Capitulo 25 - Uma pessoa que vale a pena.

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Nova York | alguns anos atrás

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Nova York | alguns anos atrás...

— Como vão as coisas com Keana, Lauren?

Estou tentando desvendar um cubo mágico enquanto Helena me faz as perguntas de único de sessão, quando eu não disparo a falar algo primeiro. Normalmente, isso acontece quando algo me deixou muito eufórica ou indignada, e Ashley não estava por perto para que eu pudesse contar, o que fazia de Helena a primeira vítima das minhas frases rápidas. Hoje, em especial, eu não estava sentindo nada disso, e passei as três últimas horas na casa de Ashley conversando sobre o ocorrido.

— Terminamos – digo, girando o conjunto de cima do cubo.

Há um pequeno silêncio, onde sei que Helena quer que eu diga mais, que monte todo o quebra-cabeça do porquê meu primeiro relacionamento com uma garota chegou ao fim. E a verdade não é muito longa ou muito complexa; eu não conseguia dar a alguém o que ele precisasse. Se você precisa de um apoio para te segurar quando estiver mal, não conte comigo, eu mal consigo me manter de pé sem remédios. Se você precisa que eu pare de sair tanto com meus amigos para passar mais dias com você, não conte com isso, eles são as únicas pessoas que me fazem esquecer a guerra na minha cabeça. Se você precisa de uma pessoa tranquila, leve, doce e sútil, eu nunca serei essa pessoa. Era disso que Keana precisava, e eu sei que se eu quisesse, se eu realimente quisesse, poderia melhorar para ser melhor pra ela, mas no fundo, sei que não vale o esforço. Não porque ela seja ruim ou algo do tipo, mas não me vejo esforçando tanto por alguém que pode decidir foder comigo a qualquer momento.

Mas você fodeu com ela.

— Quer me contar o que houve? – Helena ajeita os óculos, e segura a caneta sobre a caderneta em sua coxa.

— Eu só não acho que vale a pena me esforçar para ficar com alguém que pode decidir me chutar para fora da vida dela a qualquer momento – Helena anota algo, e imagino que talvez seja relacionado ao meu tom de voz, que não expressava muitas emoções, como remorso, ou tristeza.

Eu já expliquei isso a Helena algumas vezes. Há um bloqueio em mim para com as outras pessoas, um bloqueio impermeável. Quem estava dentro, ficou, e quem estava de fora quando ergui meus muros nunca poderia ultrapassar as paredes de concreto. Tudo que senti quando terminei com Keana foi apatia. Aquele sentimento de eterno nada. Tudo que eu sentia por ela era a sensação de frio na barriga pela primeira garota, mas era só isso, e quando meu cérebro aceitou que dali em diante seria outras garotas, qualquer coisa que eu senti por ela passou. Passou tão rápido quanto começou.

E é claro que eu não gosto de me sentir assim, mas como já dito, não sinto que vale a pena o esforço de mudar.

— E você achou melhor a chutar antes que ela te chutasse? – Helena usa meu palavreado. – Você não pensa que talvez, Lauren, isso seja um medo da rejeição que precisamos trabalhar?

É a primeira vez que realmente tiro os olhos do cubo para a encarar. Mas não digo nada, porque não sei o que dizer. A pergunta me pegou desprevenida, e está causando uma sensação estranha dentro de mim.

— Com a rejeição que você sofreu do seu irmão em um momento tão delicado, seu cérebro pode ter meio que se blindado, entende? – Ela prossegue. – Então, sempre que você percebe que há uma mínima chance de rejeição, seu cérebro te obriga a sair para se proteger. É como um método de auto-preservação excessivo.

E ali estou eu, em terceiro plano novamente. Me sinto assim com frequência; quando parece que sou arrancada do meu corpo, e tudo que acontece à minha volta, é visto em um terceiro plano, como se eu não me encaixasse naquele momento, como se não fizesse parte dele. Eu estou ali, e ao mesmo tempo não estou.

— Para eu ter alguém, eu preciso me expor, e eu não estou disposta a fazer isso, Helena – ainda estou a encarando quando digo isso. – Não estou disposta a me desmontar e montar de novo por alguém. Não sou feliz com a pessoa que sou hoje, mas não sinto que valha a pena passar pelo processo de reconstrução.

— Por que não?

— Porque ainda não encontrei alguém que me faça querer isso – dou de ombros. – Alguém que eu realmente olhe e pense; "eu faria de tudo para te manter aqui comigo, até mesmo". Não romanticamente.

— Então você diz que Keana não era a pessoa certa? Que ela não era a pessoa certa pra você? – Eu concordo com a cabeça, e Helena abre um sorrisinho, suspirando. – Não há pessoas certas, Lauren. Há pessoas que fazem dar certo.

— Então eu acho que não queria dar certo com ela... – assumo, abandonando o cubo para afundar as mãos no meu cabelo e suspirar cansada. – Estar em um relacionamento me cansa, Helena. Há muitas cobranças, muita tormenta, muita coisa que eu não consigo e que não posso lidar agora. Eu sou fodida da cabeça, se eu não tomo a droga de um remédio eu fico neurótica ou apática o dia inteiro. Não consigo ser feliz sem uma pílula, não consigo respirar direito sem uma pílula, não consigo conviver em sociedade sem uma pílula, as mesmas pílulas que a alguns anos atrás me causaram overdose. Se eu não melhoro nem por mim, como você acha que vou ter disposição para melhorar pra outro alguém?

— Você acha que nunca vai conseguir melhorar? – Helena me pergunta. – Nós já estamos diminuindo sua dosagem, você sabe que, algum dia, tudo isso finalmente será apenas uma lembrança na sua memória.

Minha cabeça já estava doendo, meu peito já estava inflando, e meu corpo transpirando com mais intensidade. Não gosto dessas conversas.

— Eu acho, mas é impossível agora – o nódulo começa a aparecer na minha garganta, e junto as pernas na cadeira. – E voltando no assunto sobre pessoas certas, eu concordo que há pessoas que fazem dar certo, mas eu não quero fazer.

Helena suspira, com um novo sorriso de canto surgindo, como se eu tivesse acabado de dizer exatamente o que ela queria ouvir.

— Lauren, você não é obrigada a encontrar uma pessoa, não é obrigada a ter alguém ou ser de alguém. Em relação a Keana, se você se sente assim, é bom que tenha se encerrado, que você não tenha a deixado alimentar sentimentos que você sabia que nunca seria capaz de suprir. Mas, caso essa pessoa algum dia apareça, eu acredito que quando você a encontrar, verá que não há esforço algum, que, na verdade, é leve. Que todo sentimento que ela te proporcionar, embora possa ser profundo, será leve, e você irá trabalhar para dar certo com ela porque você vai viciar de uma boa maneira naquela leveza. Você verá que o amor não é esse monstro de sete cabeças que sua mente projeta, muito pelo contrário, ele é o amor que você sente por Ashley, por sua mãe, por seu pai, claro, há uma fraternidade aí, mas é esse amor leve, que te conforta. Mas você só vai conseguir sentir esse amor romântico, quando se amar primeiro.

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