Crônicas dos Mundos (Livro 2) - Domínios do Leão

Capítulo 11 - As crianças da tribo

Alice caminha pela nevoa mais opaca que já viu. Por um momento, se esqueceu de como chegou aqui, apenas continuava a caminhar, quando percebeu onde estava. Logo se lembra do mundo onde estava, toma consciência de seu ser, se lembra de sua própria vida, era como uma segunda nascença. O cheiro da nevoa é estranho, quase como enxofre, e ela sentia aquilo tremular conforme mexia seus braços e pernas. Por um momento, se esqueceu que seu braço e perna direta eram semelhantes a de um gato, semelhantes a de Cheshire agora, estavam normais, os braços normais que Alice deveria ter. A sensação era boa, mas sentia também como se tivesse deixado algo que não deveria se esquecer para trás. Aquele vestido azul com detalhes brancos era seu preferido quando estava em Larsa, e agora, trajava ele. A elegância era tanta que a garota continuava andando na nevoa tentando admirar a própria roupa, se sentia bem com ela, como se aquilo fosse seu uniforme pessoal. O clima gostoso, nem muito quente, nem muito frio, talvez, no ponto exato que Alice gostaria de viver. Queria ficar ali para sempre, sabia que deveria resolver algo, sabia que não era aquele seu lugar, mas se sentia egoísta por alguns minutos, queria relaxar por alguns minutos, mesmo sem saber do que estava se escondendo. A floresta é a ultima coisa que tem em sua mente. Então, um vento começa a uivar.

Um vento que balançou os cabelos de Alice para trás com tanta força que sentia sua cabeça sendo puxada, sua roupa se colocou ao corpo, Alice se virou um pouco e ela continuou seguindo o fluxo do vento. Achou estranho, não se lembra direito, mas tem a sensação de que ventos geralmente não deveriam durar tanto tempo, e, naquele momento, ouve algo. O silencio foi quebrado, alguém clamava o nome da garota, tentava chama-la, tentava acorda-la, mas ela apenas ignora de começo. No entanto, a voz da mulher se torna mais alta, mais próxima. O medo começa a tomar seu coração, ela olha para os lados, mas não via ninguém, nem uma silhueta, nem uma pessoa, nem mesmo uma sombra. Apenas a voz chamava ela, como um dos muitos filmes de terror que começaram a virar moda em Larsa. 

"Alice", ela ouvia. "Alice", de novo, mais próximo do que da outra vez. "Alice", o tremular a deixava em suspense, com medo, com aflição. "Alice", aquilo certamente estava tentando assusta-la, até que sente algo bater em seu corpo:

-Alice! - Ela desperta com a voz de Norami. 

O garoto olhava para ela, com um olhar um pouco preocupado. Alice se senta, olha de volta para o garoto, sua mente ainda está em branco. Sente que estava se esquecendo de algo, mas, mesmo usando todo esforço da sua mente, aquele sonho não se repete agora que ela está lucida. 

-Esta tudo bem com você? - O garoto pergunta.

-Sim, aconteceu alguma coisa? - O sol era perceptível pelas fendas das cortinas da cabana, que ainda estava rasgada pelo ataque dos bokolos. 

-Você estava sonhando.

Alice apenas franzi a testa, olha para o chão, e em seguida para o nada, seu olhar fica morto enquanto ela tenta se lembrar do sonho que teve, achou que era importante, como se alguém estivesse tentando acha-la, mas nada, absolutamente nada aparece em sua mente, apenas a duvida do que deveria se lembrar, de algo importante que deixou para trás, quase como algo que foi jogado em outro mundo e esquecido.

Alice se levanta, não falou muito com Norami por preocupação que residia em sua mente. Ela afasta as grandes cortinas, mas ao colocar seu braço direito nela, percebe a pata de gato no lugar de sua mão. Aquilo a fez pensar, deveria ver algo, deveria se lembrar do que aconteceu naquele sonho. 

-Alice, tem certeza que está bem? - Norami dizia com um sotaque mais forte dessa vez. A luz do sol agora entrava completamente na cabana.

-Sim, Norami. O que mais estaria errado? - Alice olha para ele sorrindo e acenando para seu braço felino. Os dois tiram algumas risadas daquilo, era como um sarcasmo um pouco do mal, mas a própria garota estaria fazendo consigo mesma.