Prologo

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Uma nova estrela caia nesse mundo. Descendo dos céus, um brilho amarelado alertava todos de que algo estaria chegando. Quente, talvez, tão incandescente como o sol. A noite se tornava dia, e os céus gritavam de desespero, era como uma pequena alvorada, o nascer do caos. E lá estava ele, entre as arvores e matos abundantes daquele local, vendo aquela estrela descer perto. Conseguiria alcançar sua queda caso corresse um pouco, mas, com os pés já descalços, cada passo que tentava dar doía como uma faca ao pisar nos cascalhos e pedras da floresta. Mas, aquele era o presságio, a profecia que sentiu, a única que viu em toda sua vida. Uma oportunidade de voltar a morar com os seus, de se mostrar útil, se mostrar como alguém que foi injustiçado. Mesmo que pudesse fazer algo muito maior que apenas profecias, talvez, seu deus tenha lhe concedido aquilo apenas para testa-lo.

Ignora a dor. Corre com toda sua velocidade. A estrela cai, aos poucos, e seu brilho se tornava cada vez mais amarelo, até que ele chega exatamente abaixo dela, onde iria cair. "Nunca vi uma estrela cair em linha reta", ele imagina. Mas, o fato era de que aquilo estava caindo perfeitamente acima dele. Não sabe o que pode acontecer, não sabe o que aquela profecia iria trazer, sentia, no entanto, o caos chegar, a agitação dos animais a noite, os insetos voavam desorientados, as arvores tremiam e chacoalhavam, dos seres mais minúsculos, aos maiores, tremiam e temiam, exceto por ele, sua barriga sentia o gelo da situação e da noite. Mas, antes de tocar o chão, a luz some.

Ele fica olhando para o céu. Todas as criaturas, que a segundos atrás estavam agitadas, se acalmaram. Era como se o pior tivesse passado, como se nada fosse mudar com aquilo. Havia perdido sua oportunidade, a profecia sumiu. Mais uma vez, deixou a profecia passar entre seus dedos, estava quase lá, mais um pouco poderia agarra-la, poderia se tornar o que nasceu para ser, poderia concluir seu objetivo e alegrar a todos que esperavam aquilo. Mas, a luz se cessou. Ficou lá, esperando, talvez seja apenas um estágio da profecia, desaparecer perante os olhos. Não tinha mais para onde ir, então apenas ficou parado, esperando algo mais surgir entre as estrelas do céu. Mas esperou em vão, nada vinha, nada aparecia. Abaixou a cabeça, diminuiu os olhos. A calmaria atual dos seres daquele mundo mostravam o que realmente aconteceu: perdeu outra profecia.

Se levanta, o frio da noite estava penetrando sua alma, iria voltar para sua pequena cabana e voltar a acompanhar os movimentos de seu grupo, esperando um dia que seu objetivo fosse concluído.

Mas, ele pisa em algo macio, tão macio quanto terra molhada.

Ele viu aquilo.

A mão branca e suja de terra, quase como um anjo dos mitos e lendas que lhe foram contados, um esplendor que aos poucos se deixava de reluzir, um brilho que aos poucos começou a se apagar da pele daquele ser. Naquele momento ele soube o que sempre buscou, soube e confirmou em sua mente, e em seu coração, que sua busca terminou.

Era sua esperança.

Era sua profecia.

Uma garota, com cabelos amarelos, tingidos de vermelho, totalmente machucada, deitada com os braços próximos a cabeça. Um braço normal, enquanto o outro braço se assemelhava a de um gato. Ele rapidamente se abaixou, checou se estava viva, e ela respirava. Se levantou de novo, e ficou observando ela por um tempo, era como se aquilo era seu objeto de valor, mas, era uma pessoa, sua profecia era uma pessoa. Pegou ela no colo, mas, a garota não acordava. Caminhou por alguns metros e quase tropeçou, aquele ser esquisito era maior que ele, mal cabia em sua mão, e ele mal tem forças para carrega-la. Mas, continua, não iria ceder, não iria entregar aquilo que seria a única gota de esperança que havia tido no ultimo ano. Apenas via seus familiares e sua tribo morrerem, precisava ajuda-los de alguma forma. Rezava ao seu deus todo dia, esperando a força que lhe foi dada ser o suficiente, esperando uma forma de poder lutar, esperando uma forma de protege-los e salva-los. E, mesmo que essa forma seja uma garota esquisita e suja, ele aceitaria, a carregaria e a manteria viva.

Crônicas dos Mundos (Livro 2) - Domínios do LeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora