Capítulo 2: Parte I

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Acorda em sua cama. As cobertas foram enroladas ao seu entorno, a gravata afrouxada do pescoço e as calças retiradas. Seonghwa está roncando ao seu lado, desta vez, seu braço enrolado no peito de Hongjoong.

Se vira, enredando suas pernas entre as de Seonghwa, e fecha os olhos.

- Não deveria beber diretamente da garrafa - Seonghwa murmura em sua clavícula - Que desperdício de xixi de gato.

- Ok... - sussurra, pressionando seus lábios contra a testa de Seonghwa ainda muito sonolento, o coração apertando em seu peito. - Ok.

Em algum momento acorda novamente, e desta vez Seonghwa já não está ao seu lado. Ouve-se um barulho vindo da cozinha, o som do óleo chiando na panela e da água batendo na pia. Hongjoong rasteja lentamente, um estalo de dor desenrolando em seu ouvido e se espalhando lentamente dentro de seu crânio.

A imagem do maior em sua cozinha é como uma aquarela monocromática.  Seus olhos inchados, a boca entreaberta, o cabelo ainda bagunçado no topo de sua cabeça. Todos seus detalhes notavelmente desleixados e definidos com a facilidade natural que Hongjoong só encontra em Seonghwa.

Ao pé da cama está uma garrafa de Bordeaux. Traça seu dedo sobre o vinco  dela distraidamente e zomba. Que desperdício de bom vinho.

- Olha, sobre ontem... - Hongjoong começa enquanto entra na cozinha, não tendo ideia de onde está indo com isso mas esperando que Seonghwa tenha fé suficiente para detê-lo no meio do caminho - Não foi por sua causa. Era San. Eu estava apenas...irritado, eu acho...

Seonghwa não reage. E depois de perceber o fone de ouvido conectado em seus ouvidos, Hongjoong muda de ideia. Talvez não precise ir a lugar nenhum com nada; além disso, nunca foi de cutucar feridas abertas. Em vez disso, se senta à mesa de jantar atrás de Seonghwa, abre o jornal e espera. A cozinha cheira a bacon, torradas e detergente e Hongjoong se pergunta se vale a pena arrancar a casca se a carne está apodrecendo por baixo, ou se a felicidade é proporcional apenas à  superfície da pele.

- Acabou o seu leite - declara o maior quando tira seus fones de ouvido, empurrando um prato de bacon quase queimado sob o nariz de Hongjoong - E eu usei todos os ovos.

Esclarece.

- Vamos ao mercado.

Isso pega Hongjoong desprevenido. Seonghwa normalmente não é dar o primeiro passo. Encara seu prato, o brilho molhado dele é ofuscante.

- Tenho trabalhos pendentes a resolver no escritório -  a voz saira tensa e forte, mais do que pretendia.

- É sábado - diz, claramente de mau humor. O estômago de Hongjoong revira, uma torção e um afundamento.

- Tem dinheiro na cômoda - murmura - Compre o que quiser. Tenho que trabalhar

Não estão em um relacionamento no fim das contas. Não lhe deve nada. Cada vez que Seonghwa volta, Hongjoong já é uma pessoa diferente. Não era o que costumava ser a sete anos atrás. Não era mais o garoto que se apaixonou por Seonghwa, segurou sua mão e chorou litros e litros por este estar desistindo da faculdade.

É inconcebivelmente estúpido como Seonghwa consegue simplesmente voltar cada vez, esperando que Hongjoong permaneça sempre o mesmo, aquele jovem de 22 anos o esperando desesperadamente até o amanhecer em um restaurante sujo.

𝐀𝐁𝐘𝐒𝐒 | seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora