Capítulo 11 | Parte 4

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— Compramos algo para você. — Maite colocou quatro sacolas na mesa do escritório e Anahí despertou de seus devaneios sobre Alfonso.

O beijo não tinha sido nada parecido com o que esperava. Nada parecido com qualquer experiência anterior. Foi ela que começou, mas de algum modo, o equilíbrio de poder mudou instantaneamente. Não havia dúvidas de que Alfonso assumira o comando.

Ela tentava entender como isso pode ter acontecido, mas a coisa toda não passava de um borrão confuso. Nunca na vida Anahí pensara que beijar poderia ser tão... tão... intenso. Ela ainda podia senti-lo. A pressão firme das mãos de Alfonso contra seu rosto, sua boca habilidosa e o calor translúcido que emanava dela. Havia sido uma descoberta, um raio, um trovão...

Droga, ela estava começando a pensar como Dulce.

Dando-se mentalmente um tapa na cabeça, ela pegou as sacolas.

— Parecem caros.

— É um agradecimento por seu trabalho árduo para fazer nossa empresa decolar.

— Vocês também trabalham à beça.

— Não sei como não estou acabada. — Maite deu um sorrisinho e Dulce se equilibrou na beirada da mesa de Anahí. Sua saia azul de pregas subiu-lhe pelas coxas.

— Abra os presentes. Tentamos achar um meio-termo entre o que você acharia confortável e o que ficaria bonito.

— Vocês estão me dando uma transformação?

— Estamos te agradecendo. — Dulce empurrou as sacolas na direção da amiga. — Eu estava mal naquela noite e você me ajudou. Sei que você detesta escolher o que vestir, então espero ter facilitado as coisas. Tem uma roupa para a viagem que pode ser facilmente remodelada para quando for visitar o cliente. Tem algo para o casamento e algo para a praia.

— Não decidi ainda o que vestir no casamento. — Anahí lutou contra o embrulho e tirou da sacola um tecido de seda verde-esmeralda longo, leve como uma pena. — Um vestido? Eu não...

— Não é um vestido. É um macacão e vai ficar lindo em você. Pode ser que vente e você não vai querer ficar o tempo todo lutando para que os outros convidados não vejam sua calcinha. E já que toquei no assunto, tomei a liberdade de comprar umas coisas mais íntimas para você.

— Você comprou lingerie para mim?

— Se você sofrer um acidente e tiver que ir para o pronto-socorro, não quero que os socorristas se distraiam com sua lingerie toda desconjuntada. E como eu joguei fora aquela abominação cinza que você chamava de camisola, eu te devia uma.

Lingerie.

Anahí não era burra. Ela sabia por que Dulce lhe comprara lingerie e não era porque queria a amiga linda em um possível encontro com socorristas.

Ela queria a amiga bonita no encontro com Alfonso.

Ainda que isso equivalesse a uma batida de carro. O beijo só tornou a situação ainda mais assustadora, não menos, pois agora a queda poderia ser maior. A decepção máxima de quando fossem para cama seria devastadora. Ela enfiou o macacão de seda de volta na sacola e espiou os outros presentes.

— Vocês duas gastaram uma fortuna.

— Fazer algo assustador é sempre mais fácil quando você está bonita. Comprei um suéter novo também.

— Estamos falidas?

— Não, estamos indo bem. — Maite entregou um embrulho pequeno a Anahí. — Sei que você odeia batons, mas esse é tão neutro que quase não conta. Vai combinar com o macacão para o casamento. Leve, perfeito para o verão. — Ela fez uma pausa. — Estamos orgulhosas de você.

Anahí sentiu-se uma fraude.

— Vocês não precisavam fazer isso.

— É você quem está fazendo tudo e te achamos incrível. Você é forte e destemida. — Maite abraçou Anahí e soltou-a quando o celular da amiga tocou. —É melhor você atender.

Destemida?

Elas não faziam ideia.

Anahí nunca sentiu tanto medo na vida. Se o medo era de estar com Alfonso ou voltar para a Ilha de Puffin, ela não sabia. A situação toda era uma grande massa de estresse em sua cabeça. Precisando fugir, Anahí pegou o celular e saiu do escritório.

Maite caiu na cadeira.

— Você acha que ela vai vestir a roupa?

— Não sei. Espero que sim, pois o Poncho precisará de terapia se ela vestir algo parecido com aquela camisetona cinza.

— Ele é tão louco por ela, que eu acho que não se importaria.

Dulce lançou um olhar sombrio.

— Você não viu a camiseta. Nem a Marilyn Monroe se garantiria com aquilo.

Pôr do sol no Central ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora