Capítulo XVIII

72 13 84
                                    


Senti a Tua Falta


*- Aviso -*

Violência explicita, sangue e armas.

Este capítulo tem descrições gráficas e pode perturbar alguns leitores mais sensíveis. Discrição é aconselhada.


Amber

Mike desaparece por entre a neblina, na direção de onde viemos. Ele não é a mesma pessoa que conhecemos. Agora parecia maior, mais corpulento e, principalmente, mais perigoso. Tivemos um assassino a conviver connosco, a beber e, por muitas vezes, sozinho comigo na mesma divisão. Porém nunca senti os meus pêlos eriçarem desta forma antes. Numa coisa ele era bom. Era carismático o suficiente para atrair as pessoas, tempo suficiente talvez para escolher a vitima, e tinha uma inteligência fora do comum - a inteligência de um caçador. Era assustadoramente paciente e conseguia personificar uma pessoa completamente diferente. Tudo para um único propósito: matar. 

Ele seria mesmo um guarda? Se não, onde ele arranjou a farda? Sabem uma coisa? Esqueçam a última pergunta. Não quero pensar nisso, pelo menos agora. Só vai deixar-me mais ansiosa e eu não preciso disso neste momento.

Permiti soltar todo o ar que estava a reter e admito que me senti tonta de ter aguentado tanto. Por momentos, senti os meus ombros a ficarem menos doloridos e as mãos menos rijas. Não quer dizer que agora estávamos a salvo, nada disso. 

O Mike estava ali, a apenas uns metros de nós, esperando a oportunidade perfeita de pousar aquele machado em um de nós.

O Ryan foi o primeiro a levantar-se e, antes da Clara levantar-se atrás dele, ele certificou-se que estávamos sozinhos. Eu não me consigo mover no lugar. As minhas pernas simplesmente não reagem. Não consigo ter coragem necessária para continuar. 

Apercebendo-se disso, Clara baixa-se á minha frente e agarra-me a cara com ambas as mãos.

- Eu sei, Amb, mas o Brandon continua por aí sozinho. O Mike vai voltar. Não é seguro ficarmos aqui. - Ela murmura e o calor das suas mãos dão me um pouco de conforto. Eu aceno com a cabeça e ela ajuda-me a levantar. Ainda assim as minhas pernas parecem trair-me, congelado quando dou um passo em frente. O Ryan espera por nós, com a arma a tremelicar numa das mãos. 

A terra molhada acumulava-se nas minhas botas e custava cada vez mais a andar. Reparei que o Ryan começava a apoiar o peso numa das pernas, deixando a perna ferida mais levantada. Mesmo que a mordida estivesse com melhor aspeto, penso que não deixe de ser doloroso.

Independentemente do nevoeiro estar menos denso nesta parte, não consigo deixar de olhar para todos os lados e sentir o ácido do meu estomago a queimar-me a garganta, com o nervosismo. A sensação de estar a ser observada é nauseante. Não paro de pensar em alguma coisa saltar por entre as árvores, a qualquer momento, e nos apanhar. Sinto-me exposta e impotente, como uma porra de um cabritinho.

Olho algumas vezes para o cano do revólver reluzente na mão do Ryan e a cada vez que olho, um nó forma-se na minha barriga, deixando-me ainda mais maldisposta. 

Tudo á volta continua em total silêncio, como se estivéssemos num quarto fechado, á prova de som. Não sei há quantas horas estamos aqui, perdi total noção do tempo. Ambos os meus braços e pernas começam-me a pesar e implorando por algum descanso. Reprendo-me cada vez que dou por mim a desacelerar o passo, mas já estava a começar a ceder aos poucos. 

A Cabana das Janelas VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora