Love x Friends

Capítulo 2

— Ainda acho que não devia ter batido no Desmond. — disse Becky.

— Mas você disse que estava tudo bem. — Anya desenhava na última folha do caderno para descontrair, enquanto a aula não começava.

— Concordo. Mas depois parei para pensar, e percebi que foi uma besteira. Não devia ter caído nas provocações dele. — observava a movimentação que ia e via da sala — Ainda bem que o Henry já está acostumado com vocês sempre brigando por aí, e só deu uma sermão nos dois.

— Ahãm. — mordeu os lábios, se esforçando para desenhar algo que a Becky deduziu ser um alienígena.

"Um alien"?

Anya olhou para a garota, pasma.

"Não! E um espião!" pensou, analisando o desenho de todos os ângulos, concluindo que a Blackbell não entendia nada de arte.

— Concordo que aquele idiota merecia muito mais do que um soco — continuou. — Mas já reparou o quanto Damian faz questão de te provocar?

— O que quer dizer? — franziu o cenho.

— Talvez ele goste de você, Anya. — sorriu.

Anya olhou para a amiga como se estivesse ouvido o maior absurdo de sua vida. Como se tivessem lhe dito, que todos os amendoins do mundo tinham sido dizimados. Ou tivesse ganhado uma passagem sem volta para o mundo dos estudos eternos.

— O metido? — murmurou, olhando para trás onde Damian estava sentado.

Como sempre o rapaz tinhas olhos cravados nela, e sempre virava o rosto ou fazia careta, quando seus olhares se encontravam. Mas desta vez, por algum motivo tinha as bochechas vermelhas.

— Você deve estar vendo mal. Olha bem para a cara do metido, ele está vermelho de raiva! — Becky espiou por cima do ombro, comprovando o argumento da amiga — Ele não gosta de mim e eu não o suporto!

— Talvez eu tenha me enganado. Obviamente, alguém do nível dele nunca se apaixonaria por uma esquisita feito você.

— "Quem? " — a encarou mortalmente.

— Já vi diversas vezes nas novelas, onde o galã, rico, se apaixona pela mocinha pobre e ela por ele. E no final, os dois se casam apesar das famílias não se darem bem. — suspirou, apaixonada — Tudo pelo amor. Ai ai!

— Você tem que parar de ver novela.

— Mas parando para pensar, você vivia seguindo o Desmond pelos cantos, feito uma stalker ambiciosa. — desviou a atenção para o caderno aberto em cima da mesa — Talvez seja você quem goste dele.

Anya piscou.

— Eu gosto um pouquinho do metido. — disse — Apesar das nossas brigas e o que aconteceu no passado, também não o odeio.

Becky balançou a cabeça em negação.

— Não é esse tipo de "gostar" que eu estou falando.

— E tem outro tipo de gostar?! — ergueu uma sobrancelha.

"Tadinha, ela não entende nada mesmo." Becky lamentou. Ainda teria de ensinar muita coisa para amiga inocente.

Pensativo, Damian observava a garota de cabelos de algodão doce há poucas cadeiras de distância, cochichar com a amiga ao lado. Daria tudo para ouvir o que diziam, ou pelo menos entender o motivo de tanta conversa. Vez ou outra, acabavam falando mais alto que o normal, atraindo olhares ao redor da sala. Em uma desses escapes, ele se viu surpreendido sorrindo consigo mesmo, admirando a Forger disfarçadamente.

Ela era fofa. Sorridente. Porém, ainda muito agressiva. Na bochecha esquerda marcada por seus punhos de ferro onde agora um curativo repousava, existia apenas um latejar ardente. Para seu alívio, a dor tinha ido embora. Mas as recordações daquele primeiro encontro, faziam questão de atormentá-lo.

— A direita dela ainda continua forte. — murmurou.

Distraído, novamente tinha sido pego pelo furação rosa. De olhos erguidos em sua direção, Anya o encarava, impenetrável. Sem desviar o olhar. Fazendo seu coração falhar uma batida.

Damian virou o rosto para o lado com indiferença, fingindo não vê-la. Mas não o suficiente para enganar Emile e Ewen, que apenas se entreolham, seguido de um suspiro longo.

— Senhor Damian, por quê não fala para ela? — disse Ewen.

— Já passou da hora. — acrescentou Emile.

— Do que estão falando? — se virou na direção de ambos, confuso.

— Que você ama Anya Forger.

— Dá pra falarem mas baixo?! E-Eu não gosto dela! — corou.

— Tá. Nós fingimos que acreditamos.

— Você nem consegue esconder mais o que sente. Se ela não for muito lerda, já já vai perceber.

— Mas já se foram tantos anos, talvez até já saiba.

— Ou é lerda mesmo. — concluiu Emile, rindo junto com Ewen.

— D-De onde vocês tiraram um absurdo d-desses? — interrompeu Damian — Estão loucos! Só pode. Eu...a Forger? — balançando a cabeça em negação, sorrindo de desespero — Nunca!

— Você não pode negar, senhor Damian.

— É melhor admitir logo.

— Eu não gosto dela! — berrou.

Todos, inclusive o professor que adentrava pela porta, olharam para rapaz. Que apenas sorriu de nervoso,

— E-Eu...

Estava pensando em uma desculpa para dar, até as palavras morrerem quando percebeu que tinha a atenção de Anya. Tê-la inclusivamente para si - não que os outros ali presentes fossem invisíveis aos seus olhos, mas naquele momento todos eles eram, nada. Lixos, perto daquela criatura. Ter aquele olhar, fazia com que os sentimentos dentro de si, perigosamente, fluissem com uma facilidade espantosa.

Damian abriu a boca para falar. Pensou um pouco. Mais nada disse. Apenas afundou na cadeira, escondendo o rosto sobre os braços. Queimando de vergonha.

— Viu, não disse? — a voz de Ewen voltou a assombrá-lo.

— Eu vou matar vocês!

Teria morrido em admitir, mas a verdade era algo que não podia esconder. Nem dos amigos. Nem do próprio coração.

" Eu não... Eu gosto dela."

...