Capítulo XXX

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Clara

Na entrada do hospital fomos logo informados que apenas autorizam um visitante de cada vez e, visto que Ryan ainda não estava estabilizado, tínhamos de esperar. Então esperámos na sala de espera. Ashia e eu ficámos nos bancos à frente de Brandon e Amber, que já tinham pegado no sono encostados um no outro. Não muito tempo depois, a médica responsável por ele, deu-nos a tão esperada noticia.

- Quarto 363. - A rececionista solta a informação com uma voz consumida, sem olhar para nós.

- Do que estás à espera, Clara? - Ashia pergunta ao reparar na minha hesitação.

- É que... acho que não consigo vê-lo naquele estado outra vez. - Desabafo com ela na tentativa de me sentir melhor, mas não é o caso. É até um pouco embaraçoso, visto que não falamos há anos. - Talvez o Brandon ou a Amber deveriam ir primeiro.

- Não sei o que se passou naquela floresta, e vocês não estão prontos para falar sobre, mas imagino que não tenha sido fácil. Contudo, ele precisa de ti para melhorar. Podes ficar em silêncio, se preferires, mas deixa-o saber que estás lá e que estás bem. - Eu assinto com a cabeça e ela mete a mão no meu ombro e sorri. - Manda lembranças da tia Ash.

Lembro-me perfeitamente daqueles dias ensolarados na casa do Brandon. O cheiro das flores a brotar do chão e do topo das árvores e da brisa primaveril vem-me à memória. Éramos apenas crianças tolas, com uma energia de um cavalo bravo, mas essencialmente felizes. Ashia sempre foi muito estudiosa, mas, de alguma forma, arranjava sempre tempo para brincar connosco no jardim enorme da casa. Ryan e eu sempre a chamávamos de "tia Ash", contudo ela não é muito mais velha que nós. Não acredito que quase tinha-me esquecido desse apelido, e do quanto sentia saudades da Ashia.

Já no segundo piso, procuro pelo quarto 363 e, no caminho para lá, vejo alguns enfermeiros transportarem duas macas, ambas tapadas com um lençol branco, até ao elevador. Por momentos sinto o meu estômago apertar e apresso-me para o quarto.

Entrando lá, não me surpreendo com a quantidade de equipamentos ligados ao seu corpo, porém fico uns segundos parada à porta. "Ele está bem", pensei" e pelo menos já não está a ser fornecido de oxigénio pela máquina ligado" o que é um excelente sinal.

Olho para o monitor, enquanto a percentagem de oxigénio e número de batimentos cardíacos variavam na medida do normal. Finalmente ganho a coragem necessária para entrar no quarto. Puxo um banco e sento-me ao lado da cama. O cabelo está tão desalinhado, assim como a sua barba, que costumava ser rasa. As bochechas estão geladas e, daqui, sinto a corrente de ar entrar pela janela, batendo diretamente nele. Vou fechar a janela, que tem um trinco extremamente irritante de trabalhar, quando algumas gotas de chuva começam a cair intensamente de lá de fora para dentro.

- De onde veio esta chuva toda, de repente? - Pergunto a mim mesma, dando conta do absurdo que é falar sozinha, mas não me podia importar menos neste momento.

Volto para o leito da cama, numa mistura de alívio, amor e raiva. Pego-lhe na mão com ambas as mãos, na esperança de aquecê-la um pouco.

- Isto é o que dá armares-te em herói. - Se eu pudesse dar-lhe um tapa leve no peito, como faço quando ele diz alguma coisa que me aborrece, eu dava. Estou zangada, quero tirar esta raiva crescente no meu peito para fora. Quero que ele saiba o quanto fiquei preocupada que o tivesse perdido. - Odeio-te por isso. Talvez não estarias aqui.

O quarto arrefece a um ritmo absurdo, mesmo com a janela fechada, e arrepio pelo corpo todo. Afasto os fios das máquinas e deito a cabeça sobre o seu peito, colando-a no seu queixo, como fazíamos nas poucas noites que dormimos juntos. Com isso, mais memórias surgem e lembro-me da ansiedade e alegria que senti quando ele me falou em mudarmo-nos juntos. Aí não contenho as lágrimas que nem sabia que tentava conter.

A Cabana das Janelas VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora