Parte IX

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A chuva havia parado quando Hongjoong desceu. Algumas luzes da rua estão acesas, brilhando suavemente sobre a calçada molhada de um céu acinzentado pelo amanhecer. O lugar não mudou desde quando tiveram seu primeiro encontro. Os prédios estão exatamente onde se lembra estar, o pequeno restaurante chinês dirigido por um homem filipino, o salão de cabeleireiro na esquina, a farmácia e a loja de fitoterápicos frente a frente à beira de guerra.

Mas não era exatamente assim; as estradas envelheceram, o cimento rachou e ficou vazio, ladeado por árvores como ervas daninhas. Hongjoong caminha sete quarteirões ao lado desta versão mais recente. No final da rua, à beira do terreno baldio, fecha os olhos e percebe que algo dentro dele também mudou.

Depois de se espremer e passar pela cerca, a parede não está tão longe. Hongjoong abre caminho entre a infinidade de grama alta. O sol está em suas costas. Metade do mundo está em chamas. E metros antes da parede Hongjoong para, tendo uma visão ampla da imensidão de cores à sua frente. Ao lado desta foi onde Seonghwa primeiro lhe deu uma lata e disse para tentar sacudi-la, onde guiou suas mãos sobre sua criação, onde eles se apaixonaram. A flor após todos esses anos, murchando e quase incolor, permanecia lá.

Mas Hongjoong percebe que Seonghwa tem voltado de novo e de novo. O fresco gradiente de tinta se estende pela parede, dando brilho e cor sobre desenhos antes feitos, como um fogo de artifício desaparecendo no céu. E o fato é que nada mudou. Nada foi escrito. Seonghwa nunca fez nada maior ou mais bonito do que já estava. Em vez disso, trabalhou em torno deles, as partes que são mais feias, estranhas ou apressadas. Incorporou-os em algo maior, uma flora, um enorme reino da vida - alguns florescendo, outros murchando, mas todos integrais, uma parte do todo.

E talvez Hongjoong pensa enquanto toca a parede, traça uma linha sinuosa de onde eles começaram até onde estão agora, onde a tinta é tão nova que pode manchar seus dedos, que Seonghwa entendia o que eles tinham o tempo todo. Talvez, quando voltasse após cada briga deles, sem avisar e ansioso, não fosse para recomeçar. E sim para continuar.

Hongjoong descansa encostado na parede, a chuva manchando sua camisa. Se lembra de como eles terminaram. Não brigaram. Seonghwa nunca brigou com ele durante todos esses anos. Em seu lugar, rolava para fora da cama e resmungava algo sobre não saber que horas iria voltar. Pegava seu casaco. Saía tropeçando pelo corredor descalço esquecendo-se de quase tudo, menos do casaco amarrotado.

E Hongjoong havia deixado Seonghwa ir. Toda vez que voltava, ele o deixava ir novamente, com medo de colher um déficit, de ser decepcionado. Quando pensou que Seonghwa não conseguia entender a arte real, talvez fosse ele quem, cambaleando à beira do precipício, se recusasse a ver a arte pelo que ela era, estender a mão e se expor.

Se lembra de estar deitado na cama, imóvel, olhando para a fresta da porta e ouvindo os passos de Seonghwa desaparecendo, assustado e sem fôlego com o braço no calor desvanecido de onde ele estava.

Se arrepende de não ter ido atrás de Seonghwa, de não ter o dito para ficar. Havia todo um muro que Seonghwa construíra entre os dois, e Hongjoong nunca tentou o impedir. Decepcionou Seonghwa, uma, duas, sequer sabe quantas vezes, e sente muito, sente muito, muito mesmo. Mas desculpa, ele sabe, nem sempre é suficiente. Seonghwa se foi. Não voltou. E talvez nunca o faça.

Então, pela primeira vez em sua vida, para de esperar por Seonghwa. Não é um milagre nem uma tempestade. Ele apenas se levanta, alisa os amassados ​​da camisa e da calça e dá um passo, o primeiro para um longo caminho de volta para casa.

𝐀𝐁𝐘𝐒𝐒 | seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora