Capítulo 10

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A ESTRATÉGIA DE ALFONSO FOI manter o jantar discreto, descontraído e o menos romântico possível. Quando viu como Anahí estava nervosa, soube que tomara a decisão certa.

— Annie...

— O quê? O quê? Minha roupa está boa? Você não disse aonde iríamos, então foi difícil escolher o que vestir. Provavelmente não devo estar com a roupa certa...

— Você está incrível. Dá para caminhar com esses sapatos? Pois vamos caminhando.

— É claro que consigo caminhar. Você está me confundindo com a Dulce, os saltos dela são praticamente arranha-céus. Você achou incrível? Você gostou da túnica? — Ela puxou a túnica prata e Alfonso sorriu.

— Eu não tinha prestado atenção à túnica, mas agora que você tocou no assunto... — Ele a viu largar um pequeno suspiro.

— Ah, é bondade sua.

— Não é bondade. — Ele deslizou os dedos sob o queixo dela e ergueu o rosto de Anahí em direção ao seu. — É verdade. O nome disso é elogio.

Ela o alfinetou com um olhar.

— Elogios me deixam desconfortável. Pode ir parando.

— Não vou parar nada. Você vai se acostumar aos elogios. Está pronta? Temos um táxi esperando.

Alguns dias atrás, Alfonso pode até ter se divertido e ficado um pouco exasperado com o nervosismo de Anahí — apesar de se conhecerem há tanto tempo —, mas isso foi antes de perceber o quanto dela ainda precisava conhecer. Não se tratava da duração de um relacionamento, mas sim da profundidade. Agora ele sabia que Anahí tinha segredos. E ele queria que ela os dividisse com ele.

Ele queria saber quem disse que ela era um "dois e meio".

Mas, no momento, ele queria que ela ficasse menos ansiosa com o restante da noite. Ele mudou de assunto enquanto os dois caminhavam até o táxi e contou a história engraçada de um cliente com quem teve uma reunião poucos dias antes, e que queria plantar um pomar instantâneo.

— Instantâneo? Como poderia ser instantâneo? Por acaso ela acha que você tem superpoderes? — Na hora que entraram no táxi, o nervosismo de Anahí havia sido substituído por uma risada.

— Ela viu a foto em uma revista e quis que o próprio jardim ficasse exatamente daquele jeito. Ela tinha lido que era possível comprar árvores adultas e pensou que era só isso. Tivemos uma conversa bem franca. — Ele relaxou no banco de trás, olhando pela janela enquanto o táxi atravessava a Brooklyn Bridge e a Lower Manhattan.

— Você disse a ela que não era possível?

— Eu ouvi o que ela tinha a dizer e propus algo diferente. Nunca aceito um serviço que seja uma má ideia. A curto prazo, ela seria minha cliente, mas quando o pomar secasse e morresse, viraria ex-cliente e minha reputação murcharia junto com as maçãs.

— E agora ela deve estar apaixonada por você.

Alfonso deu risada.

— Eu não iria tão longe, mas é possível dizer com algum nível de certeza que chegamos a um acordo.

— Onde ela mora?

— No Maine. — Mais cedo ou mais tarde ele traria à tona o tema da Ilha de Puffin, mas não agora.

— Então você precisa tomar cuidado com as espécies que recomenda.

— Por conta do clima frio?

— Do clima frio, a estação de crescimento mais curta e doenças.

Pôr do sol no Central ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora