Crônicas dos Mundos (Livro 2) - Domínios do Leão

Capítulo 27 - O que está na sua frente?

Antônia observava o tatu das areias terminar de devorar o corpo de Graciliano, totalmente destroçado, agora era apenas um amalgama de carne, osso e sangue na boca daquele animal. Nem ela, muito menos Remiel, tinha alguma empatia por aquele homem das terras distantes, mas estavam assustados com a brutalidade que ele foi morto. Era apenas um fraco e despreparado, diferente dos dois anões. Mesmo que por dentro fosse um completo lixo, Antônia sempre foi o tipo de mulher que quer acreditar que as pessoas podem mudar, e imaginava isso de qualquer um, mesmo que corresse certo risco em ter um pensamento assim. Já Remiel pensava o contrário, odiaria pessoas que o fizessem mal, mas, em geral, sempre mantinha pensamentos neutros sobre quem não conhecia. Porém, naquela situação, conseguiam ouvir cada mordida que encerrou a vida de Graciliano, assim como grunhidos de dor, que se cessaram rapidamente. Cedril se aproxima, sua postura era de enfrentar aquele animal selvagem, sua cabeça estava baixa, mas seus olhos para cima, fixando naquela cena. As sereias Adela e Arista permaneciam circulando a arena por fora, as vezes se arrastando pelas paredes e subindo até um ponto onde podiam ver. 

-Querem fazer as honras? - Cedril para proximo aos anões, enquanto todos observam as ultimas mordidas do animal. A boca dele estava completamente suja de sangue, e se assemelhava mais a um monstro do que outra coisa. 

Antônia solta um grito, chamando a atenção daquele ser, que ja estava um pouco machucado, mas ainda tinha forças para lutar. Ela levanta o martelo, preparada para acertar o tatu. Remiel grita tentando impedi-la, sabia que era um movimento falso, que eles estavam sendo influenciados a lutarem um a um contra aquele ser, enfraquece-lo, para então Cedril mata-lo. O anão olha para a elfa:

-Você planejou tudo isso com as sereias, não foi?! - Ele grita apontando o dedo, porém, é congelado pelo olhar de Cedril.

O tatu percebe Antônia correndo em sua direção com o martelo, ameaçado, ele tenta rapidamente fazer um giro e acertar a anã com sua cauda. Porém, todo seu movimento é cancelado pela elfa da floresta. Algo inusitado por parte dela, mas Cedril acaba de salvar Antônia de um golpe certeiro. O tatu se projeta para longe, se afastando ao outro lado da arena. Antônia e Remiel ficam boquiabertos, não esperavam isso de um elfo da floresta, muito menos de Cedril. 

-Ele está cansado. Está tão apavorado quanto vocês. 

-Desse jeito, será uma roleta para determinar quem vai mata-lo. - Retruca Antônia. 

-Que tal a gente apenas atacar ele até que ceda? - Remiel conclui. Ele sabia que, as chances dos anões fazerem o golpe final era mais alta que a elfa sozinha. 

Cedril apenas olha para ele e acena, os três começam a correr. 

Encurralavam o tatu, de todos os lados, o prendiam com as costas em uma parede. Ainda assim, ele era grande de mais para não se prestar atenção, Remiel fez o primeiro movimento, e logo levou uma patada com aquelas garras enormes, que abriu uma ferida profunda em seu braço. Seu martelo ja estava quebrado, porem o de Antônia podia ser usado ainda, e assim ela fez, acertando aquela arma contra o cotovelo do tatu no mesmo tempo que ele acerta Remiel. Cedril aproveita e pula alto proximo a cabeça do animal encurralado, mas ele apenas gira a face, acertando uma narigada em Cedril antes mesmo dela conseguir desferir um golpe, e é jogada para longe. Sua agilidade a permite se posicionar no ar, segurando sua adaga, ela se arrasta por alguns metros na areia, com os dois pés e mãos no chão, controlando para não cair desengonçada, e logo parte correndo de novo para desferir outro golpe. Antônia puxa Remiel para longe, e as areias ficavam marcadas com alguns pingos de sangue. 

-Eu estou bem, pode continuar, amor! - Remiel estava agitado, talvez a adrenalina estava o fazendo muito bem. A mulher anã sorri de maneira tímida, preocupada, logo acena e volta a correr para o tatu.