Capítulo 04 - Verdade amarga.

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Eu encaro a porta do escritório de Chris como se meu julgamento final estivesse me aguardando do outro lado

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Eu encaro a porta do escritório de Chris como se meu julgamento final estivesse me aguardando do outro lado. Estou aqui a mais de dez minutos,  indo e voltando no corredor, me encorajando de que realmente é uma boa ideia tentar trocar uma palavra com meu irmão. Nos trombamos apenas duas vezes desde o jantar, e ele faz questão de me mostrar que está fingindo que minha presença é inexistente nessa casa. Não faz nenhuma refeição comigo ou sua esposa, e sim pede para Melissa levar seu prato até seu quarto. Tentei me ausentar do jantar na segunda, para conferir se ele iria se juntar à mesa, mas quando espiei pelo corredor, Camila estava comendo sozinha.

Nós nos encontrávamos em todas as madrugadas, quase como se houvesse virado uma rotina, e jantávamos juntas. Honestamente, eu tinha pensado que seria insuportável estar nessa casa, até que a minha ficasse pronta, mas Camila torna tudo mais suportável. Ela é legal, não se incomoda em excluirmos todo o clima estranho entre Chris e eu para conversarmos sobre assuntos aleatórios, como minha vida em NY, sua vida em Seattle, livros ou programas de TV. Ou até mesmo flores, que descobri que ela ama. Conversar com ela me faz esquecer o restante da casa, na verdade. Não consigo enxergar um momento em que Chris e Camila acreditaram que tinham coisas parecidas o suficiente para se casarem. Meu irmão só gosta de cerveja e esportes, de acordo com os relatos que meu pai –contra minha vontade– me passava.

Mas isso não é da minha conta.

— Foda-se – eu sussurro antes de bater na porta, em um ato impulsivo. Não vou fazer isso se continuar pensando.

— Pode entrar, amor – Chris grita lá de dentro, e reviro os olhos antes de abrir a porta. – Você conferiu o que Melissa vai preparar para o almoço hoje?

Ele não havia notado que a esposa tinha ido para o centro da cidade fazia mais de seis horas?

— Camila não está aqui – digo, e seus olhos se erguem para mim instantaneamente.

— Não precisa fechar a porta, pode sair – ele indica a porta com a cabeça, ríspido, e eu nego, cruzando meus braços e tomando conta do escritório.

Não havia prateleiras de livro, uma cafeteira, quadros, fotos como decoração. Nada. Apenas paredes cinzas, um armário gigante, um relógio sem graça e sua mesa. Se parece com ele.

— Um pouco de cor não faria mal para você.

— Sabe o que não faria mal para mim? Que você saísse.

Eu suspiro fundo, ignorando o insulto para o encarar. Ele estava diferente, mas ainda parecia apenas um menino. Não tinha barba, não tinha os traços maduros para sua idade, e nem o corpo tão desenvolvido assim. Era bonito, claro, mas, com os olhos de irmã, não consigo enxergar nada demais. Me pergunto se, quando eles saem, a beleza de Camila não o ofusca.

— Eu só vim aqui para conversar, Chris – digo, erguendo um pouco das mãos. Nunca pensei que precisaria mostrar que eu não era uma ameaça para meu irmão mais velho. – Podemos, por favor, seguir por apenas dez minutos?

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