Eu tenho muitos sonhos, sonhos grandes, não poupo imaginação, quando se trata de sonhar grandiosamente eu sou a melhor, mas eles parecem grandes demais, eles me erguem e saio voando sem controle, não sentir seus pés tocarem o chão é desesperador, quase tão pior que estar cercado por água. Pior que ser leve e sem limites é estar cheio e não saber o que fazer com isso, eu sou leve mas não boio, minha mente transita entre uma leveza perigosa e uma pressão mortal no fundo do mar.
Eu não sei o que deveria estar fazendo, eu tenho 22 anos e só tenho meus desejos em minhas mãos, tudo o que eu quero está na minha cabeça e eu não sei o que fazer com isso, não sei em que parte deixaram de me ensinar o que fazer, ou me ensinaram e eu não estava ouvindo, me distraio facilmente. Eu quero trabalhar nos meus livros, quero escrever, quero viver disso, mas tenho tanto medo que minha certeza foge sem nem olhar para traz, quando penso em ser escritora em vender minhas história, em conversar com pessoas que são tão obcecadas pelas coisas que eu crio como eu, eu me sinto nervosa e com medo, mas é uma coceira no fundo do meu peito que não para, que me deixa borbulhando para trabalhar, é engraçado pensar que quando comecei a escrever aos 12 anos, eu achava que escrever para sempre seria incrível, além de fácil, mas não é, eu estou rindo agora, as coisas não funcionam assim, infelizmente minha mente se cansa, e meu corpo precisa de manutenção também, sei que não dou a devida atenção a postura, minha coluna sofre e minha tendinite é quase sempre ignorada para ter um bom proveito dos momentos em que mãos e mente estão em sincronia, e esses momentos infelizmente dependem do meu humor, coisa bem instável na minha personalidade, a questão é tão maior que eu evito até terapia, pode ser uma desculpa minha para não mexer no que me machuca, mas, eu sempre me perguntei se meus problemas cobertos por pilhas e pilhas de histórias e contos não são exatamente os pilares dessa imaginação, e me resumir a meus problemas é estúpido, eu sei, e demonstra pouquíssima fé em si mesmo, eu também sei disso, mas meus ombros doem muito agora e meu estômago está estranho devido a quantidade absurda de café que tomei e ainda assim, apesar de minha mente doer e meus pensamentos balançarem como um barco de pesca num mar agitado, não quero parar, nem checo o que estou escrevendo só olho para o teclado, porque o curso que isso está tomando cheira bem, como uma plantação de alguma fruta pequena e vermelha, sinto um cheiro de frutas vermelhas no ar e já nem me lembro mais do que falava, e sinceramente o cheiro nem é real, minha imaginação tingiu ele para divagar e o problema ir embora pelos fundos, como sempre. Posso me ver correndo em círculos ao redor de mim mesma, como uma criança hiperativa ou um cachorro muito bobo, queria ter mais fé em mim, mas é difícil quando sou tão medrosa, dos vários eus na minha cabeça o que melhor me define é o sentado no canto do banco de um parque derretendo e pegando no sono, um picolé gigante de coco.
Eu quero escrever, eu quero tanto que minhas inseguranças se calem por um tempo, mas a noite as coisas são tão mais intensas, e sozinha eu me sinto tão pequena, não costumo me comparar aos outros, na verdade sou bem centrada em mim mesma, não ligo pra em que momento da vida alguém está e como ele é comparado a mim, o que corta minhas árvores é a serra nas minhas mãos, quanto mais força eu faço para caminhar mais eu me puxo para trás, quão estupido é isso?
Eu tenho pensando muito em inglês, textos, conversas, frases, elas vem em inglês e as vezes não consigo dize-las na minha língua materna, talvez esse seja um daqueles casos em que você resiste tanto a aceitar algo que você só consegue conceber a ideia em outra língua, como se isso tirasse o peso dela, mas acho que é tudo a mesma coisa, pode acalentar um pouco meu consciente, mas meu inconsciente ainda está doendo e uma bagunça, a sensação de não poder fugir de mim mesma é conflitante, eu me pego lembrando da minha janela, ao ler isso as pessoas podem pensar que eu sou suicida, ou que quero morrer para fugir da minha realidade, mas não é isso, se quero fugir da minha realidade só preciso entrar em mim mesma, tenho um quarto preparado e confortável somente para isso, e não acho minha realidade ruim o suficiente para fugir pra lá, não, é só que o que eu sinto lá é a beirada, é como estar na beira do meu mundo, eu estou por um fio de não existir, é um estalo da vida, aquele momento que me faz desejar um cigarro, ele não é amargo, nem pesado, não é doce também, ele é livre, como se nem existisse, como se eu não existisse. Eu não tenho mais a necessidade de saber porque estamos aqui, porque nascemos e porque vivemos, eu estou satisfeita o suficiente somete vivendo, mas, o não existir, o não fazer, o que não está lá, o que eu não sou, esse papel em branco, esse não papel, ele me parece interessante. Eu acho que não é isso que quero dizer, mas não sei como me expressar além disso, então vou terminar esse tópico aqui.
A morte, nesse romance entre minha janela, eu e a chance do meu corpo encontrar o asfalto da calçada, causando um trauma que algum transeunte vai levar anos para esquecer numa terapia muito cara que mal vai surtir efeito, me faz querer um cigarro, enquanto penso no não existir e na liberdade de não ter água ao meu redor e de sentir o chão sob os meus pés, não é incrível? São tantas coisas rodando ao meu redor que consigo existir sem pesar. Não acho que a morte seja algo tão ruim, e a queda antes dela não deve ser tão ruim, na verdade, a queda antes dela deve ser maravilhosa, várias mudanças químicas fazendo meu cérebro, esse aglomerado de carne e eletricidade transformar esse corpo em uma bolha de sentimentos e sensações, e todos esses milhões de pequenos acontecimentos vão surgir apenas em mim, sendo importantes somente para mim, e eles vão ruir em alguns segundos, assim eu espero, porque uma morte lenta sufocando no meu sangue na calçada não parece uma das melhores opções de morte. O morrer é esse magnífico não existir e existir ao mesmo tempo, minha consciência terá ido, mas as pessoas vão lembrar de mim, alguém vai dizer meu nome, alguém vai chorar por mim, e eu nem vou estar lá, eu não sou matéria física para se tocar, eu não vou lembrar de ninguém, ou pensar em ninguém, eu não vou existir, eu, eu, não vai ter minha consciência verbalizando isso, verbalizando isso com a palavra eu. Morrer, o não existir que pesa, que aperta o peito, que faz alguém sofrer, mas você não pode se desculpar por isso, ou acalentar quem sofre por você, porque você não existe mais, eu entendo quem acredita em espíritos e religiões, elas dão tapinhas nas suas costas quando a não existência de alguém que você preza te derruba no chão duro e frio. Eu gosto de pensar sobre a morte, de várias formas, como se ela fosse um subway e você pudesse escolher cada aspecto dela, com uma empolgação quase ingênua, sabendo que no final todos os sanduíches tem o mesmo gosto, afinal toda morte leva para o mesmo caminho, o não existir, o não estar, o não sentir, e me refiro ao interior, o exterior sabemos bem como fica, o não existir é o que me dói, mas tudo bem, quando eu morrer, não sentirei nada sobre isso não é mesmo? Me fez até rir.
Mudei os móveis de lugar hoje, mas não tomei banho, as vezes tomo essas decisões estúpidas, como as de não me cuidar, a uns dois dias como somente pão, uma ou duas vezes por dia, não pratico nenhum exercício a bastante tempo, apesar de ter mudado o cabelo, estou evitando ver as pessoas, já não tenho certeza se elas me cansam ou eu mesma me canso de mim e de como lido com elas, não passei no meu estágio e me sinto a maior das fracassadas sobre isso, o que é engraçado porque por mim não sei se terminaria esse curso com a intenção de exercer a profissão pois como já disse antes quero escrever, se eu só publicar minhas besteiras em algum lugar alguém vai se interessar e me pagar para escrevê-las? Provavelmente não, acho que você tem que ter uma vida interessante para depois escrever sobre ela e então fazer dinheiro, e minha vida é monótona e chata, meus pensamentos não vestem ela muito bem, ou é ela que veste meus pensamentos? Não sei de mais nada, nunca soube.