Capítulo 16

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Bati pela terceira vez na porta, minhas mãos tremiam e eu sentia que a cada segundo eu poderia fugir e ficar desaparecida por dois dias.

— VÓ!! — Gritei e voltei a bater.

— Já vai! — Escutei ela responder do outro lado, escutei o barulho da tranca e logo ela abriu a porta. — Não precisa quebrar a porta. — Me repreendeu com a voz calma e me analisando.

— Por que demorou tanto? — Entrei rápido.

— Estava no banheiro. — Sua voz foi abaixando o volume, eu sentia seu olhar sob cada movimento meu. Deixei a mochila no chão do lado da bancada e fui até a geladeira, peguei a jarra com água gelada e enchi o copo. — Aconteceu alguma coisa? — Sua voz mostrava preocupação. Bebi a água rapidamente, senti ela rasgar minha garganta e esfriar todos os meus órgãos, quando fui encher o copo novamente minha vó segurou a minha mão, olhei para ela. Com as mãos quentes e macias ela soltou a jarra da minha mão e me puxou até o sofá. — Respira. — Sua voz soou tão calma e simples, comecei a controlar a respiração. — Foca, fecha os olhos e me diga o que você lembra do meu quarto. — Fiz o que ela mandou e lutei contra as cenas e as vozes que apareciam.

— As paredes são laranja claro... — Busquei lembranças minhas e da Alexia dentro do quarto. — A Zamioculca, — Lembrei da planta favorita dela. — fica em um vaso branco do lado da escrivaninha de frente para a cama da senhora, seu livro preferido fica na gaveta do criado-mudo junto com a bíblia que era do vovô.

— E o que mais? — Tentei me lembrar de mais alguma coisa mas não vinha nada. — Se controle, não deixei o medo te dominar. — Falou firme. — Respira. — Respirei fundo e me acalmei.

— Da janela dá pra ver as palmeiras que o vovô plantou, e embaixo da janela tem uma plantação de flores e entre elas margaridas.

— As favoritas do seu avô. — Falou com a voz cheia de saudade, abri os olhos. — Mais calma? — Assenti com a cabeça. — Então me fala o que aconteceu.

— Meu colega de quarto mais parece um fantasma de tão quieto e não é porque ele é tímido, ele não é. — Falei convicta. — E os amigos dele, cada um mais diferente que o outro, e parece que eles vivem grudados, cada um invade o quarto do outro, e tem o Victor. Há, o Victor é aquele tipo de garoto mulherengo, ele é brincalhão, é o mais criança do grupo. — Eu falava tão rápido que era obrigada a parar por causa da falta de ar. — E eu surtei! De novo! Foi só o meu colega de quarto deixar cair a porcaria de um porta lápis, o som igual de uma bala, foi tão parecido. — Meus olhos arderam e minha garganta arranhava.

— Eu sei meu bem, eu sei. — Falou com a voz tão mansa que parecia que as palavras estavam me fazendo carinho. — Eles viram não foi? — Balancei a cabeça em concordância. — Imagino que por isso você não queira voltar para lá não é? — Concordei de novo. — Sabe que sua mãe vai dar jeito de fazer você voltar.

— Eu sei. — Lamentei, engoli e senti a dor na garganta se aliviar.

— Então sabe que vai ter que voltar. — Concordei, mesmo não sendo uma pergunta.

— Mas eu não quero voltar. — Choraminguei na esperança de trazer ela para o meu lado.

— Estou do lado da sua mãe, nem adianta tentar me convencer. — Avisou. Suspirei frustrada. — Vai deitar um pouco, descansar. — Assenti. Ela se levantou e antes de se afastar depositou um beijo na minha cabeça, respirei fundo e me levantei. — Ei. — A olhei, ela pega alguma coisa em cima da ilha e joga pra mim. — Sua chave. — Finalmente tinha ficado pronta! Por pouco que não bate na minha cabeça, ela joga um beijo e depois sorri, sorrio de volta e fui para o meu quarto depois de pegar minha mochila.

Uma Garota ProblemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora