Capítulo 29 - O silencio

1 1 0
                                    

Tudo estava quieto. A garota gato só podia observar para dentro daquele corredor que a tirou daquela construção. Agora estava sozinha, sentada, com os braços apoiados nos joelhos e mexendo o maxilar enquanto morria de tédio. Mas, aquela sensação dentro dela a fazia ficar tranquila. Um alivio, como se tivesse vencido algo, como se tivesse ganhado um presente. E isso tinha ligação com Netzach. Ver ele tão nervoso, mas, ao mesmo tempo não ter a matado ali mesmo, foi como um dos maiores presentes que ela poderia receber, não a vida, mas sim, ver a cara de irritado e desentendido que o leão fez aquela hora. Lembrando disso, ela solta uma pequena risada, quase sem som, e o ar que saiu de seu nariz mexeu seu cabelo e pelos do braço de gato que ela estava apoiada. Ao menos, depois de gargalhar por tanto tempo, conseguia respirar aliviada. 

Não estava tão preocupada com seus amigos nesse momento, imaginou que, por causa da presença de Netzach, eles não iriam se matar lá dentro, pelo menos não de maneira desorganizada. Ele era um sádico que gostava de ver as coisas pegarem fogo, mas ainda era requintado, mantinha postura todo tempo, e isso irrita Alice de alguma forma, ou irrita a Geburrah? De qualquer forma, os sentimentos dela passam para aquele deus, e os sentimentos daquele deus passam para ela, era um dos fardos de possuir aquilo, como se os dois não pudessem guardar segredos um do outro. E, envolta nesses pensamentos, Alice sente um certo desconforto. Se ela sente o que aquele deus sente, e ele tambem sente o que Alice sente, então Geburrah sabe que ela pretende subjugar ele e tomar os poderes de novo, controla-lo. Talvez, por conta dela não ter acesso a aquela parte de sua alma agora, isso tenha a protegido contra as tentativas de Geburrah de tomar o poder. Porém, ela apenas acredita nisso pois não sentiu quando matou os bokolos. Aquela tentativa foi falha, mas, era Geburrah tentando tomar seu corpo. Apesar de saber que isso aconteceu, não se lembra da sensação, mas, sentiu que alguém a salvou naquele momento. "Cheshire", ela pensa. "Mesmo estando dentro de mim, eu ainda sinto você tão distante", falou para si mesmo, esperando que ele pudesse ouvir. 

Alice se livra dos pensamentos por um momento, teria chances de raciocinar isso depois, agora, queria aproveitar e descansar um pouco mais. Sentia o vento quente e seco do deserto bater em seu rosto, mexer seus cabelos e pelos. Não era exatamente como queria estar, depois de tanta coisa ruim que aconteceu com ela, mas, já passou o tempo de luto, agora era hora de lutar. Ainda doía, ainda tinha falta de todos, principalmente de sua mãe e Lemur. Estava preocupada ainda com Maria Ven, e seus amigos. Não sabia se estavam vivos, mas torcia para que sim. Imaginou se Harah conseguiu salvar a todos. Queria ter visto uma luta entre ela e Matty, mas, por sorte, Lemur conseguiu dar um ultimo suspiro e tirar ela daquele lugar, ou agora o comandante supremo teria poder de três deuses. "Livra desses pensamentos!", ela volta a pensar, mas, toda vez que tentava se sentir calma, tudo voltava a mente dela. "Eu estou realizando meu sonho, posso viajar e conhecer os mundos", contra argumenta com ela mesmo. "Mas, eu ainda tenho coisas para cumprir antes de viver de apreciações", Alice sentia o peso do fardo que carregava, mas, não queria viver nisso. Ela queria apenas ser Alice Ven. 

Netzach observa todos quietos e calmos. Era uma segunda prova mental, mas, dessa vez envolvia mais a capacidade de alma de cada um, do que necessariamente resistir a dor, como foi a primeira prova mental que tiveram. O deus desse mundo estava apenas a sentir, e, de todos, cogitou que o menino Norami era o ser mais proximo de ganhar essa prova, mas, algo o incomodava. Norami tinha energia de alma suficiente para suportar dois poderes, tanto o poder de vidência, que estava sumindo do garoto por conta dele ter um filho agora, tanto o poder de raios, um emissor, e, por conta de tudo o que tinha e como funcionava seus poderes, era quase incapaz dele suportar um terceiro, mas, Netzach queria ver até onde os poderes podiam se limitar. Para ele, Norami vencer as Oito Vitórias seria bom, era a cobaia perfeita para ver como a interação dos poderes funcionaria e o que ele poderia explorar. Por conta desse motivo, Netzach aliviou a pressão mental no garoto Norami. Não era justo com os outros competidores, mas, ele era o deus desse mundo, ele podia fazer o que bem entender. 

Crônicas dos Mundos (Livro 2) - Domínios do LeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora