Tive um sonho familiar ontem.
Teus cachos escuros e macios dançavam pelos meus dedos, eu passeava a mão de forma carinhosa pelo teu cabelo e olhava preguiçosamente um rosto que não estava lá, mas que encantava e refrescava a alma.
Estavamos em uma sala de aula, mas eu podia sentir a grama pinicando a sola dos meus pés, o vento bagunçava meu cabelo, e o sol se fazia presente mesmo com os olhos fechados. Tudo brilhava. Nossas carteiras estavam coladas, eramos as últimas na fila do meio de uma turma com oito filas, a professora falava sobre algo que não escutávamos, nossas cabeças repousavam por sobre a mesa branca que deveria sustentar nossos livros, os alunos espalhados performavam atividades das mais diversas, alguns analisavam a grama, um grupo de cinco jogava pedras no rio ao lado, dois tomavam sol sentados nas mesas, e alguns mais interessados na aula se aglomeravam descalços aos redor da professora que continuava a falar empolgadamente sobre biologia. Nós sempre fomos as preguiçosas da turma, então só deitavamos as cabeças sobre a mesa e sentiámos o mundo, o som do vento balançando as folhas das árvores e o som da vida nas ruas formavam a sinfonia perfeita para um primeiro amor inocente e cheio de esperança.
No fim da aula nos separamos, contra o meu gosto é claro, infelizmente caminhávamos para lados opostos, eu te vi indo embora, virando uma figura minúscula e depois sumindo, eu senti no meio do peito algo pinicar, como a grama a pouco fazia nos meus pés.
O caminho pra casa foi calmo, podia sentir o vento me abraçando. Perto da ponte, pude ver as crianças voltando da escola, os adultos saindo do trabalho, as árvores se movendo com cautela sob a pressão do vento, senti uma paz, uma leveza, que só esse tipo de sentimento proporciona, é como soltar o ar depois de inspirar um aroma doce. É calmo, e foi tão bom quanto passar a mão pelos teus cabelos.