Capítulo 2 - Mergulho indesejado

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"Ah, garota. Tem algo errado..." 

Alice desperta com a voz de Cheshire em seu ouvido. Rapidamente ela o procura, de um lado para o outro, mas, a cabana escura naquele ambiente impossibilita ela de ver algo imediatamente. Sabia que aquilo foi um sonho, criado pela sua mente devido ao abalo emocional que estava passando. Seu rosto sente as lagrimas secas que chorou na noite passada, lamentos de sua alma. No fundo, esperava que Cheshire aparecesse, esperava que acordasse de um sonho e que nada daquilo fosse real. Infelizmente não era, seu coração ainda dói, sua mente ainda está perturbada.

O barulho da floresta e o clima quente, úmido e abafado não são tão ruins para seu corpo. As cabanas que Norami construía eram agradáveis, e bem protegidas. Norami não era de falar muito, alertava Alice sobre onde pisar próximo ao rio, enquanto desciam a correnteza, ele dizia sobre animais peçonhentos que gostam de fazer ninhos próximo as margens, e sobre outros animais que nadavam e vivam em meio as aguas, o que Alice levou, usando as características que o garoto passou, como sendo repteis. O mundo em que a garota caminha é, de fato, uma floresta deslumbrante e de tirar o folego com tantos animais. No entanto, pouco era a capacidade de ver quando se estava em meio aquelas arvores, e o ambiente logo abaixo das arvores não era exatamente agradável para quem sempre foi acostumada com uma cidade.

As vezes, atolava o pé em uma poça de barro, não chegava a afundar muito, exceto uma vez que quase toda sua perna foi engolida. Mas, o garoto a ajudou sair daquela poça, o que deixou sua perna direita extremamente encardida. Ela olha para aquilo, toda a pelagem fina estava extremamente suja de um barro quase cinza. Norami não parece achar aquilo anormal, mas para Alice era muito incomodo. 

-Droga, vou tirar isso na agua... 

-Não! - Norami tenta puxar o braço de Alice, que descia em direção as margens do rio. - Eles estão nos seguindo desde que chegamos a beira do rio. - O garoto aponta para a agua. Inicialmente, Alice não enxerga nada, mas Norami faz alguns movimentos com o braço, apontando para o rio, fazendo assim Alice perceber uma certa mudança na maneira que a agua se movia. Era como se um rastro, bem fino, estivesse sendo deixado por algo que permeava a agua, quase como uma toupeira aquática. Os dois ficaram olhando para o rio por um tempo. - São crocodilos... 

-Croco... o que? - A palavra pareceu diferente para Alice, nunca ouviu o nome de tal animal. 

-Crocodilos. Eles tem uma carapaça que os protege e ajudam a nadar, assim como um rabo, forte. Se golpeado for, machucado estará com certeza. - Norami desce um pouco, pega um punhado de terra e pedra que se misturavam, e joga no rio em direção a aqueles rastros na agua. Nesse momento, um grande ser pula de dentro, como se fosse ativado pela perturbação que Norami causou. Alice podia ver o que o garoto relatou: uma carapaça escura, quase cinza, uma grande boca estendida com um bico e nariz, assim como a calda, com coisas semelhantes a nadadeiras que se estendiam por todo o corpo do animal, enquanto ele se virava no ar e mergulhava com tamanha clareza e magnificência de volta a agua, deixando, por um momento, as aguas do rio completamente turvas. - Eles são caçadores, marcam uma presa e a perseguem.

-Quer dizer que eles nos colocaram como presa?

-Sim. Se próximo da agua não estiver, problemas não terá. Mas, caso de um paço em falso, ele arrastará para dentro. - Norami da uma pausa dramática enquanto volta a se ajeitar perto de Alice. - Ninguém que foi pego pode escapar. 

A garota fica em silencio. Não era como se, usando seus poderes, pudesse se virar contra aquilo, mas o fator surpresa poderia acabar com a vida dela. 

Eles continuam a descer o rio. Ela pensava em varias coisas, tentava bolar um plano para voltar a Larsa, mas sabia o quão arriscado é. A raiva a movia agora, a agonia de saber que não pode fazer nada, de ter sido incapaz de despertar seu poder na hora que mais deveria, essa agonia deixa Alice com os dentes cerrados. A dor da perda de entes queridos consome seu coração, queria chorar, sentia seus pulmões falharem as vezes, um nó na garganta. A incerteza de saber o que realmente estaria acontecendo. E Norami percebia que algo está errado com ela, mas, para ele, Alice é quase como uma deusa.

Crônicas dos Mundos (Livro 2) - Domínios do LeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora