Esperança é Uma Coisa Delicada Part II

Memórias e Magoas

Ao longo dos milênios, Hades ouviu muitas conversas que não deveria ouvir, com as conquistas de seus sobrinhos entre as mais comuns. Ele nunca seria capaz de limpar a memória de Ares e Apollo tentando superar um ao outro na história de namoro "mais escandalosa". E embora ele frequentemente captasse os primeiros momentos das conversas, muito raramente ficava por perto para ouvir sua resolução. A menos, é claro, que ele tenha sido pego de surpresa o suficiente. Como agora, quando seu irmão arrastou Triton para a varanda que ele estava ocupando durante o intervalo e bateu a porta atrás deles, nenhum deles notando a presença de Hades.

Poseidon ficou com a mão contra a porta por um momento e suspirou antes de se virar para o filho. "O que você está fazendo lá?" ele murmurou. "Depois de todos esses anos, você está tentando brigar com Athena?"

"Você a viu lá dentro", Triton retrucou, segurando a grade da varanda. "Ela está fora de controle. Você não pode me dizer que não está farto disso, pai."

"Pode até ser", admitiu Poseidon. "Mas Athena não é minha responsabilidade. E ela também não é sua."

Triton bufou e balançou a cabeça. "De acordo com algumas pessoas, o fato de eu tê-la criado me torna um tanto responsável."

Hades ergueu ligeiramente as sobrancelhas. Ele sabia que Athena havia sido mandada embora, mas não sabia dos detalhes.

Poseidon franziu a testa e se virou, cruzando os braços sobre o peito. "De acordo com quem, exatamente?"

"Isso importa?" Triton sussurrou. "Eles estão certos. Ela fez sua casa lá. E eu... Ela também havia perdido alguém. Talvez eu não devesse tê-la mandado embora. Talvez se eu tivesse mostrado um pouco de compaixão, ela não teria se tornado tão... tão..."

"Triton," Poseidon disse gentilmente, colocando a mão no ombro de seu filho, "Sua filha morreu naquele dia. Você precisava lamentar também."

"Ela disse que foi um acidente..."

"Seja um acidente ou não," Poseidon resmungou, "Athena carrega a responsabilidade por sua morte. E ela o fará pelo resto de sua existência."

Triton suspirou e deu de ombros, impotente. "E se houver mais na história?"

"Triton, já faz milênios. O que mais poderia haver?"

"Athena amava Pallas", insistiu Triton. "Você acredita que ela teria feito qualquer coisa propositalmente para machucá-la?"

Poseidon deu de ombros. "As evidências são claras. As duas sabiam que aquelas lanças estavam fora dos limites. De qualquer maneira, quem sugeriu usar aquelas lanças deveria ter sido desencorajado pelo outro. Mas como está agora, Athena é a única pessoa no mundo que sabe o que realmente aconteceu. Você está preparado para reabrir essa ferida, Triton?"

Triton riu, um som oco e amargo. "Eu amei as duas," ele murmurou. "No pouco tempo que Athena passou lá, passei a amá-la como se fosse minha. Não perdi apenas Pallas naquele dia. Perdi as duas, pai. Eu... eu nem reconheço a pessoa que ela se tornou."

Poseidon suspirou e puxou seu filho gentilmente para um abraço, embalando Triton como se fosse uma criança em vez de um deus de milhares de anos. "A dor pode fazer coisas horríveis para a mente de alguém, meu menino", ele sussurrou sua voz mais suave e gentil do que Hades jamais tinha ouvido. "Ele pode infectar as mentes até das pessoas mais gentis, transformando-as em algo irreconhecível. Eu sei que é difícil o suficiente para você estar na mesma sala que Athena e se lembrar de quem ela era. Mas meu garoto..." Poseidon se afastou do abraço e colocou as mãos nos ombros de Triton, inclinando-se ligeiramente para olhá-lo nos olhos. "Ela não é mais aquela jovem deusa de olhos brilhantes que se apaixonou por sua filha. Ambas se foram. A melhor coisa que você pode fazer é tentar seguir em frente."