26 de dezembro de 2005
Quando Rtin teve a ideia de presentear os amigos, pensou em algo que pudesse lembrar dos bons momentos, o natal era uma data importante, e era a primeira vez que passava em uma família de verdade. Eles estavam reunidos na mesa, a mesinha de churrasco assava a carne lentamente e cada um tinha sua própria latinha de refrigerante em mãos, já tinham espiado seus presentes pessoais — e gosta muito deles — mas era de abrir algo mais especial. Os irmãos de cabelo colorido também estavam a mesa, assim como Sanzu — embora ainda não fosse confortável encará-lo sem uma pitada de desconfiança. A morena se levantou por breves instantes, caminhando até a árvore-de-natal e retornando com uma caixa média de cor prateada.
— Eu comprei algo, — disse sorridente. — para todos. — a finalização da frase os obrigou a dar atenção a menina. — Queria que o meu primeiro natal com vocês fosse especial, então quero que tenhamos algo em comum.
A menina colocou a caixa sobre a mesa, desfazendo seu laço e logo em seguida removendo sua tampa, haviam outras onze pequenas caixinhas brancas envoltas por um lacinho dourado. Ela passou por cada um, pedindo para que retirasse uma, em questão de segundos cada um deles tinha uma caixa, sobrando apenas uma para si.
— Podemos abrir? — Mitsuya perguntou curioso, segurava a caixinha com na palma da mão para evitar estragá-la.
— Será que o comandante preparou alguma surpresa assim também? — Smiley sorria enquanto falava, era difícil não vê-lo sorrir na verdade.
— Podem abrir sim, e acho que o Mikey não comprou nada em especial.
Mikey ia protestar sobre a acusação, mas realmente não tinha comprado nada e estava curioso para ver o que tinham ganhado. Baji foi o primeiro, rasgando o lacinho com a pontinha do dente, seus dedos pegaram com cuidado o objeto: um colar de prata, com oito símbolos do infinito formando uma espécie de flor. O moreno sorriu e acenou positivamente para a irmã.
Rtin voltou a abrir os olhos, estava sentada em frente sua casa, o relógio marcava quase quatro da manhã, refletia sobre uma coisa que discutira com Mikey mais cedo: o loiro era meio irmão de Emma, Emma tinha um irmão, e ao que parecia esse irmão coordenava a gangue Tenjiku contra a Toman. Embora seus pensamentos ainda estivessem na festa de natal da Toman, ela se questionava em voz alta o porquê da ação de irmãos serem tão incompreendidas.
Baji lhe deu um cascudo na noite da festa, tão forte que ela reclamou de dor de cabeça pelo resto da noite, e isso tudo porquê tinha feito uma tatuagem no braço direito, por cima da cicatriz que a lata de lixo deixara. Talvez o irmão de Mikey estivesse precisando mais do que um abraço.
Foi possível escutar o ronco das motos quando os garotos entraram na rua e não demorou muito até que estacionassem mais perto. Mikey e Draken guardaram as motos com cuidado e em seguida os três entraram, ela não ter comparecido a reunião tinha sido apenas para se manter perto de Emma, mas se inteirou de tudo com os dois amigos antes que pudesse ir dormir.
— Lutar contra a família nunca é fácil, mas vamos conseguir trazer a razão de volta ele. — a morena aconselhou calçando as meias. — Vou dormir com a Emma para que Draken possa dormir aqui.
Os dedos de Manjiro agarraram o cobertor com certa raiva, não dela, mas de si, como conseguia ser tão fraco numa situação como essas? Mesmo diante toda sua força física ele não conseguia manter sua família a salvo. Rukia se aproximou quando notou a inquietude do mais velho, ela estava envolta no típico pijama felpudo e agora usava meias quentinhas, com calma a menina envolveu os braços ao redor do loiro, trazendo-o para um abraço. Draken saiu do banheiro enxugando o rosto e pôde vê-los juntos, sentados e abraçados, aquilo o fez invejar a proximidade por alguns segundos, queria poder abraçar Emma da mesma forma e jamais pensar que traria perigo a ela.
A manhã chegou como um soco no estômago, dolorosa e indesejada, Draken voltou para casa, Mikey e Emma haviam combinado de ir visitar o túmulo de Shinichiro, irmão mais velho de ambos, naquela manhã. Obviamente Rukia os seguiu — com o concentricamente deles — mas manteve distância quando começaram a caminhar entre os túmulos.
A morte podia então, doer? Nunca perdera ninguém — mesmo que Hanma tivesse explicado sobre a morte de seus pais biológicos, não os conhecia para de fato sentir algo — e também não conseguia imaginar a dor que os irmãos Sano sentia diante aquele fato. Como era saber que nunca mais poderia ver uma pessoa que ama sorrir? Ou esperá-la chegar?
Seus pensamentos foram arrancados de si quando notara que mais a frente haviam outras pessoas. O garoto loiro na qual dera um chute na noite de natal; Takemichi e um outro garoto, esse último tinha cabelos alvos, olhos redondos e era tão alto quanto Baji. Encará-lo acelerou seu coração, a visão do sangue de Emma retornou a sua mente, assim como sentira em relação a morte de Baji, de alguma forma ele parecia estar envolvido. Em passos ligeiros, seu corpo se aproximou da melhor amiga, segurando sua mão de forma tão firme que a garota de cabelos loiros a olhou assustada.
— Leve a Emma embora. — Mikey pediu, o semblante sério e sem vida haviam retornado.
Era uma ótima ideia, estar longe dali, do possível perigo que estava por vir. Takemichi, Emma e Rukia começaram a sair em passos lentos, ainda ouvindo Izana falando sobre a guerra entre Toman e Tenjiku.
— Por que garotos só sabem brigar? — Emma parecia irritada com sua própria pergunta. — Ele pode até ser o Mikey invencível, mas para mim é apenas o meu irmão...
Rukia respirou fundo. — E o meu namorado. — ela não queria concordar, mas de fato, Emma estava correta, talvez todas as brigas que tivessem se metido fossem apenas bobagens que poderiam ter sido resolvidas com conversas.
— Ele ainda dorme com o cobertor favorito dele. — a loira não mentia enquanto desabafava. — Izana como mais velho, deveria ser o primeiro a não querer isso.
Quando se deram conta, estavam na calçada, Izana e Mikey haviam ficado para trás junto com Inui. Emma alegou sentir cedo momentos depois que a discussão sobre Mikey ser apenas um bebê se encerrou, e os três juntos foram até uma pequena loja de conveniência comprar um refrigerante para a loira, que enquanto bebia, caminhava despreocupada pela rua. Rtin enxergava Mikey com um terceiro olhar, não como o comandante e muitos menos como o irmão mais velho, mas apenas como Manjiro, um adolescente, com decisões as vezes questionáveis, mas um adolescente, não merecia passar por tanta dor sozinho. E para isso, ela e os outros estavam ali, como matéria feita pelo destino para se materializar naquele determinado local, a válvula de escape para a dor, a família de sangue diferente.
Ao longe ela pôde escutar um motor roncar, sua pupila dilatou quando notara a moto, vindo na direção dos três, com rispidez a garota trocou de lugar com Emma, a deixando atrás de seu corpo e do corpo de Takemichi. A moto pareceu desviar para o lado quando chegara próxima, diferente do que seu sonho lhe mostrava todas as noites, Emma segurou seu braço assumindo o lugar ao seu lado, pálida, sem entender o que havia acontecido.
A moto parou mais a frente, Hanma respirava entregando-se a ansiedade, não poderia deixar que Kisaki machucasse sua irmã na tentativa de matar a irmã de Mikey. O loiro desceu da moto, xingando o parceiro de todas as formas que podia, e não demorou muito para enfiar a mão dentro da jaqueta de sacar uma pistola de lá, atirando rápido na direção de ambas as garotas. Hanma deixou a moto cair naquele instante, o corpo das duas despencou, haviam sido atingidas.
— Vamos embora! — Kisaki ordenou, não queria saber se os tiros tinham ou não sido letais. — Hanma?
Hanma deu dois passos para o lado contrário, onde sua irmã e a amiga sangravam aos gritos de Hanagaki, e disparou em direção a elas. Kisaki voltou a subir na moto sem muito entender, e partiu, como se o parceiro fosse apenas uma carta descartável na qual não estava disposto a insistir para ter em seu baralho.
Hanma segurou a cabeça de Rukia em seu colo e gritou, um grito grave de desespero, Mikey surgiu logo em seguida, amparando Emma para que Takemichi pudesse ligar para ambulância.
— Não chore... — a morena pediu, a voz distante, como uma despedida.
— Fique comigo... — ele implorou, as lágrimas pingando sobre o rosto da menina. — Eu não tenho mais ninguém, por favor, fique comigo!!
Rukia apertou a mão de Emma, elas se olharam em silêncio, nunca tinham pensado sobre morrer, mas assim, de mãos dadas, sendo amparadas por duas pessoas que amavam, pareciam um ótimo jeito de se entregar ao abismo da inconsciência.
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Rosa Negra - Tokyo Revengers (CONCLUÍDA)
Fanfiction"A morte e o abandono, dois inimigos que ela ainda não sabia enfrentar, diante de seus olhos, ferindo seu corpo sem ao menos lhe tocar, como um rasgo na alma que se tornou impossível de curar, um pesadelo, um sonho. O futuro. Rukia sobressaltou, s...