Eu sinto de mais, mas meu relógio é diferente
O tempo olha pra mim de uma outra forma
Ele quer me ensinar a ser mansa, lenta, serena
Mas mudar é difícil quando você nasce vendaval
Eu sempre fui assim, tempestade forte
Sou aquelas manchetes de jornal
Na capa a imagem de uma vaca voando, com árvores sendo arrancadas do chão
Fui feita pra amedrontar
O tempo não olha pra você até certa idade
É como se ele respeitasse a infância, ela é feita pra um outro algo que eu não sei bem o que é
A infância é a sala de espera da vida
Não pense que é aquelas salas completamente brancas e chatas, com som nenhum que te faz morrer de tédio
Onde os segundos se arrastam de forma proposital
A infância é uma sala de espera colorida, cheia de brinquedos e lápis de pintar, mas sem papel, porque o bom é colorir nas paredes
O tempo pôs os olhos em mim até cedo, mas não reclamo, sou conciente desde nova, acho isso bom
Ele corre com minhas felicidades como um velocista na final das Olimpíadas
Desesperado, metódico, concentrado
Mas meus lutos duram toda uma vida
Meus lutos se arrastam pelos meus músculos, eles se impregnam lá e não vão embora
Minhas tristezas fazem a cama e descansam plenas no meu coração
E minhas preocupações fazem morada fixa entre os sulcos do meu cérebro
O tempo não gosta muito de mim, acho que ele não gosta muito de ninguém, mas ele ensina
Acredito que o principal papel dele é ensinar
Com os anos, passamos a tolerar o agir do tempo, as vezes o amamos como nunca amamos antes
Estou certa que daqui a pouco ele virará um grande amigo e no final ele com certeza será o acalento
O abraço do tempo muda a cada ano mas o sabor dele é sempre o mesmo, agridoce