Capítulo 22

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O lugar não parecia ruim, onde eu esperava estar se tudo desse errado e eu fosse torturada na eternidade após a morte sobre todas as minhas escolhas de vida. Tudo o que tinha feito, falado, pensado, tinham me levado até aquele momento, não dava mais para se arrepender agora.

Mas não parecia o lugar ruim, parecia como...meu quarto no meu castelo.
A cama ainda tinha o mesmo lençol de antes de eu partir, os travesseiros com fronha perolado também estava lá. Mas todo resto parecia fora do lugar. Não tinha nenhum som em volta, o silêncio era tão grande que dava para ouvir as batidas do meu coração, que não deveria estar batendo tanto assim.

Levantei da cama divagar ainda assimilando todo o espaço a minha volta. A penteadeira ainda estava ali com a minha coroa preferida a mostra, que pareciam pétalas brancas com pérolas. O que me surpreendeu foi o único diferencial, um vestido que não estava ali antes de eu partir. Tão deslumbrante no manequim, com mangas levemente caídas nos ombros brancas, o busto era com tecido preto brilhoso que fazia uma cascata apenas na frente pois a saia que descia do fim da cintura até o chão era um branco incrível, ele brilhava a luz que entrava pela janela, uma lus estranha que não parecia realmente a do sol. Agora entendia o que era aquilo, i vestido da minha coroação.

Seria estranho eu o vestir? Tinha total certeza que aquilo não era real, era um lugar que não sabia como mas estava ali, entre a vida e a morte, ou talvez a morte tivesse reservado aquele local pra mim, o que eu mais amava e ansiava para ter de volta.

Batidas na porta me assustaram fazendo desviar contragosto a atenção do vestido. Era estranho aquele único sim ali mas tinha a sensação de que não estava errado sua existência.

— Querida posso entrar?

— Pai. – Suspirei correndo até a porta e abrindo.

— Filha.

Me joguei em seus braços e ele me abraçou com força como se eu fosse sumir a qualquer instante.

— Pai eu sinto muito, por favor me perdoa eu fui estúpida, não tenho forças para reinar no seu lugar. Não se estou fazendo algo certo ou escolhi esse destino pois sabia que não tinha forças mais para lutar. Me perdoa. – Como uma criança, chorava nos braços de meu pai que me segurou empedindo de cair no chão.

Não tinha ouvido sua voz de novo, não sabia se estava chorando alto demais ou se ele realmente não tinha dito nada.

Seu abraço tão caloroso me fez querer não sair dali nunca mais, era o meu lugar.

Sem perceber ele me encaminhou até a cama. Ele se sentou e eu deitei no seu colo já sentindo o carinho que ele fazia nos meus cabelos. Se era real ou não, não queria que acabasse.

— Minha princesinha. – Seu tom era tão doce mesmo com sua voz que sempre foi forte inspirando poder. — És a melhor coisa que já aconteceu na minha vida e eu não me arrependo de nada, e você principalmente não deveria se arrepender nem pedir desculpas.

— Falhei tanto com todos. Não pude me despedir de você.

— Despedidas são para sempre, ainda não tinha sido para sempre, mas agora será meu bem. – Ele secou as minhas lágrimas quando levantei e me sentei.

— Então estou morta?

O grande rei que eu admirava apenas sorriu e negou. Não usava coroa alguma, ou aquelas roupas caras com tecidos finos e bordados, ali do meu lado era apenas meu pai.

— Não é sua hora ainda minha filha. Você se tornou tão forte quanto sua mãe, e mais linda ainda. Mas você tem uma luta para vencer. – Seu olhar vacilou por um instante. — Sinto muito que tenha que passar por tudo isso, mas nada irá te vencer acredite em mim.

— Pai eu estou sozinha.

— Não, não está e sabe disso. — Suas mãos foram carinhosamente nas laterias do meu rosto. Lágrimas começaram a cair do seu rosto também. – Seu destino é ser uma rainha Melinoe. Não. Você já é uma rainha, tome conta do seu destino, do seu coração e escolha. Se o amor te assusta saiba que depois de rainha, se apaixonar é impossível, você é do seu reino, rainhas não se apaixonam. Você tem que ceder agora pois a escolha é sua e apenas sua.

— Eu queria que estivesse comigo pai, eu preciso de você. – Secando minhas lágrimas tentando engolir o choro.

— Minha vez já se foi minha filha querida, você é pessoa mais forte que conheço e sei que nada é impossível para você querida. – Ele me abraçou. Sentia que agora era uma despedida, real. — Sua mãe e eu estamos orgulhosos da mulher que se tornou Mel, não poderia nos deixar mais felizes.

— Amo vocês pai. – Seu toque pareceu estar ficando mais e mais fraco. Mesmo olhando em seus olhos agora sua face ficava lentamente translúcida. — Eu vou comer coisas saudáveis como mamãe pedia, vou continuar montando a cavalo pela floresta, cozinhar os biscoitos que você gostava, juro que estou sendo bondosa com as pessoas. – As paredes sumiam e mesmo chorando meu pai ainda sorria felizmente. — E vou demorar muito para encontrar vocês por que vou viver feliz por vocês. Obrigado por me permitirem ser sua filha.

— Obrigado por me deixar ser seu pai.

A luz não era quente nem fria, era acolhedora, assim como o abraço dos meus pais.




A luz não era quente nem fria, era acolhedora, assim como o abraço dos meus pais

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Duas vozes distintas estavam perto de mim e eu não precisei de muito agora para saber quem era.
Abrir os olhos para ve-los foi a parte mais difícil. Uma onda de dor me atingiu assim que a luz foi captada por mim, e a silhueta sentada ao meu lado foi focando aos poucos.

— Khaos.

Ele se sobressaltou da poltrona deixando um livro que lia cair no chão. Seus olhos pareciam estar marejados e arregalados.

— Melinoe. – Não foi a voz dele a primeira a me chamar, e sim de Celine que estava sentada numa poltrona mais longe da cama

— Melinoe você...– Khaos não completou a frase antes de se ajoelhar ao meu lado segurando minha mão esquerda a beijando. — Meu deus você acordou, voltou pra mim, voltou.

— Voltei. – Respondi com dificuldade dando um olhar rápido pra Celine que passava a mão nas bochechas, parecia estar chorando. — Quanto tempo eu...dormi?

— Uma semana. Você não acordava, estava morrendo, morreu vezes nos meus braços eu...– Khaos se levantou e sentou na cama me abraçando.

Meu corpo estava bem dolorido e era difícil mexer os braços, mas uma força incomum me moveu, a queimação interior que a muito tempo não sentia.

— Meus poderes? – Sussurrei sem perceber.

Khaos segurou meus ombros sorrindo enquanto examinava meu rosto. Uma lágrima solitária desceu pelo seu rosto.

— Use-os. Agora nada te impede.

Sem esperar, mesmo que ainda fraca olhei para janela vendo vinhas com flores azuis crescerem pela madeira escura. A dor veio rápido e forte e parei no mesmo instante apertando o braço do homem a minha frente.

— Celine chame Amália. – Ele ordenou enquanto me ajudava a deitar sem sair do meu lado. — Nós a temos de volta.

Sorri com aquilo.
Mesmo meu sorriso direcionado a ele meu olhar vacilou por um minuto focando em Celine, era para ela que tinha voltado, e para minha coroa.

Rainhas não se Apaixonam Onde histórias criam vida. Descubra agora