Capítulo 10 | Parte 3

194 23 5
                                    

Ela era uma covarde. Não apenas porque tinha medo de colocar os pés na ilha de novo — ainda que esse fator fosse importante —, mas também porque sabia que ir a Puffin com Alfonso significaria levar o relacionamento deles a outro nível. O que levaria ao fim.

Ela não queria que terminasse.

Aquela havia sido a noite mais divertida de que conseguia se lembrar, mas por debaixo das risadas e da conversa corria uma camada de tensão e excitação que a deixava sem ar. Se Anahí fosse mais inocente, poderia acreditar em finais felizes.

Sentada no táxi, ela ficou observando a cintilante noite de Nova York passar pela janela como um glamoroso cenário de cinema. Era tarde, mas as ruas estavam lotadas como se ainda fosse dia. Ela poderia estar vendo as pessoas ou pensando na Ilha de Puffin e em todas as coisas que Alfonso disse, mas ela só conseguia pensar nele.

A extensão potente de sua coxa tão próxima à dela, mas sem tocar, a largura de seus ombros contra o banco do carro. Sentir seu corpo daquela forma era intenso e pouco familiar. Ela não entendia como podia se sentir daquele jeito. Ele pegou suas mãos algumas vezes no parque, enquanto caminhavam, mas foi tudo. Anahí estava aprendendo rapidamente que as sensações sexuais tinham raízes que iam além dos toques. Elas poderiam ser despertadas por um sorriso, uma palavra ou olhar como o que ele lançara no jantar e que a fizera se sentir a única mulher no restaurante.

E ela sentiu também que a fonte mais deliciosa de excitação vinha do fato de Alfonso conhecê-la tão bem. Era como se ele pudesse ver todas as partes que ela mantinha escondidas dentro de si. Poderia ser assustador, mas, em vez disso, Anahí sentia um movimento quente e excitante, como se toda a energia usada para se esconder tivesse sido repentinamente redirecionada.

Ela se virou para roubar um olhar, ao que Alfonso retribuiu com um meio sorriso. Era como se ele soubesse tudo o que ela pensava. Houve um momento no parque em que ela esteve convencida de ele a beijaria, e mais outro, na ponte, enquanto observavam o sol se pôr.

Ela quase pegou fogo, tamanho o seu desejo; mas quando não aconteceu, ficou dividida entre o alívio por terem adiado o momento em que ele descobriria que ela era péssima na cama e a frustração por querer tanto que Alfonso a beijasse.

Agora, seu nervosismo voltara, pois ela não fazia ideia do que estava por vir. Seu manual de relacionamentos não era parecido com o das outras pessoas. Ela deveria convidá-lo para tomar um café? Deveria dizer boa noite à porta?

Anahí se preocupou durante todo o caminho da volta e o nervosismo aumentou quando cruzaram a Brooklyn Bridge, cujas luzes cintilavam sobre a superfície metálica do East River. Ela pagou o motorista e caminhou até a porta do apartamento, torcendo que pudesse acalmar as sensações dentro de si.

Com as mãos tremendo, ela vasculhou o bolso e puxou a chave.

— A noite foi divertida. — Anahí tremia muito.
Alfonso segurou sua mão e seu coração dançou em um ritmo intenso. Dessa vez ele definitivamente iria beijá-la. A química era tão poderosa que mesmo ela era capaz de senti-la. Anahí esperou, mal ousando respirar, desejando desesperadamente e, ao mesmo tempo, aterrorizada por saber que quando ele fizesse isso seria o fim. Ele saberia. A ansiedade zanzava em seus nervos, enviando milhares de volts de eletricidade por seu corpo.

Seus olhos começaram a fechar. Seu corpo balançou e Anahí sentiu os dedos dele roçarem contra os dela enquanto Alfonso pegava as chaves de sua mão e abria a porta do apartamento.

— Boa noite, Annie. — Rouca, máscula, grossa e íntima, a voz dele lhe ressoou perto da orelha. Ele estava tão próximo que ela poderia ver a textura rústica da barba que lhe escurecia o maxilar.

— Poncho...

— Durma bem.

Ela abriu os olhos e encarou Alfonso .

Durma bem? Isso é tudo o que ele ia dizer?

Ele acumulou tensão a noite inteira e não ia beijá-la?
Que se dane, se ele não ia beijá-la, então ela o beijaria. Eles precisavam botar tudo para fora de uma vez por todas. Ela se aproximou para puxá-lo, mas sua mão atravessou o vazio do ar. Alfonso sequer percebeu, pois já estava de costas, afastando-se de Anahí.

Era por isso, pensou um pouco zonza enquanto o via se afastar, que ela evitava relacionamentos. Nunca em um milhão de anos ela entenderia os homens.

Pôr do sol no Central ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora