Cheguei em mais um deles, aqueles dias opacos e miseráveis, os que eu não sinto nada, não vejo e nem quero as coisas que queria antes.
Em dias assim uso as coisas que uso todos os dias e me forço a acreditar que é um dia normal em que só estou com preguiça e cansada de alguma coisa extravagante que fiz no dia anterior.
Nesses dias nebulosos, finjo mais, como mais, faço menos. Esqueço de mim mesma e as coisas parecem falsas e fracas demais para serem tocadas.
Esses malditos dias em que sei que preciso de uma caneca nova, de uma refeição diferente da anterior, de pets mais calmos e de alguém ao meu lado pra me acalmar e fingir que se importa. Mas não pego, não corro atrás de nenhuma dessas coisas. Meu corpo pesa demais para se mover, minha mente divaga demais para focar em algo e seguir adiante.
Em dias cinzentos não sou o ponto de tinta colorida que caiu sem querer e alguém fingiu ser proposital, não sou o feliz, nem o calmo, nem o prazeroso; na verdade, sou o escuro que se mistura na massa cinza e se agarra a ela como se dependesse daquilo para viver, sou a graxa que ficou presa no chão de porcelanato tão bem aplicado e apreciado pela família hipócrita nos jantares festivos de fim de ano.
Meu calendário é cheio de dias cinzentos, na minha casa há sempre fumaça, o meu corpo é transparente, e eu dissipo e volto ao normal como se fosse gasosa.