Capítulo 12 - O feto maldito

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O dia seguinte começou, de certa forma, agitado. Após ajudar Magnólia, que ainda permanecia inconsciente e sendo ajudada por Bereth também, Alice se prontificou a carregar algumas coisas de outros nativos floresta a dentro. Coisas como peles e madeiras trabalhadas eram as principais, qualquer outra coisa que pudesse ser considerava peso extra estava sendo deixada para trás. Anahí pretendia anunciar a gravidez a todos da tribo nesse dia, esperando uma reação positiva principalmente do pai de Norami, Orihiwe, que sempre andava na frente de todos. Bereth e Alice ficavam preocupadas com o fato de que Magnólia poderia estar gravida, pois sua situação era péssima, mal comia e apenas bebia as raras vezes que conseguia se manter acordada por alguns minutos antes de desmaiar por mais varias horas. E, caso fosse realmente isso, o pai da criança que esta crescendo na barriga de Magnólia fugiu e sumiu na floresta. 

Nada disso era tão incomodo para a garota nesse momento, as memorias, até que recentes de toda a tragédia que aconteceu em Larsa ainda estão bastante frescas, mas Alice conseguia se manter mais calma agora. Sabia que nada podia voltar no tempo, que nenhuma das ações que fez mudaria algo no passado, mas sentia que cada passo que continuava a dar não era apenas uma afronta ao destino que havia pregado essa grande peça nela, mas sim um sinal de respeito a todos seus amigos mortos, a ultima ação de Lemur. "Ah, Lem...", Alice para de novo, olhando para os nativos que carregavam as peles, "Se ao menos eu tivesse conseguido te salvar", ela termina e volta a andar. Alice de fato amava Lemur, queria ter passado mais tempo com ele, queria ter aproveitado mais seu amor, apenas conseguia se lembrar de Matty arrancando a cabeça do jovem rapaz. De longe, avista Orihiwe, com certo peso em uma espécie de sacola de pele improvisada e molhada. Resolvendo se aproximar, Alice logo percebeu por que ele estaria só com aquela sacola: o cheiro de peixe invade o nariz dela, projetando um certo receio em se aproximar, mas, o cheiro desses peixes era de longe tão ruins quanto os peixes de Larsa, que lembra de ver nas feiras quando ia com sua mãe nos dias vagos de trabalho dela. 

-Quer ajuda? - Ela diz a Orihiwe, que a olha de cima a baixo. Norexi certamente não sabia se Alice estava incomodada ou não, mas via nos olhos da garota a nostalgia daquilo, sabia que ela estava lembrando de sua antiga casa. Ele apenas estende a sacola, com certa força, e Alice pega aquilo, usando pouco da sua força. Orihiwe continua a olhar para ela, e os dois caminham junto com o fluxo de outros guerreiros que tomaram a frente para o lider dos nativos descansar. 

-Eu sei que a senhora sol disse bastante sobre sua... - Norexi pensa um pouco. - Sobre seu mundo. 

-Sim, e de longe é o que vocês conseguiriam compreender. 

-Alguns de nós são bem mais interessados nesses assuntos que outros. - Orihiwe acena a cabeça para algumas crianças que observavam Alice de longe. Ela olha na direção das crianças. - Sabe, Alice Ven, eu não te aceitei aqui atoa, eu sei que você é forte o suficiente para proteger nosso povo, mas não é apenas isso. - Os dois continuam a caminhar passando dessa vez por uma raiz de arvore. Alice percebia que a floresta ficava mais aberta a cada hora que continuavam a andar. - Eu quero que você veja com seus olhos o que vai acontecer quando chegarmos nas Oito Vitórias, é difícil explicar assim, mas, Netzach é muito mais poderoso e amedrontador do que você pensa, e eu vi Alice Ven, eu vi em você um poder que rivalize com aquele deus. - Alice ficou um pouco perdida nas palavras de Norexi, como Orihiwe, ele estava tentando proteger seu povo. - Como Orihiwe, eu estou tentando proteger todos do meu povo, mas, ele, aquele deus, é tão poderoso ao ponto de que não ousamos enfrenta-lo. 

-Não precisa se explicar, Orihiwe...

-Pode me chamar de Norexi, Alice Ven. - Os dois se olham por um tempo. 

-Eu vou fazer de tudo para... - Alice pensou nas suas palavras, mas, antes de proferir elas, algo a beliscou. Era como um choque, que passava do topo de sua cabeça até a ponta de seus pés, deixando ela fraca. Ao mesmo tempo, ouviu aquela mulher dizer, ouviu aquela voz que a incomodava desde que chegou naquele mundo: "Destrui-los, é isso o que você faz". Alice cambaleou tanto que Orihiwe mal teve como ajuda-la até que a garota se recuperasse por si só, alguns dos peixes que ela carregava caíram, e uns soldados soltaram sons de reclamação e zumbaram de Alice por um momento. 

Crônicas dos Mundos (Livro 2) - Domínios do LeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora