Capítulo 1

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A Bela Adormecida não precisava de um príncipe. Precisava de um café bem forte.

ELA ESTAVA ESPERANDO CORAÇÕES, FLORES e sorrisos. Não lágrimas.

— Crise iminente a duas horas. — Anahí bateu com o dedo no fone de ouvido e escutou a resposta de Dulce.

— Não dá para ser às 2 horas. Já são 3h05.

— Não estou falando das horas, estou falando da posição. Há uma crise iminente à minha frente e à direita.

Houve uma pausa.

— Perto da macieira, você quer dizer.

— Exatamente.

— Então por que não diz simplesmente "perto da macieira"?

— Porque já que você vai me obrigar a usar um fone de ouvido e parecer profissional, eu também quero soar profissional.

— Annie, você está parecendo mais uma agente do FBI do que uma designer de flores. E que crise poderia haver? Tudo está correndo bem. O clima está perfeito, as mesas estão lindas e, modéstia à parte, os bolos estão maravilhosos. Nossa futura noiva está exuberante e as convidadas vão chegar a qualquer momento.

Anahí olha para a mulher toda amarrotada apoiada contra o tronco da árvore.

— Detesto dizer isso, mas, neste exato momento, a futura noiva não está nada exuberante. Ela está aos prantos. Sou a última pessoa a fazer observações psicológicas sobre casamentos e toda essa pompa em torno deles, mas acredito que essa não é a reação esperada. Alguém que chega até o altar deve achar que casar é algo bom, né?

— Você tem certeza de que não são lágrimas de felicidade? E são quantas lágrimas? Para um lenço ou uma caixa inteira?

— O suficiente para faltar lenços nos mercados. Ela está chorando que nem cachoeira depois da tempestade. Isso aqui está mais para chá de chuveiro do que de panela.

— Ah, não! A maquiagem dela vai ficar toda borrada. Você sabe o que aconteceu?

— Talvez esteja pensando que devia ter escolhido o ganache de chocolate em vez do glacê de laranja.

— Anahí...

— Ou quem sabe ela teve bom senso e decidiu que é melhor pular fora agora, enquanto há tempo. Se eu estivesse prestes a me casar, também estaria chorando, bem mais desesperada e escandalosa do que ela.

Um suspiro vibrou em seu ouvido.

— Você prometeu deixar suas fobias de relacionamento de fora.

— E deixei, mas elas devem ter pulado o muro.

— O clima para o evento é de otimismo ensolarado, lembra?

Anahí lançou um olhar para a futura noiva que soluçava embaixo da macieira.

— Daqui de onde estou vendo, não tem nada de ensolarado. Mas foi um verão bem seco. A macieira vai gostar de ser regada.

— Vai lá dar um abraço nela, Annie. Diga que tudo vai ficar bem.

— Ela está prestes a se casar. Como é que as coisas poderiam ficar bem? — O suor brotava na nuca de Anahí. Havia apenas uma coisa que ela odiava mais do que chás de panela e essas coisas: casamentos. — Eu não vou mentir.

— Não é mentira! Muitos casais vivem felizes para sempre.

— Em contos de fadas. Na vida real, as pessoas saem transando por aí até se divorciarem, sempre nessa ordem. — Anahí faz um grande esforço para sufocar seus preconceitos. — Vai lá você. Essa é a sua especialidade. Você sabe que não sou muito boa com esse negócio meio sentimental e delicado.

Pôr do sol no Central ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora