Dia vinte e oito de outubro, meu aniversário. Eu estava deitada na cama dormindo, o calor das cobertas me esquentava e eu não pretendia sair dali tão cedo. Sabia exatamente o que queria fazer.
— Não acredito que ainda está dormindo! — A voz de Ellis ecoou no meu quarto até chegar nos meus ouvidos.
Ai não! Me encolhi em baixo das cobertas rapidamente. Agarrei a coberta e quando senti Ellis puxar agarrei com mais força.
— Já que é meu aniversário você não devia me deixar fazer tudo o que eu quiser? — Falei brava com a voz um pouco rouca quando ela conseguiu roubar minha coberta, cocei os olhos com as costas das mãos antes de abrir e ver ela me encarando com um sorriso. Joguei minha cabeça para trás e voltei a me encolher.
— Anda Lydia. — Ellis me puxou pra fora da cama e cambaleei até o banheiro.
Desci para a cozinha ainda de pijama, minha mãe fazia suco e meu pai mexia alguma coisa no fogão. Minha mãe correu até mim e me abraçou, retribui o abraço.
— Feliz aniversário minha Tulipa Negra. — Sussurrou pra mim, ela se soltou e deu um beijo em minha testa e depois voltou a fazer suco. Fui até meu pai e ele me deu um abraço e beijou minha cabeça.
— Feliz aniversário princesa do papai. — Ri com sua fala, faz tempo que ele não me chama assim. Roubei um waffle e corri pra longe do meu pai, dei uma mordida e coloquei no prato quando eu cheguei a mesa, peguei a calda e despejei em cima.
Convenci a todos a não fazerem festa pois eu já tinha planejado meu presente, com relutância Ellis cedeu a minha vontade contando que fizemos um bolo para cantar parabéns. Ajudei Ellis no bolo e na decoração, estava faltando sorvete para a sobremesa então fui com Alexia até o mercado.
Quando voltei, a tia Carmen estava na sala conversando com a vovó, minha mãe e Julie, Emily brincava com os gêmeos da tia Carmen e Alex estava com os meninos e meu pai no portal da cozinha. Todos se viraram para mim e desejaram:
— Feliz Aniversário! — Falaram juntos. Sorri. Julie pegou uma sacola vermelha que estava do seu lado no chão e veio até mim. — Aqui seu presente. — Me entregou, agradeci sorrindo.
— Vamos comer bolo! — Ellis chamou na porta da cozinha e a seguimos até a sala de jantar, a mesa com o bolo, doces e os salgados todos arrumados pela tia Carmen estava lindo. Ellis ama aniversários, e com o jeitinho brasileiro dela a festa foi melhor do que outras que já vi.
Fui até a mesa e peguei um copo, o enchi de refrigerante e dei um gole, quase cuspi tudo quando alguém falou atrás de mim me assustando.
— Desculpa, não queria te assustar. — Reconheci a voz do Luke. Ele colocou a mão nas minhas costas massageando enquanto eu tentava recuperar o ar depois de engasgar. Respirei com força, minha garganta doía, me virei e ele me entregou uma sacola pequena, espiei dentro e tinha uma caixinha de veludo azul e um papel, o olhei. — Não sabia o que te dar. — Confessou, sorri.
— Obrigada pelo presente.
Olhei para o relógio, meu compromisso estava quase na hora. Não posso sair sozinha... Pensei olhando em volta, meus olhos pararam no Luke ao meu lado. Melhor do que nada.
— Me empresta seu carro? — Pedi e ele me olhou desconfiado.
— Você não tem carteira de motorista. — Falou como se eu tivesse contado isso para ele.
— Então me leva em um lugar, por favor. — Falei o que realmente queria. Após pensar muito ele me levou até a corrida que ia ter na rua das Duas Flores Roxas.
Eu não sabia dirigir então só me restava ver, olhei animada os carros em fileira. De longe vi o dono, Theo, ao lado do Brian, balancei as mãos para cima chamando a atenção do Brian, ele sorriu e fez uma cara confusa. Olhei para trás e vi Luke parando do meu lado.
— Pensei que fosse embora. — Falei alto para ele poder me escutar, as conversas altas, a música e o barulho de brigas ao longe dificultava a comunicação.
— Não vou te deixar sozinha aqui. — Falou sério, — Aliais, por me pediu para te trazer?
— Minha mãe me proibiu de sair sozinha no meu aniversário e a única pessoa com carro que poderia me levar era você. — Expliquei dando de ombros e voltei a prestar atenção na corrida. Passei pelas pessoas e fiquei de frente para a estrada.
— Não vai correr? — Neguei.
— Não sei dirigir.
— Sabem as regras! — Theo começou, caminhando para frente dos carros, ele é bem alto, quase dois metros. A pele escura dele na noite fica engraçado pra mim, as luzes dos postes na pele dele me faz lembrar de chocolate. Comecei a rir com meus pensamentos.
— Veio aqui me ver ganhar? — Olhei para o menino na minha frente, ao lado do seu carro. Ele sorria, um daqueles sorrisos que dá vontade de desfazer com um soco.
— Se eu fosse você prestava atenção na corrida. — Aconselhei e dei uma piscadinha.
— Entra no carro, André. — Theo mandou e o menino obedeceu me olhando com raiva.
Fiz um sinal para o Brian dizendo que apostava para o tal André perder, observei Brian assenti e escrever no caderno. Com a atenção focada na corrida, o vento dos carros ganhando velocidade me fez sorrir, vi um carro azul ultrapassar os outros, incluindo o do André, gargalhei quando ele teve que diminuir ou bateria o carro, na curva o carro azul fechou um carro preto tomando a liderança. Só ver me deixava elétrica e o coração acelerado, não via a hora de aprender a dirigir.
O André perdeu feio para o carro azul, peguei meu ganho da aposta e sai feliz da vida, rindo do idiota do André e por ter ganhado a aposta.
— Sabia que aquele cara ia perder? — Luke perguntou me levando para casa.
— Ele é esnobe e estava fora do carro, nunca esteve em uma corrida daquela, não conhecia a pista, ele poderia ganhar em terceiro ou quarto mas não chegaria em primeiro. — Expliquei contando o dinheiro.
— Então é assim que você tem tanto dinheiro. — Falou indicando o dinheiro na minha mão e voltou a olhar para a estrada.
— Sou boa em analisar as pessoas e preciso de dinheiro.
— Você poderia trabalhar. — Retrucou.
— Mas isso não tem graça. — Falei sorrindo e pisquei para ele, que negou com a cabeça, mas percebi o começo de um sorriso no canto da boca.
Você ainda não viu nada, Luke Hendricks.
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Uma Garota Problemática
Ficção Adolescente"Fui virando nos corredores ganhando distância, quando estava longe o suficiente para me esconder dei uma rápida olhada em volta e entrei na primeira porta. Fechei a porta rápido e olhei dentro da sala, era uma sala de aula cheia de alunos, todos me...