhas em branco, escolheu uma delas e começou um desenho, os dedos passavam sobre a folha tão rápido que não pareciam ter um sentido, rabiscos se tornaram um anjo sem cabeça, o símbolo que o garoto de cabelos com mechas exibia nas costas de sua jaqueta. Ela perdeu horas ali, concentrada, quando finalmente acabou, descansou a cabeça sobre o braço saudável e adormeceu, o dia já havia amanhecido.

Mickey acordou minutos depois, tirando o gato dele e o colocando no chão, estava prestes a balbuciar algum palavrão quando parou os olhos na garota. Os cabelos negros sobre a folha impedia que ele enxergasse o que havia desenhado; o loiro engoliu a saliva tentando entender o que via. Ela era pequena, dormindo de joelhos no chão como se tivesse fazendo uma oração ou agradecendo alguma coisa.

— Ei... — ele sabia que não deveria acordá-la. — Vai lá gatinho, acorda ela...

O gato soltou um miado, Manjiro suspirou fundo, se levantou da cama por completo e caminhou até o outro lado do quarto, quando estava prestes a pegá-la algo chamou sua atenção: as folhas com desenhos espalhadas ao lado de Rukia.

Takemichi aparecia em um deles, com uma faca cravada na mão, os traços eram tão fies as características de Hanagaki que tudo se tornou estranho na visão de Mickey. Esqueceu-se completamente da garota e pegou outras folhas que encontrou ali, um desenho lhe chamou atenção: os seis amigos na frente do hospital que estavam ontem, exatamente como acontecera, até mesmo os detalhes de suas roupas eram idênticos. O loiro voltou a olhar para ela, o corpo frágil sustentado pelos joelhos enquanto o rosto estava afundado num mar de cabelos, a forma como ela os conhecera, a pureza que tinha no olhar. Tudo aquilo era falso?

Rosa Negra - Tokyo Revengers (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora