Parte II

148 28 1
                                    

Hongjoong percorre a galeria. Estando sozinho, é difícil evitar refletir sobre o desperdício cômico de espaço e eletricidade. Consegue imaginar Yeosang indo para casa todos os dias e criando capítulos infinitos sobre seu chefe idiota: o elitismo, o esnobismo, a ganância, o verdadeiro devasso revelado, com entrevistas individuais com seu melhor amigo igualmente idiota, Choi San, cavaleiro do Vale do Silício.

E sinceramente não julgaria. Mesmo agora, esse tipo de dinheiro Hongjoong também não entende de certa forma, se essa é que essa seja a palavra certa.  Claro que usufrui do luxo como um sapatinho de cristal com o qual nasceu, mas a realidade é que sua família nunca foi próspera. Os domingos sempre foram passados ​​ajudando sua mãe a varrer o salão de cabeleireiro. 

Hongjoong vagueia sem rumo, olhando para as telas, algumas pela primeira vez. Ninguém está por perto. O zelador já havia ido embora e desligado o aquecimento nos escritórios adjacentes. O lugar está surpreendentemente frio quando tira sua jaqueta, ar rígido em seus pulmões.

Já é inverno há muito tempo, ele percebe. Lá fora há neve nublando a cidade como uma explosão de fino amianto.

Desabotoa os punhos da camisa, enrola-os e pega uma vassoura e uma pá no armário do zelador.

O café de Seonghwa tem um sabor amargo que gruda teimosamente em seu paladar.

Começa pelo final, a entrada de seu escritório, e segue seu caminho de volta. Passando pela porta do curador, as salas da equipe regular e a mesa de Yeosang bem no outro extremo.

As coisas de Yeosang ainda estão desempacotadas em seu banco em números ridículos de caixas orgânicas de matcha latte alinhadas na parede e embalagens de doces espalhadas pelo chão, uma demonstração imprópria de desafio. Parece que não vai deixar Hongjoong demiti-lo, e claro, claro que ele não vai. Essa foi provavelmente a razão pela qual o escolheu em um grupo de cem, ele e sua ridícula falta de educação e tendência de juntar todas as coisas erradas.

- Joong!

Hongjoong quase deixa cair sua vassoura no chão quando se levanta e encontra Seonghwa com o rosto colado contra a janela da galeria. O sorriso de orelha a orelha demonstra satisfação consigo mesmo. Uma fina camada de neve está se acumulando em sua jaqueta. Segura uma sacola de compras vazia e bate com os nós dos dedos no vidro.

- Não vou conseguir carregar tudo. Sério.

Hongjoong olha de relance para o monte de lixo na pá e para o pequeno e esperançoso sorriso de Seonghwa, pendurado ao acaso em seu rosto.

E aqui está a verdade: embora possam não estar em um relacionamento, Hongjoong sempre permitiu que Seonghwa o arrastasse para onde quisesse, simplesmente não aprendeu a deixá-lo ir. Ainda não.

Então o segue. Desta vez para o supermercado.

𝐀𝐁𝐘𝐒𝐒 | seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora