Parte VI

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- O que é isso?! - Wooyoung grita, sua voz trovejando pelo corredor minutos antes de atravessar a porta. Já faz uma semana desde o dia da inauguração. Uma dúzia de tamanhos 25 foram vendidas.

- É uma oferta razoável, só isso. - Hongjoong diz, um suspiro forçado sai por seu nariz. Ele vasculha as dezenas de papéis que Yeosang empilhou em sua mesa. - Além disso, acho melhor comprar um casaco novo. Seul pode ser bem fria no-

O punho de Wooyoung é uma parede de aço conectando-se a sua mandíbula. Tira o ar de seus pulmões. Hongjoong cambaleia para trás, sente seus lábios pegarem fogo. O anel no dedo de Wooyoung parece cimento contra seus dentes. O agarra pelo colarinho antes que Hongjoong possa se recuperar o suficiente, e o soca de novo e de novo.

Hongjoong não tenta reagir. Não há a motivação, agarra a camisa de Wooyoung e o deixa continuar.

Minutos depois, quando ele finalmente o solta, sua cabeça está zumbindo. Um linha brilhante de estrelas flutua em sua visão. Mal consegue distinguir a sombra sob a boca de Wooyoung escurecendo e inchando.

- Sabe de uma coisa? Eu pensei sobre o que você disse, e percebi que posso me virar sozinho. - diz - Prefiro morrer de fome em um depósito de arte fodido do que ser justificado por essas…essas malditas pilhas de recibos. - pega um do chão e olha através dele - Que se foda. - murmura, antes de jogá-lo em qualquer lugar e sair furioso.

- Então... - San fala um pouco depois, apoiando-se no batente da porta. Hongjoong supõe que deveria justificar ele estar caído contra a mesa e a papelada espalhada por todo o chão, apenas por uma questão de senso, mas não consegue encontrar energia para se importar. - Quer me contar o que aconteceu?

- Negócios. - dá de ombros, puxando um lenço do bolso da camisa e passando sobre o sangue que escorria de seu nariz.

San se endireita. Hongjoong não consegue vê-lo bem por esse ângulo, mas imagina que, se pudesse, o veria decepcionado pela primeira vez.

- Eu ouvi o que você disse a ele, outro dia, sobre os preços. E eu só acho que... - ele suspira, olhando para baixo. - Hongjoong, nós costumávamos pescar juntos, lembra? Você aprendia todas aquelas receitas para economizar dinheiro e cozinhava por conta própria aquela sopa de pollock todos os dias por ser mais barato, costumava ser tão esquisito, engraçado e mau humorado e...costumávamos ser amigos. - diz, calmamente, depois de um tempo. - Eu sinto falta disso. Sinto falta da sua sopa. Sabia disso? Sinto sua falta, Hongjoong.

- Não seja sentimental. - Hongjoong zomba. Vasculha a bagunça dentro de sua gaveta e finalmente pega um isqueiro e um maço de cigarros. San não lhe olha antes de sair, a porta permance aberta atrás dele, uma pergunta silenciosa.

Hongjoong consegue acender, mas sua mão treme tanto que não possui forças para levá-la até os lábios. O joga então sobre a mesa e se levanta, encarando a porra da pintura genial de Wooyoung. A cicatriz através da tela. Quão inteligente, e quão estúpido.

Pegando o telefone disca o último número que ligou.

Seonghwa não atende. Hongjoong tenda novamente. Nenhuma resposta, nada. Liga de novo, de novo, de novo, tremendo de desespero, até que os números na tela pareçam altos e estranhos.

Constantemente começa a acordar com a ideia de que se sente aliviado. É assim que as coisas têm sido, e é assim que as coisas sempre serão. É fácil, tão direto e simples. Deveria ter previsto que era mentira.

No primeiro dia da primavera, Hongjoong chora pela primeira vez em anos. É assim que sua vida desmorona, sem estrondos, sem choramingos, apenas a mensagem automática ao final de vinte ligações perdidas.

𝐀𝐁𝐘𝐒𝐒 | seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora