0.04 | Constelações

223 22 19
                                    


Noites estreladas tem tendencia a nos tornar reféns do céu escuro com pequenos pontos de luz, nos fazem olhar segundos, minutos ou horas para a imensidão negra rodeada por pequenos corpos celestes.

Curioso não?

Sabermos que a imensidão negra é apenas o vazio do espaço com pequenos seres iluminados pelo regente do dia - simplesmente se encontrar hipnotizado pelo brilho fascinante da lua - Reflexivo.

Saber que nossos pensamentos são como estrelas que não consiguinos organizar em constelações para iluminarem o céu, nos tornando um emaranhado de pontos desconexos na imensidão escura, é perturbador.

Tirando o brilho de outros.

Já ouviram o ditado: pessoas quebradas magoam pessoas incríveis?

Vera estava presa ali há quase duas horas após o jantar com James, onde o diretor asiático não poupou esforços para tentar arrancar algo íntimo em relação ao comportamento estranho dos protagonistas de sua saga. James estava preucupado, quase dez anos de saga, de amizade em conjunto e jamais havia visto seus amigos assim como nos últimos três anos.

James não era ingênuo, sempre implicou com a importância de Patrick com Vera, até mesmo brincava para que deixassem o romance apenas em tela, ambos gargalhavam, mas o diretor conhecia seu amigo Patrick, sempre desconfiou do ator em relação a sua estrela.

- Vocês não parecem bem, nem um pouco - a voz de James era incisiva para ela - Patrick parece fechado desde que saimos do aeroporto - disse com uma expressão falsa de preocupação. Não havia visto ele assim antes.

- Ele só está cansado, James - rebateu sem qualquer empolgação.

E parando para pensar melhor em suas palavras sozinha, na varanda do seu quarto, ela pensou que talvez não fosse de fato uma desculpa qualquer, talvez ele estivesse de fato cansado.

- De mim - riu com escanio após murmurar para si mesma.

A verdade era apenas uma. Vera se sentia culpada pela forma que tratou Patrick naquele dia. Não que estivesse errada sobre seus princípios, havia Renn, seus filhos, a mídia, sua família! Vera não havia sido criada no berço da religião, mas haviam seus princípios, e traição não era algo que entraria para sua lista de ações, não havia cabimento, mas hipocrisia também era ruim, não?

Mas por que tentar enganar a si mesma? Traição não era apenas atos, mas também ações, olhares, sentimentos, sensações, mas ela ignorou. Amava seu marido. Seus filhos. Sua família e não iria colocar isso em risco.

- Mas precisava ser então fria? - a voz de Taissa ecoou em sua cabeça. Sim, ela exagerou.

Havia sido dura,

Fria,

Insensata,

Desumana.

Mas o que poderia fazer? Ela era humana. Não soube reagir com a chuva de palavras que Patrick lhe descarregou, ficou confusa, com medo, receio e assustada, não soube lidar com suas emoções e consequentemente descarregou nele sua frustração interior.

Pense comigo, a responsabilidade de tratar das emoções dos outros é grande, saber driblar as expectativas dos outros e difícil, ainda mais quando nem mesmo você entende as suas.

Foi um desastre.

- Você agiu certo - disse a si mesma e logo gargalhou com desdem. Se ela havia sido certa naquela momento por que sentia que não? Por que se sentia vazia?

Pior! Sentia falta.

Das risadas.

Dos carinhos.

UnforgettableOnde histórias criam vida. Descubra agora