Quando se está casada a cinco anos, você ainda está perdidamente apaixonada, ou se acostumou com a rotina, e, no caso de Camila, filha de arquitetos e amante dos traços de um bom desenho, a rotina foi algo no qual ela se jogou. Embora o casamento nã...
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— Eu comentei isso com a mamãe, mas acho que não cheguei a citar com você – digo, enquanto tento me concentrar em não queimar a panqueca que eu estava tentando fazer. – Estou conhecendo alguém.
Meu pai, que estava escorado no balcão que dividia a cozinha da enorme sala de estar do meu novo apartamento ergue os olhos, surpreso. Agora, não moro muito longe da área industrial de Seattle, e, quando avisei ao meu pai que estava vindo para o apartamento, ele quis dar uma passadinha, para me ajudar com as compras exageradas antes da reunião que teria daqui a algumas horas. Precisei correr para o banho para tirar o cheiro de cigarro que estava em mim devido ao trajeto que me deixou irritada quando ele confirmou a presença. Não que ele não soubesse que eu fumava, mas ele não gostava muito.
— E quem é a sortuda?
Maneio com a cabeça, como se dissesse que era complicado. Eu planejava, em algum momento, poder dizer abertamente que estava com Camila, e, pra isso, eu precisava minar meus pais. Sei que o combinado seria fingir que começamos a nos aproximar romanticamente após o divórcio, e acho que fizer que estava conhecendo alguém agora seria útil, já que não levantaria suspeitas sobre algo que possamos estar tendo. Ou aconteceria totalmente ao contrário, e ela seria a primeira suspeita deles.
— É um pouco complicado – digo, desligando o fogo quando dou a panqueca como pronta.
— Ou você é quem está deixando complicado – eu rio baixinho, porque meu pai sempre achou que eu pensava demais sobre meus relacionamentos e sobre a vida em geral, até que tornasse complicado uma coisa que não era. Um exemplo disso era Keana, quando comecei a me envolver com ela, entrei em uma paranóia de que meus pais iriam começar a me odiar, sendo que, na verdade, eles já sabiam. – Mas bem, se ela está te fazendo feliz, então não tem nada de complicado.
Maneio a cabeça de novo, porque ele provavelmente não diria isso se soubesse quem era. Mas ignoro o pensamento, porque não quero que ele me rodeie até eu, distraída, acabar contando.
— Eu sei... mas eu só queria te contar sobre essa novidade – me preparo para mudar de assunto, enquanto transfiro a panqueca para um prato. – O que você... –
— Você não acha que é um horário totalmente desapropriado para comer panqueca? – Ele me interrompe, e eu entorno o nariz, negando com a cabeça.
— É uma das poucas coisas que eu sei fazer – me defendo. – Não queria pedir algo porque demoraria mais do que eu estava disposta a esperar, e, para ser honesta, estou forrando o estômago porque Camila virá e, diferente de mim, ela sabe cozinhar.
Só percebo o que disse quando as palavras saem da minha boca. Eu assunto internamente, com medo de como aquilo poderia soar, e levanto o olhar para meu pai, a fim de entender sua reação. Mas ele apenas está com a sobrancelha erguida.
— Camila virá pra cá?
— Sim – eu limpo a garganta, despejando um pouco de mel na panqueca. – Eu estava planejando ficar no telefone com Ashley, mas o celular dela está no modo avião por algum motivo, e então chamei Camila.
