Capítulo 14. Olhos de esmeraldas

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O som da noite dançava ao seu redor, a brisa levava seus cabelos ruivos a um breve passeio. Linda mulher de olhos de esmeraldas.
Sua doce canção se juntou ao som da noite e do mar, tal canção que era inesquecível.
Seus pés descalços sobre a areia branca como sua pele.
Suas sardas se alinhavam com as estrelas.
Caminhando em volta do mar, a criança em seu colo dormia ao som de sua voz.
Um par de sapatos se juntou à sua caminhada — Ele tem seus cabelos — referiu-se ao bebê.
— E tem um de seus olhos — a mulher sorriu. Seu marido possuía um olho castanho e outro completamente avermelhado — Tomara que ela seja como você — Passou a mão por sua barriga, que estava maior que o comum, carregando há certo tempo a princesa do reino.
— O massacre está próximo, devemos partir agora que está escuro para que os soldados não nos vejam — Contou o homem de pele parda.
— Está certo de que devemos ir? Não podemos abandonar nosso povo.
— Adele, será certo manter a rainha e o rei vivos junto de seus filhos, a linhagem real deve permanecer em segurança.
— Nosso povo precisa de nós, querido.
— Eu sei... mas não é seguro, pense em você, nas crianças... e em breve nosso povo irá se refugiar além das montanhas, tudo o que eles querem é nos manter vivos — Com receio, Adele aceitou. — Somos um dos poucos reinos que tentou fugir do massacre as bruxas, se continuarmos resistindo vamos perder tudo — Sua mão pousou por ser ombro — Não temos mais escolha, faz mais de um ano, a igreja não irá desistir.

Em um grande quarto real, brincava um garoto de cabelos platinados
— Senhor — uma empregada apareceu — Está na hora de partir.
— Oh! Agradeço, Lílian — O pequeno garoto acenou e logo puxou duas malas de cima de sua grande cama saindo para fora do quarto.

A família se reunia fora do castelo junto de uma carruagem, empregados e guardas que os aguardavam.
A bela mulher ruiva e seu bebê, o homem de cabelos brancos e botas brilhantes, por fim, o irmão mais velho de olhos vermelhos.
O castelo ficava ao alto das colinas, possibilitando a vista para a grande cidade que cercava o castelo.
— Oh, querido — balbuciou enquanto chorava abraçando seu marido — Meu lindo reino... meu povo...
Era de se partir o coração de toda a família ter que partir de seu reino que foi governado por gerações e gerações.
Eram tantas memórias para se guardar, tantos para esquecer. Mal se podia imaginar as atrocidades que farão com aquele belo local assim que o massacre começar.
E assim, a família real teve que partir de seu reino tão amado.

A mulher ruiva encarava o garotinho sentado ao seu lado dentro da carruagem em movimento.
— O que foi, mamãe? — percebeu o garoto.
— Oh, não é nada, meu amor, você apenas já está tão crescido... Se parece tanto com seu pai...
— A senhora acha? — Seu rosto pequeno se avermelhou enquanto segurava seus joelhos.
— Sim.. me lembra ele quando tinha sua idade, não acha, querido? — Dirigiu-se ao homem a sua frente.
— De fato, se parece muito quando eu tive sua idade — Sorriu o homem — Só que branquelo! Devia tomar mais sol.
— Eu vou, pai! — O garoto riu — Se for assim, quando crescer quero ser que nem vocês! Quero ser um rei muito bacana! Gentil e forte.
— Com certeza você já é, meu bem — Os olhos da mulher se encheram de lágrimas.
A carruagem pulou, deviam ter passado por cima de algo.
O bebê acorda, chorando. A rainha tenta acalmá-lo enquanto a carruagem simplesmente para.
O silêncio e medo tomam conta do ar — Esperem aqui — o guarda sai de dentro da carruagem.
Minutos se passam.
O homem puxa sua espada da bainha, a rainha, tenta acalmar a criança que felizmente, se aquieta em pouco tempo.
Felix, o rei, se aproxima da porta. A angústia, o medo, um ponto penetrava em todos os sentidos naquele momento.
Não se ouvia respiração, passos ou movimentos, muito menos alguma sombra se mexia através das finas cortinas.
O homem abriu a porta e olhou em volta, estava tudo muito calmo, até o momento em que, de cima da carruagem, um ladrão pula e inicia uma luta contra o próprio rei.

Adele segurou com força seu filho mais novo, e com o outro braço segurou seu vestido longo, gritou por seu filho mais velho e correu para a floresta numa tentativa de fugir.
Era uma corrida angustiante, correr ou morrer. O medo apertava seus peitos, correndo como nunca havia corrido, pois suas vidas estavam em jogo naquele momento.
O rei lutava com os passos mais precisos, embora fosse ótimo na luta com espadas era visível que aquele pela qual brincava com a vida da família real não era qualquer mero ladrão, tinha um colar com uma cruz em seu peito, um dos muitos treinados para "servir Cristo". Não só abusava de todos seus recursos como usava toda sua força.
Seria uma péssima estratégia caso o rei ganhasse tempo, e quando cansado o matasse, porém o homem estava confiante da cabeça aos pés de que iria ganhar.
Depois de tanto correr, a mulher encontra uma caverna, onde esconde às pressas seus filhos.
— Querido, me escute, não temos muito tempo antes que um deles se canse, fique aqui com Sun.
— O que? A senhora vai nos deixar aqui?
— Não se preocupe, assim que tudo acabar eu e seu pai vamos buscar vocês, eu prometo.
A mulher beijou a testa das duas crianças e antes de partir, se virou para seu filho.
— Edgar, meu tesouro, eu amo você e seu irmão, lembre-se: proteja a si e a seu irmão acima de tudo — Sorri desesperadamente e tentando acalmar o pobre garoto.
A mulher correu para fora da caverna.
Lágrimas salgadas desceram pelo rosto do pequeno garoto, estava tomado pelo medo, se sentiu sozinho naquele momento, era apenas ele, uma criança e um bebê em seu colo numa caverna talvez prestes a morte.
Edgar se lembrou das palavras doces de sua mãe, não poderia ceder agora, deveria lutar até o final por seu irmão e pela honra de seus pais.
Edgar entrou no fundo da caverna, abraçou o pequeno e lá ficou encarando a passagem da caverna a todo momento pronto para salvar seu irmão. Mesmo que o tempo passasse devagar e apenas o som da chuva fina que recém havia começado, o menino ali ficou até adormecer.

O garoto acaba de acordar com o choro de seu irmão, havia dormido na caverna sem que notasse.
O dia estava claro e bonito com a neve singela que mal teve tempo de começar e o cheiro de grama molhada que ele e sua mãe tinham um interesse em comum. Edgar pega de uma das malas que trouxe às pressas e acaba tentando alimentar seu irmão com o que tinha.
Depois de muita luta para alimentar seu irmão, o garoto consegue o tirar da fome e resolve ir à procura de sua mãe e pai.
Ao chegar no lugar onde a carruagem foi abandonada, encontram-se com policiais da realeza e empregadas que investigavam. Avistam e ajudam os pequenos garotos.
— Onde está minha mãe? E meu pai? Eles quem os mandaram aqui para nos buscar, não é? — pergunta Edgar enquanto uma empregada o cobria com um manto quente.
— Filho... lamento em dizer, mas... o ladrão que assaltou a carruagem de vocês... ele era forte demais. Eu lamento.
O choro se tornou inevitável, a dor em seu mísero pequeno peito martelava, estava sozinho mais uma vez, a escuridão tomou conta do garoto, ninguém poderia mais cuidar de Edgar. Foi quando ouviu seu pequeno irmão chorar por querer estar em seu colo.
Segurar Sun fez com que a escuridão se afastasse, não estava sozinho, ainda tinha a seu irmão pela qual naquele momento prometeu que protegeria com seu corpo e alma.
Nada poderia fazer mal a ele, sua única família. Seu propósito para viver agora era cuidar de Sun, aquele que ao seu ver: o mundo não merecia e nem teria o direito de machucar.

Assassina de PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora