Meu mijo sai quente

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Eu ando pelo meu apartamento pela manhã, cada músculo do meu corpo dói, eu sinto a carne se esfregando nos meus ossos toda vez que me mexo, sinto minha coluna vertebral falando com meu cérebro e vice e versa, uma conversa preguiçosa em que um manda mais que o outro. Me esforço tentando me levantar, em pé penso sobre os afazeres, posso tentar lavar os pratos, estão próximos de mim, posso tentar arrumar a cama, ela está bagunçada desde de manhã, eu penso sobre tentar por muito tempo, até não ter mais nada além da palavra rodopiando entre os sulcos do meu cérebro. É isso que eu faço com maestria. Acho que sou otimista, porque ainda estou de pé, ainda tento, passo os dias insistindo na ideia de que se você continua tentando, mesmo cansada, o descanso virá. E eu estou cansada. De manhã eu levanto e levo ao menos 20min pra realmente começar o dia, antes disso tenho responsabilidades a cumprir, o primeiro pensamento do dia são as responsabilidades, eu tenho andado sozinha, tenho lutado sozinha à um tempo já, e isso tem destruído espírito, meu corpo todo dói, meus músculos enrijecem e se tornam granulares, como areia molhada, quem dera o mar passasse por cima de mim e me levasse embora como ele, pedaço por pedaço indo com a maré, até eu dissolver e deixar de ser. Posso sentir a areia molhada arranhando meus ossos, começou. Sentada no sofá da sala sinto a necessidade de ir embora, ser irresponsável, me tornar algo que não sou, ser quem gostaria de ser, mas só suspiro e levanto, vou ao banheiro vagarosa e morbidamente, desejando nem estar aqui, nessa realidade, nesse corpo, nesse apartamento, nessa vida, me sento na privada e meu mijo sai quente, parece ser a única coisa quente em mim, sinto meu corpo pesar e aos poucos, com a retirada das últimas gotas de água em mim ele vira pedra, sou agora uma pedra de sal. Eu sou nova demais para estar tão cansada.

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