Capítulo 5 - A caçadora

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Alguns dias se passaram desde a chegada de Alice. Seu talento em caçar animais era evidente, tanto, que muitos da tribo ficaram ociosos pelos esforços que a garota fazia. Sua historia se espalhou rápido: muitos começavam a ver como uma deusa. Orihiwe, relutante, não aceitava completamente a ideia, queria ver mais do que Alice era capaz além de matar animais com as mãos nuas. Porém, era evidente de que a garota era diferente de qualquer coisa que eles já viram. Durante o período da tarde, Alice começou a lecionar para os jovens da tribo, não eram muitos, o que permitia que ela se tornasse mais próximas deles. A garota não sabia qual era o próximo passo tecnológico que deveriam tomar, mas, os ensinou a plantar. Alguns brotos de algo semelhante a tomate começaram a nascer, eram frutas gostosas e que abriam o paladar de qualquer um. Nunca foi de ser uma excelente cozinheira, mas sabia o básico sobre como preparar um bom churrasco, por exemplo. Improvisou uma chapa com pedras e cascalhos, fazendo uma pequena maquina arcaica de defumar carne. Todos ficaram maravilhados com o gosto. Suas roupas começaram a se soltar, Anahí disse que não era problema e que ela poderia andar sem, mas, Alice achou melhor não, logo, os caçadores esfolaram um dos animais que ela matou, e alguns outros confeccionaram uma espécie de vestido amarrado com pedaços de algo semelhante a cipós, porém, mais finos e resistentes. Alice achou que a roupa a deixava parecendo um barril, mas era melhor do que andar nua como algumas pessoas faziam. 

De certa forma, fazer tudo aquilo deixava a garota com uma sensação de que estaria alterando tudo o que aquele povo conhecia como verdade, alguns como Orihiwe estavam relutantes a tantas mudanças que estavam acontecendo por conta da garota, mas, era como se suas vidas estivessem mais fáceis. Alice não explicava direito o conceito dos mundos ou dos poderes, mas, sempre dizia que Larsa, ou agora conhecida como Terra dos deuses,  era conectado a vários outros mundos onde os deuses, ou larsianos, ajudavam as pessoas. Tudo aquilo não entrava na cabeça do líder dos nativos, que se recusava a aceitar aquelas coisas como verdades, mesmo que seu povo estivesse vendo assim.

Norami permanecia acamado, falava pouco. Certamente, seu corpo combatia uma infecção, mas parecia estar ficando melhor, as febres pararam, e ele conseguia dizer que as dores e calafrios começavam a cessar. Anahí mal saia de seu lado, sempre cuidando dele. Alice achava isso, de certa forma, fofo, mas, ao perguntar a idade de Anahí, ela disse ter vinte e sete anos, ela era onze anos mais velha que Norami. Não questionou nada, apenas aceitou que estava tudo bem para eles. Orihiwe nunca visitou o filho, sempre permaneceu longe da cabana dele, as poucas vezes que entrou foi para chamar Alice. 

Agora, ela estava sentada ao lado de Norami, Anahí e aquela senhora que sempre cuidava dele, que se revelou sendo Anihala, mãe de Anahí. As duas tratavam do garoto como sendo o próprio filho, de certa forma tinham idade para serem mãe dele. Mas, naquele momento, todos ouviram o garoto acordar. Norami desperta, tentando se levantar, era a primeira vez que o garoto se esforçava em dias. Estava fraco, não comia nada. Anihala ofereceu carne defumada que Alice fez para ele, mas, a garota recomendou não alimentar o garoto ainda com isso, pois ele poderia vomitar. Assim, fizeram uma grande salada, com pequenos cubos de carne para ele se acostumar. 

Naquele momento, enquanto Norami comia, Orihiwe entra na cabana. A raiva transparecia seu rosto, e o clima, de felicidade, se tornou pesado. O líder olhava o próprio filho com nojo, Alice era a única que olhava para todos. Anahí permanecia de cabeça baixa, Anihala olhava para Norami, e o garoto para o pai. Tudo parecia congelado, até que Orihiwe cita Alice:

-Cabelo de sol, vamos. - Ele sai e deixa as pesadas cortinas de mato e palha balançando. Alice olha para Norami, e percebe a afeição de tristeza por ver o pai após tanto tempo e ter tido aquele recebimento. Ela sai, afastando as cortinas, o sol incomoda seu olho até ela perceber onde Orihiwe estava. Alice caminha rápido até ele, que começa a falar. - Temos um problema...

Crônicas dos Mundos (Livro 2) - Domínios do LeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora