Capítulo 14

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Estava sentada na grama encostada em uma árvore, com o caderno no meu colo e o lápis encaixado atrás da minha orelha, a sombra das folhas me deixavam livre do sol quente daquela tarde e a grama pinicava minhas pernas e me fazia se mexer a cada minuto na tentativa de diminuir a coceira.

— Se eu conseguir uma forma de fazer aquele babaca do Benjamin pagar por ter pegado minha caixinha de remédio. — Falei em voz alta. Voltei a pegar o lápis e calcular mais uma vez, pensando em todas as formas de pegar minha caixinha e dar o troco pra ele ter noção de que comigo não se brinca assim. — O intervalo do almoço é uma hora, se eu comer um pouco mais rápido e se for uma das primeiras da fila consigo sair do refeito em dez minutos. — Calculei. — Mais doze minutos para entrar no quarto dele...

— O que está fazendo? — Dei um pulo e fechei o caderno por reflexo, olhei para o dono da voz e vi o Vitor me olhando com um sorriso, suspirei aliviada e abri o caderno de novo.

— Fazendo o dever de cálculo. — Menti procurando a folha com o dever de cálculo que estava fazendo.

— Qual dever? O professor não passou nenhum dever essa semana. — Vitor falou pensativo, o olhei e ele olhava pra cima pensativo — É, ele não passou nenhum dever essa semana. — Falou com certeza.

— Como você sabe? Não é da minha turma. — Falei estranhando aquilo.

— Sou colega de quarto do Victor, sei de todos os deveres dele. — Explicou sorrindo, abaixei a cabeça revirando os olhos.

— Estou revisando. — Falei, vendo que ele não me deixaria em paz. Voltei a procurar a folha, guardei o lápis marcando a página e fechei o caderno. — Não deveria estar com os seus amigos? — Olhei pra ele novamente. Era estranho vê-lo ali.

— Não tenho tantos amigos assim, normalmente eles ficam espalhados pelo internato. — Explica sorrindo, ele deu alguns passos em minha direção e se sentou na minha frente com os tornozelos cruzados.

— E os meninos que andam com você? — Pergunto sem me importar muito, eu não puxaria assunto mas estranhamente senti que ele precisava conversar.

— Eles não são meus amigos, eles só me adulam querendo as respostas dos deveres. — Respondeu sem tirar o sorriso e tentando disfarçar a tristeza. Ele era um grande mentiroso, com seus sorrisos que expressavam alegria falsa e expressão facial calma. E isso ficou bem claro pra mim naquele momento, aquilo o machucava, mas ele escondia aquele sentimento e era muito bom nisso, mas eu conhecia aquele olhar, já o vi muitas vezes, eu mesma já tive aquele olhar, o olhar que brilha de tristeza, o olhar que a maioria das pessoas via felicidade por ser lindo e brilhante.

— Se quiser mentir para as outras pessoas vá em frente, mas pra mim não. — Falei séria. — Odeio isso, esses sorrisos cheios de rachaduras e o olhar brilhante que escondem sua dor, não sorria pra mim assim. — Pedi. Ele já não tinha o sorriso e me olhava de forma estranha, parecia abalado.

Me levantei, limpei a grama da roupa e peguei minha mochila, dei um último olhar antes de ir, ele ainda me olhava. Respirei fundo e fui embora dali. Eu odeio aquele sorriso, quando tudo em você está quebrado e desmoronando você sorri escondendo sua dor para não preocupar as pessoas, esses são os que mais machucam.


Olhei a hora no relógio da parede, faltava cinco minutos até a próxima aula. Eu tinha que bolar um plano de vingança perfeito, caminhando para a sala de ciências sociais, bolei o plano perfeito. O sinal tocou e já estava na porta da sala esperando o professor, um minuto depois ele abriu a porta e a sala se encheu rápido, Victor e Taki chegaram atrasados e o professor tirou alguns pontos dos dois por isso. Eles sentaram atrás de mim e ficaram em silêncio até o professor retomar a aula.

Uma Garota ProblemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora