Capítulo 6

164 17 1
                                    

ANAHÍ ESTAVA EM PÉ NO terraço da cobertura e protegia os olhos com a mão. O sol estava forte e não havia uma brisa sequer. Nova York era asfixiante no pico dos meses de verão.

Ela havia visto as fotos do lugar antes e passara horas estudando o conceito que Alfonso criara para a obra, mas projetos e a realidade são coisas diferentes. Ele tinha transformado um simples espaço a céu aberto no que prometia ser um luxuoso jardim, perfeito tanto para relaxar quanto para passar o tempo. O uso inteligente de tijolos, pedras texturizadas e diferentes tipos de madeira havia criado um elemento arquitetônico que também seria parte importante da decoração.

Era de cair o queixo.

Anahí sentiu uma alegria enorme. Para ela, fazer esse trabalho era muito mais recompensador do que escolher flores para um casamento. Aquilo poderia alegrar um momento, mas isso aqui — ela olhou ao redor, imaginando como o lugar ficaria quando terminasse —, poderia alegrar uma vida.

Ela, mais do que ninguém, sabia da importância do verde e da natureza para a saúde e a felicidade.
Para ela, um jardim não era um luxo dispensável: era uma necessidade.

Em meio às turbulências de sua infância, o lindo jardim de sua casa tinha oferecido paz e refúgio. Não importa o que dizia para as amigas, às vezes Anahí sentia saudade da Ilha de Puffin. Não das pessoas ou do passado; mas do lugar. Ela sentia falta do cheiro de maresia e do som das gaivotas. E, principalmente, ela tinha saudade da sensação de estar cercada por natureza. Aprendera porém que, usando técnicas de plantio inteligentes, poderia criar a mesma sensação em seu quintal. E poderia criar esse refúgio para outras pessoas.

Ela se virou e viu Alfonso conversando com James e Roxy, membros da equipe, que estavam terminando o bruto do projeto arquitetônico.

Seus braços estavam cruzados, posição que dava ênfase aos músculos bem desenvolvidos da parte superior do corpo. Ele apoiava uma das botas gastas sobre uma pilha de placas de concreto.

A luz do sol cintilava por seu cabelo escuro e os óculos escuros escondiam a expressão em seus olhos, mas Anahí via pela forma como Alfonso angulava a cabeça, e ocasionalmente a balançava, que estava escutando a conversa com bastante atenção. Alguns homens não param de falar, como se suas vozes fossem as únicas que valessem a pena ser ouvidas, mas Alfonso não era assim. Ele sabia dar ouvidos aos outros.

Anahí tinha medo de que trabalhar tão perto dele pudesse ser estranho, mas acabou se mostrando algo mais fácil do que havia imaginado. A não ser pelo fato de ele tirar seus óculos sempre que Anahí os colocava, os dois estavam se dando muito bem. Havia poucos momentos em que se esquecia de respirar e não havia sombra de intimidade, nenhuma repetição do que se passara no apartamento dela. É claro que o motivo era não haver nada de íntimo em trabalhar torrando sob o sol do verão com uma equipe completa ao redor.

A cada dois minutos alguém ia até ele perguntar alguma coisa. Ele era a pessoa para quem todos apresentavam suas ideias e soluções, e não apenas por ser chefe. Alfonso era a pessoa com a criatividade e a habilidade necessárias para tornar essa visão uma realidade. Ele era o cérebro e os músculos por trás dos projetos. Literalmente. Alfonso passava seus dias arrastando materiais pesados para cima e para baixo pelas coberturas de Nova York, e isso estava na cara. Sua camiseta se agarrava aos ombros grossos e musculosos e suas pernas eram firmes e fortes.

Anahí sentiu um calor no estômago e secou a testa com a mão. Não era justo sentir desejo sexual sabendo que, se algum dia ele encostasse um dedo nela, não daria em nada.

Anahí era um "dois e meio, sem prêmio de consolação".

Alfonso terminou a conversa e veio caminhando na direção dela.

Pôr do sol no Central ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora