Capítulo 4

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Fazia dez minutos que eu estava sentada ali, mas minha sensação era de dez horas inteiras.
Me dava náuseas como ele lia tranquilo aquela porcaria de livro e parecia fazer que nós éramos marido e mulher apenas aproveitando a companhia um do outro fazendo uma atividade fútil.

— Vai abrir um buraco no chão se continuar batendo o pé assim. – Ele usou um tom sutil e nem desviou os olhos do livro.

— Poderia mesmo, assim me enterrava nele.

Ele sorriu ladino fechando o livro e me olhando. Aquele sorriso maldito que me dava vontade de voar nele e arrancar do seu rosto.

— Vai almoçar comigo?

— Almoçar? Eu quero respostas, eu quero explicações suas! Como vai ficar o sul? Vulnerável a ataques sem uma líder? Eu vou ficar aqui presa para sempre sem poderes, sem contato com os outros? – Ele me ignorou, abriu o livro e me ignorou. — Responda as malditas perguntas!

Gritei arrancando o livro de sua mão e jogando para o lado, os guardas imediatamente entraram mas com um aceno de mão e a expressão tranquila de Khaos eles recuaram, que perigo eu traria afinal? Mas tinha uma vantagem ali, minha magia não funcionava mas nenhuma magia externa funcionária comigo também.

— Sente-se. – Seu tom de voz parecia severo apesar de contradizer sua expressão, mas assim o fiz. — O sul terá um líder, quando você resolver aceitar isso vai ser a rainha do sul e do norte, é simples.

Me obriguei a rir, rir alto, gargalhar com tanta força que minha garganta arranhou.

— Como todos falavam de você, você é louco e doente.

— O sul é poder, você é poder Melinoe. – Ele se levantou andando até mim mas começando a me rondar sentada naquela cadeira me sentia indefesa. — Eu quero poder, os mais fortes, todas as nações mágicas do mundo temeriam os dois reinos mais poderosos e seus líderes, a gente.

— Por que? Você é forte, seu reino é forte, não precisa de mim. – Olhava para frente, não querendo saber como ele me olhava, como suas mãos parando em meus ombros e começando um crescente aperto me davam vontade de gritar.

— Eu preciso de você, como deixar que um poder desses caia em mãos de outra pessoa? Como deixar que você vá para outra pessoa? – Sua voz foi ficando maior, mais forte, seu rosto estava ao lado do meu e sua boca estava perto do meu ouvido. — Todos tem fraquezas, das criaturas mágicas como eu e você são as rosas da meia noite, mas elas não me afetam, minha fraqueza é outra, é você Melinoe, você é minha rosa da meia noite e tenho que manter minha fraqueza sobre controle

Prendi a respiração até que ele se afastou, rindo baixo.

— O almoço será servido daqui uma hora. Tenho uma pequena reunião, até daqui a pouco querida Melinoe.

O esperei sair da biblioteca, tempo que estivesse longe o suficiente e me permiti respirar.
A força com que levantei foi tão grande que a cadeira caiu para trás fazendo Pearl e os guardas ficarem alertas. Peguei a primeira coisa que vi, um abajur, e joguei em direção a grande vidraçaria dali a quebrando. Pelo grande buraco no vídeo pude ver o jardim lá fora, os criados olhavam para a janela assustados e um pouco longe sentada embaixo de uma árvore estava Celine observando também, não assustada mas intrigada.
Não podia ficar ali sustentando aqueles olhares então me virei de cabeça erguida andando parar fora.

— Chame um vidraceiro por favor. – Foi o sussurro de pearl a um dos meus guardas que cortou o silêncio do corredor.

Não sabia exatamente para onde estava indo, apenas estava. A ideia inicial era ler um livro mas acabou tudo em minutos.

— Pearl o que mais nesse inferno eu posso fazer?

— Vossa alteza você pode...

— Não, não me chame de vossa alteza, me sinto tudo menos alguém da realeza, me chame apenas de Melinoe.

— Senhorita Melinoe pode bordar algo, temos materiais diversos aqui.

Eu andava rápido e ela tinha um pouco de dificuldade de me alcançar com os passos curtos diferente do guarda.

— Materiais diversos...

Outra janela grande parecida como a da biblioteca estava mais a frente, dava visão para um campo de treino onde acredito que os soldados do castelo estavam tendo embates com espadas de madeira.
Observo atenta os movimentos, tinha um em específico que estava no meio da roda de pessoas que parecia chamar atenção, quer dizer, uma.

Uma mulher, 1,80 provavelmente, e parecia ser forte e veloz pela forma que lutava contra um homem.
Os que estavam em volta gritavam palavras de incentivo para o amigo que em poucos segundos foi atingido pela moça na barriga com a espada e levou uma rasteira batendo a cabeça no chão. Deveria ter doído bastante.

A mulher o ajudou a levantar e ele sorriu em agradecimento, deveriam ser amigos em um treino comum, nada do que se preocupar.

Esperava outra luta começar quando os olhos da mulher focaram em mim, sua expressão petrificou e ela fez uma reverência sendo acompanhada por seus colegas que perceberam que eu assistia de longe.
Saí rápido da janela, não sabia se eles de verdade conheciam da minha presença, quem eu era mas eles sabiam que eu era alguém importante.

O almoço estava em silêncio, os criados serviram a comida toda e saíram deixando eu, Celine e Khaos naquela mesa, naquele clima de repúdio

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O almoço estava em silêncio, os criados serviram a comida toda e saíram deixando eu, Celine e Khaos naquela mesa, naquele clima de repúdio.

Era óbvio que eu seria a última a terminar de comer já que a cada garfada precisava esperar para a dor passar e beber água.

— Posso fazer um pedido? – Deixei a taça de água vazia recebendo não só a atenção do Khaos como de sua irmã. — Gostaria de ter um piano.

— Um piano? – A surpresa de Celine era nítida, alta e clara como sua expressão.

— Sim um piano.

Olhei para Khaos que também me olhava curioso, com as sombrancelhas arqueadas e a cabeça apoiada na mão esquerda.

— Terá seu piano, não vejo o por que não. – Acenei vendo Celine se levantar primeiro e sair rápido da sala.

Khaos também se levantou. Fiquei sozinha por um tempo na mesa antes de Pearl perguntar se estava tudo bem e eu acordar de meu devaneio.

Precisava de mais um favor de Khaos mas ainda não tinha conquistado sua confiança, por mais que ele dissesse que me amava ele ainda me machucava então não iria ceder.
Pra ter o que eu queria precisaria que ele confiasse em mim devagar e talvez se afundasse nessa própria confiança.

Rainhas não se Apaixonam Onde histórias criam vida. Descubra agora