Capítulo 5 | Parte 3

170 30 3
                                    

— Você já imaginou se Alfonso escutasse essas coisas? Eu com certeza me mudaria para Seattle. E odeio quando ela nos chama de meninas, como se tivéssemos 8 anos. Não acho certo uma mulher de 53 anos chamar a si mesma de menina. Há algo indigno nisso. Ou delirante. Não sei bem. — Lutando contra as emoções, ela mergulhou de novo para dentro da loja e esfregou as mãos no rosto. Seus olhos e garganta ardiam. — Não aguento mais. Mais um ricaço da minha idade. E por que esses caras nunca dizem "não"?

— Sei lá, mas não é problema seu. — Maite afagou delicadamente o braço da amiga. Sua voz era calorosa e cheia de simpatia. — Sinto muito por termos esbarrado com ela.

Eu também. Minha mãe não fala de outra coisa a não ser sexo. Ela adora me me fazer passar vergonha.

— Não acho que ela esteja pensando em você. Acho que ela só pensa em si mesma.

— Vamos mudar de assunto. Diga algo. Qualquer coisa. — Anahí se concentrou em um buquê de flores de cores vivas. Flores sempre a acalmavam. A natureza nunca a constrangia. — Fale sobre você. Por favor. Ou sobre trabalho. Trabalho é um ótimo assunto. A não ser que sejam casamentos.

— Eu te contei que a gente pegou aquele trabalho para a semana de moda de Nova York? Eles me mandaram um e-mail ontem à noite.

— Isso sim é um negócio e tanto. O evento é em setembro? — Anahí fez um enorme esforço para tentar tirar a mãe da cabeça. É usar ou largar, disse ela.

Anahí havia largado mão. Definitivamente.

— Sim. Nosso maior evento até o momento, então é uma boa notícia.

— Excelente notícia. — Seu coração estava começando a desacelerar. O ardor da humilhação diminuiu, mas aquelas palavras continuavam em sua mente.

É usar ou largar. A frase estava grudada em sua cabeça como um carrapato. Como funciona a regra para "usar" algo que você não sabe se já teve? Como usar algo sem saber como? A maioria das mulheres da idade dela tinha experiência sexual. As experiências de Anahí se resumiam a um par de encontros constrangedores dos quais ela se sentiu aliviada de fugir. E os demais detalhes eram algo que ela nunca compartilhara.

— Como vão as coisas com o Mane?

— Ótimas. Ele tem me pressionado para ir morar com ele.

— Ah. — Ela, Alfonso, Dulce e Maite viviam naquele prédio há bastante tempo.

Anahí percebeu que não havia cogitado essa mudança.

— Como você se sente a respeito?

— Um misto de sentimentos. Adoro estar com o Mane e o apartamento dele é espetacular, mas também amo o Brooklyn. — Maite hesitou. — E estou preocupada com a Dulce.

— Eu também. Ela ficou muito emocionada no chá de panela do outro dia. Mas está melhor do que no Natal.

— Ela se faz de durona, mas morre de saudades da avó. Ela vai empurrando o dia com a barriga, mas, às vezes, ainda chora de noite. Eu consigo ouvir. — Maite deu um passo para trás para dar passagem a alguém que levava uma planta enorme. — Não consigo imaginar a sensação de não ter família. Dulce me disse outro dia que se sentia como um barco que perdeu a âncora. Ela está no mar à deriva.

Anahí sentiu uma pontada de culpa.

— Agora estou me sentindo péssima de reclamar da minha mãe.

— Não se sinta assim. A sua mãe não ajuda em nada, só piora.

— Mas pelo menos sou conectada a alguém. O que podemos fazer para ajudar a Dul?

— Eu queria que ela encontrasse alguém. E antes que você franza a testa, sei que relacionamentos não são tudo, mas acho que é o que ela precisa. Dulce precisa encontrar alguém que aprecie o quão especial ela é. Ela precisa criar a própria família.

Pôr do sol no Central ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora