Capítulo 35 - Despertar e despedida

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As Oito Vitórias não faziam mais sentido. Alice estava deitada na areia, sua roupa, que os yanomamis lhe deram, estava totalmente rasgada, mas ficava em seu corpo. Ela se sentia... estranhamente normal. O céu não estava mais carmesim, o azul reinava de novo, e o vento soprava as areias em sua boca, que tinham um gosto horrível. Ficou assim por alguns minutos, esperando que alguém fosse chama-la, mas nada. Logo, se levanta. Sua respiração estava um pouco cansada, como se seus pulmões estivessem com agua.

-Cheshire? - Ela chama, mas, o gato não responde. 

Ela caminha um pouco, percebe sua perna e braço de gato, ainda estavam lá. Mas, só por via de duvidas, ela estende a mão e tenta lançar um daqueles poderes que lembrava que tinha e, voilà, uma rajada carmesim atravessa os céus. Um sorriso se abre de orelha a orelha, mas, logo se fecha. Alice lembra de todos os que se sacrificaram para isso. Agora, ela não podia fazer muita coisa, tinha que sair de Miquilandir, e seria mais seguro se ninguém fosse com ela. O problema é: onde estão os portais? Netzach mudou eles de local, e isso pode complicar, se o leão puder fazer isso toda hora, seria um grande problema. 

Logo Alice se lembra da luta, se lembra de Netzach, assim, solta um grande pulo, com mais facilidade do que tinha antes. Olhando ao redor, não podia ver Netzach, o leão havia sumido, apenas algumas pessoas estavam jogadas, e um corpo cremado: Bereth. Ao pousar de novo, Alice questiona se seria certo procura-los depois do que ela fez, e chega a conclusão de que não. Cheshire pode encontrar ela eventualmente, até por que seu poder envolve ele, como uma invocação. Assim, ela começa a andar, mas, uma voz feminina a chama:

-Garota... - Parecia sofrer. - Venha aqui... - Como se fosse suspiros.

Alice segue o som, e encontra uma mulher branca e magra, de maneira não saudável. Seus ossos apareciam, seus peitos estavam murchos e extremamente enrugados, suas pernas pareciam palitos, mas esbanjava um cabelo ruivo alaranjado enorme e belo, talvez do tamanho de seu corpo. Estava atirada no chão, e sua pele parecia quebrar, literalmente quebrar, como vidro jogado. 

-O que houve com você?! - Alice fala se aproximando, mas, antes de encontrar na mulher, ela retruca. 

-Não... não me toque criatura vil. - Essas palavras lembram Alice um único ser. 

-Netzach...?

-O que achou da minha forma verdadeira? - Ria de maneira fraca e com o canto da boca. 

-Como? 

-Eu sou um deus, criatura ridícula. Se você não sabe manipular seus poderes de divindade, eu deveria me levantar e te matar agora mesmo... - Netzach tosse, a areia proximo a sua boca voa com o vento. - Não acredito que perdemos para ele... 

-O que você quer dizer? - Mas, antes de terminar sua frase, Netzach volta a responder.

-Nós duas perdemos para Geburrah, garota. Você pode estar no controle agora, mas, até quando? - Aquilo fez Alice ficar pensativa, e, realmente. Da primeira vez que despertou seus poderes, entreva em estado de fúria e despertava a Alice negra, ou melhor dizendo, despertava Geburrah, com facilidade, até mesmo certa frequência. - Eu deveria ter lhe matado, quando tive a chance. Você andou por esse planeta, toda aberta, cheia de brechas, mas eu queria acreditar que não era ele, queria acreditar que Geburrah jamais pisaria nesse mundo e isso não fosse acontecer. 

-Não precisa se preocupar, eu vou... - Alice é interrompida de novo. 

-Calada garota! - A voz de Netzach estava voltando, e ela estava fazendo Alice prestar atenção, mas, com certa pena. - Você não sabe, não sabe de nada!

-Então me explique! - Alice retruca, confrontando Netzach. - Me explique as coisas, você acha que eu quero continuar na ignorância? Acha que eu não estou curiosa pra alguém me explicar que papo é esse de "alma de outra realidade"... - De novo foi cortada.

Crônicas dos Mundos (Livro 2) - Domínios do LeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora