Parte: II

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- Wooyoung vai pegar o avião em sete semanas - Yunho retransmite pelo viva-voz.

- Recatalogue suas obras - Hongjoong ordena a Yeosang.

- Já fiz isso. - dá de ombros.

- Faça de novo.

- Aqui - ele lhe entrega
um cartão de visita - Este é um bar bem decente.

Hongjoong franze a testa. Erra a lata de lixo por um centímetro.

A luz fica verde. Um grupo de frequentadores de bares noturnos atravessa a rua. Hongjoong os observa de dentro do táxi através da condensação que embaça a janela, bate levemente no relógio e sincroniza seus passos com o ritmo das palavras do comentarista de hóquei tocando no rádio. Sua cabeça está latejando. O motorista vira à direita, passando por dois quarteirões antes de encostar no meio-fio.  Em dezembro, Seul é insuportavelmente fria.

Um homem passa pelo táxi com um casaco de gola alta. Isso lembra o de San.

- Já ouviu falar do conceito de perspectivas? - San havia dito há muito tempo atrás, quando Seonghwa começou a desaparecer. Foi quatro semanas depois que Hongjoong convenceu seu pai a lhe emprestar uma quantia para abrir a galeria. - É como se você visse as coisas de outra forma, sabe? Como uma pintura de dois significados, entende?

- San, você não pode nos comparar assim. Ele faz grafite, pelo amor- pensa que é um verdadeiro artista.

- O ponto é, tenho dois amigos que se formaram como os primeiros da classe na K-Arts, ou melhor, um que se formou e outro que quase se formou, e em vez de pintar ou esculpir como qualquer pessoa sã esperaria que eles fizessem, um está negociando arte e o outro está rabiscando em trens do metrô.

- E daí?

- Cala a boca um segundo. Me deixa falar. - San havia lhe cortado. - Seonghwa pode fazer o que quiser com um pincel e uma tela e ser elogiado até a morte por isso, mas ele não o faz, porque gosta de se encurralar. E isso é tanto sua coragem quanto seu medo de falhar em tudo mais que se propor a fazer. Incluindo relacionamentos.

- Isso não é-

- E sabe por que não dá certo? Porque enquanto ele está fugindo pelo resto da vida, você finge não se importar. - San disse, apontando um dedo acusadoramente em seu peito. - Você o deixa voltar, mas não o impede quando sai. São apenas dois covardes.

- Não se atreva a dizer isso de novo, Choi San.

- Digo! Você é um covarde. Você é exatamente como ele!

Uma onda espessa de raiva invadiu o corpo de Hongjoong naquele momento, a taça de vinho dura em suas mãos, sua camisa como uma faca contra sua garganta. Sua cabeça doía, seu coração apertava no peito.

Foi a única vez que brigaram de verdade. Hongjoong não falou com ele por meses.  Quando San finalmente apareceu em sua porta com uma garrafa de saquê quente e dois pacotes de lulas assadas, quase de imediato arrancou tudo de sua memória. Cada palavra que San já disse.

O táxi para em frente ao seu apartamento. Hongjoong conta o troco exato. Demora um pouco. Todas as moedas parecem iguais. Abre um guarda-chuva enquanto sai. Não deveria estar aqui agora. Havia um voo para Hong Kong quatro horas atrás, e é lá onde deveria estar, formatando tabelas em seu laptop, organizando todas as palavras em seu dicionário para agradar Song Mingi e sua comitiva. Mas, em vez do aeroporto, foi ao bar e beijou a mulher que lhe pagou uma bebida a mais.

O vento corta seu rosto. Provavelmente deveria tomar banho, pensa. O cheiro impregnante do sexo está enjoativo em sua boca.

O relógio no balcão da portaria pisca 3 da manhã. Seu telefone toca. Ele não atende. A porta do elevador se abre. Tropeça para dentro, depois para fora. No apartamento, tranca a porta atrás de si, tira os sapatos e a gravata jogando-a em qualquer lugar enquanto a porta se fecha. Já faz um tempo desde que se sentiu assim.

Há uma mensagem de voz em seu telefone.

"Joong, sou eu" A voz estática diz "Você pode me buscar? Estou na estação de trem. Rápido. Está frio. Por favor venha."

E agora as palavras de San estão voltando lentamente, um furacão gigante afundando em seus ouvidos, enchendo sua boca, rasgando as fendas de sua pele. Hongjoong é miserável, Hongjoong é triste, Hongjoong é um covarde.

E o fato é que San não está totalmente errado. Não está nem um pouco errado.

Hongjoong cambaleia até a entrada, calça seus sapatos e some pela porta.

𝐀𝐁𝐘𝐒𝐒 | seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora