Capítulo 5 | Parte 1

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OLHOS LINDOS?

Anahí vagou zonza pelo bairro dos floristas em Manhattan, e seu estado não tinha nada a ver com o fato de ter começado o dia cedo demais ou não ter dormido na noite anterior.

— Adoro esse lugar. — Maite deu o braço para Anahí . — É tranquilizador, não é?

Hein? — Anahí não estava concentrada. Ela não conseguia esquecer o momento em que ficou encurralada entre Alfonso e a porta. Ele não chegou a tocá- la, mas bem que podia, pois ela estava tão perturbadoramente próxima de seu corpo, que mal conseguia respirar. A avalanche de sentimentos desconhecidos veio como um choque. Ela não era do tipo de pessoa que fica pensando em sexo o tempo todo. Na verdade, quase nunca pensava. Ela já havia aceitado que isso não tinha um papel importante em sua vida e que — ainda que fosse inteligente o bastante para perceber que ao menos parte disso cabia a seus pais — não achava que a situação mudaria.

Mas tudo estava mudando. Ou talvez seja mais correto dizer que Alfonso estava mudando tudo. Ele não tocou nela, mas ela se viu querendo tocá-lo. Ela queria agarrá-lo e beijá-lo, impulso que a deixara um pouco fora de si. Por sorte ela deu um jeito de se controlar, ainda que não tenha conseguido impedir aquele sentimento estranho surgindo dentro de si, uma inquietação de tirar o fôlego que ela associava ao Natal ou ao último dia de aula. Estar perto de Alfonso parecia ligar um botão em uma parte de si que Anahí nunca havia acessado. Ela precisava ficar se lembrando de respirar, algo que até aquele ponto da vida havia feito de modo inconsciente.

Maite deu uma cotovelada na amiga:

— Você não está me ouvindo. Está precisando de um café bem forte. — Ela arrastou Anahí para dentro de uma pequena cafeteria e pediu dois expressos. — Isso irá acordá-la.

Anahí não mencionou que seu problema não seria resolvido com café. Ela não fazia ideia de como resolvê-lo. Dois banhos frios não tinham funcionado. Elas beberam o café e Maite falou sobre novos clientes enquanto Anahí tentava esquecer a força do corpo de Alfonso contra o seu, buscando focar nos negócios.

Abastecidas de cafeína, elas adentraram o mercado de flores. Localizado entre a Sétima Avenida e a Broadway, o mercado era uma floresta escondida de plantas cercada por torres de vidro e aço. Era 5h da manhã, mas apesar de ser cedo o local estava lotado de gente. Elas entraram em uma das muitas lojas e Anahí se inclinou e aproximou o nariz de um grupo de flores.

— Essas aqui são perfeitas. — Ela pegou uma boa quantidade delas e as escondeu cuidadosamente em uma prateleira de metal, para comprar depois, e selecionou mais algumas flores.

— Elas são lindas. E aí, você conversou com o Poncho?

Anahí quase deixou as flores caírem. Como o simples fato de ouvir o nome daquele homem era capaz de deixá-la confusa? Ela parecia uma adolescente no ápice de seu primeiro grande amor. Exceto pelo fato de que nunca se sentira daquele jeito na adolescência.

— Eu escrevi um bilhete, mas ele apareceu enquanto eu estava dando comida para a Garrinhas, então o amassei, pois sou uma covarde.

— Ele não disse nada?

— Ele disse umas coisas. — Coisas que deixaram Anahí desnorteada. Coisas que ficaram dançando em sua mente e a fizeram passar a noite em claro.

Você tem olhos lindos.

Ela ficou tão surpresa com o elogio, que não respondeu nada. Dulce teria dito alguma coisa sagaz. Maite provavelmente teria feito o mesmo. Mas ficou muda. E, pela manhã, encontrou os óculos na caixa de correio.

Anahí ficou imaginando se não era um teste para ver se ela voltaria a usá-los. Frustrada consigo mesma, ela virou a cabeça e lançou um olhar discreto no
espelho do outro lado da loja. Os óculos dominavam seu rosto, conforme o planejado quando os comprara.

Pôr do sol no Central ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora